Bruno de Carvalho foi até ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, de forma livre, prestar esclarecimentos sobre a invasão a Alcochete. Através do seu advogado, José Preto, Bruno de Carvalho disponibilizou-se hoje para prestar declarações na unidade de terrorismo do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), mas o requerimento foi reencaminhado para o DIAP, no qual decorre o inquérito ao ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, em 15 de maio último.
À saída do Departamento de Investigação e Ação Penal, o ex-presidente do Sporting explicou que acabou por não ser ouvido pelo Procurador nem teve acesso ao processo. Mas explicou que só soube do que ia acontecer esta quinta-feira, apesar de ter ouvido nos 'corredores' que estava a ser preparado um mandado de detenção contra si.
"Vim demonstrar, de forma voluntária, que não é preciso nada, basta dizer que precisam de falar comigo e eu vou. Não tenho visto os jornais, não tive conhecimento absolutamente nenhum a não ser quando me vieram avisar no escritório do que tinha acontecido. Só aí fui para a Academia, só soube do ataque depois de estar a acontecer", disse, explicando que a sua ida ao DIAP não teve nada a ver com a detenção, na passada terça-feira, de Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos no clube de Alvalade.
"Preventivamente foram detidas muitas pessoas no Mundo inteiro. Ninguém me falou de nada ainda, só soube do que ia acontecer hoje. Ontem chegou ao meu conhecimento de que havia um mandado para eu ser inquirido esta sexta-feira. Não tenho medo de nada. Diz-se por aí, nos corredores, que existe um mandado de detenção, é o que se diz. A polícia tem de fazer o seu trabalho e eu faço o meu, que é estar disponível para a justiça", justificou.
O ex-presidente do Sporting estranhou que a imprensa soubesse, antes dele, que o pedido que tinha feito para ser admitido no processo como assistente ia ser indeferido.
"Não consigo compreender como é que a imprensa sabia do indeferimento [do pedido para ser admitido como assistente] na semana passada e nós só soubemos hoje", indagou Bruno de Carvalho, que se mostra disponível para falar.
"Não quero prevenir nada. Quero colaborar em todos os processos, com tudo o que sei sobre os assuntos, com todas as dúvidas que também tenho, com os envolvidos, todos os pormenores", atirou.
Bruno de Carvalho explicou também que a sua ida, de forma livre, ao DIAP, "não tem nada a ver com estratégia, mas sim com personalidade e caráter, educação. Se as pessoas querem informação...", atirou, antes de ser interrompido.
Depois foi a vez do seu advogado, José Preto, prestar declarações aos jornalistas. Explicou que, por agora, não existe qualquer mandado de detenção contra o seu cliente.
"Não estamos a falar de detenção nenhuma. Parem com essas fantasias assassinas, absolutamente irresponsáveis", respondeu, de forma dura, aos jornalistas.
José Preto explicou que o "requerimento que Bruno de Carvalho formulou, através do meu intermédio, era no sentido de se por a disposição da Procuradoria-Geral da República para o que fosse útil. Havia a notícia de que estava em preparação um mandado de detenção, mas que não se confirma", atirou.
"Já vimos que as pessoas são detidas de forma aberrante, nada nos surpreendia... Viemos esclarecer as coisas, deixar as coisas em pratos limpos. Não fui ouvido por ninguém, houve sim um despacho do senhor procurador dizendo que os autos não estavam cá. A intenção era deixar as coisas claras", completou.
Esta iniciativa de Bruno de Carvalho ocorre um dia depois de o funcionário do Sporting Bruno Jacinto ter sido ouvido em primeiro inquérito judicial, no âmbito do mesmo processo, e ter ficado em prisão preventiva.
Detido na terça-feira, Bruno Jacinto, que na altura das ocorrências era oficial de ligação aos adeptos, está indiciado, entre outros, pela prática, em coautoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.
Bruno Jacinto é já o 38.º elemento em prisão preventiva por alegado envolvimento nos incidentes de 15 de maio na academia do Sporting, em Alcochete, em que cerca de 40 alegados adeptos do clube, encapuzados, agrediram alguns jogadores, treinadores e ‘staff'.
Os 38 arguidos que aguardam julgamento em prisão preventiva, entre eles o antigo líder da claque Juventude Leonina Fernando Mendes, são todos suspeitos da prática de diversos crimes, designadamente de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro e dano com violência.
Na sequência do ataque à Academia do Sporting, nove futebolistas rescindiram os contratos com o clube.
Rui Patrício, Rafael Leão, Daniel Podence, Gelson Martins e Ruben Ribeiro saíram em litígio com o Sporting e transferiram-se para outros clubes.
Bas Dost, Bruno Fernandes e Rodrigo Battaglia voltaram atrás na decisão de abandonar o Sporting, enquanto William Carvalho saiu para o Bétis, de Espanha, após acordo do clube espanhol com os 'leões'.
Já no início deste mês, o Tribunal da Relação de Lisboa manteve em prisão preventiva oito dos suspeitos do ataque, revelou a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa.
O Tribunal da Relação de Lisboa ainda tem de pronunciar-se sobre os restantes recursos interpostos pela maioria dos detidos neste processo.
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