Os deputados do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu anunciaram hoje que vão solicitar uma reunião com o presidente da UEFA para discutir a questão do racismo no futebol, face aos recorrentes incidentes nos estádios, incluindo em Portugal.
A carta dirigida ao presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, promovida pelos eurodeputados Marisa Matias e José Gusmão, vai ser enviada na próxima sexta-feira, e até lá será aberta à subscrição dos demais deputados ao Parlamento Europeu.
Segundo o Bloco de Esquerda (BE), a reunião com Ceferin visa discutir “de que modo podem as instituições europeias, entre as quais o Parlamento Europeu, contribuir para a aplicação da IX Resolução da UEFA”, intitulada ‘Futebol Europeu unido contra o racismo’, surgindo esta iniciativa "na sequência de vários incidentes de manifestações racistas em jogos de futebol em Portugal, incluindo o recente de que foi vítima o jogador Moussa Marega”, do FC Porto, no domingo, em Guimarães.
Em 20 de novembro passado, cerca de 140 eurodeputados – entre os quais os dois do BE - já haviam subscrito uma carta ao presidente da UEFA, promovida pelo Intergrupo Parlamentar do Anti-Racismo e Diversidade, a reclamar medidas concretas do organismo que gere o futebol europeu, tendo Ceferin respondido na semana passada.
Na resposta, apontam os deputados do BE, o presidente da UEFA “afirmou que era necessária a cooperação das instituições públicas nacionais e europeias e que estava disponível para se reunir com os deputados para debater estas questões”, o que motivou os eurodeputados a solicitar então um encontro, dado, no seu entender, serem necessários mais passos para que as medidas saiam do papel para os estádios, já que "o racismo e a discriminação nos campos de futebol continua a existir, como se pôde constatar pelos recentes acontecimentos em Portugal".
“As medidas da UEFA na resolução contra o racismo no futebol são boas, mas em muitos países, como em Portugal, não são pura e simplesmente aplicadas. É, portanto, preciso adotar medidas regulatórias e, se necessário, legislativas, para que essas medidas saiam do papel para os relvados e para as bancadas. Por isso, decidimos solicitar esta reunião à UEFA”, comentou o deputado José Gusmão.
Esta iniciativa surge três dias depois dos incidentes verificados no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, durante o jogo entre Vitória e FC Porto, que o avançado maliano Moussa Marega abandonou após ser alvo de insultos racistas por parte dos adeptos da equipa local.
Vários jogadores de ambas as equipas tentaram demovê-lo, mas Marega, que já alinhou no Vitória e tinha marcado o segundo golo dos ‘azuis e brancos’, mostrou-se irredutível e abandonou mesmo o relvado aos 71 minutos (sendo substituído por Manafá), depois de o jogo ter estado interrompido cerca de cinco minutos.
Fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP) confirmou à Lusa a identificação de várias pessoas suspeitas de dirigirem cânticos e insultos racistas a Marega, sem adiantar o número de suspeitos, acrescentando que continua a efetuar diligências para identificar outros envolvidos.
O Ministério Público instaurou um inquérito na sequência deste incidente, que já mereceu a condenação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, entre outros.
Este comportamento configura um crime previsto no Código Penal punido com prisão de seis meses a cinco anos e uma contraordenação sancionada com coima entre 1.000 e 10.000 euros.
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