Campo da Rua da Rainha, 28 de abril de 1912, cidade Porto. Foi essa a data e foi esse o local do primeiro embate de sempre entre FC Porto e Benfica. Na altura, os azuis e brancos convidaram os encarnados para dois jogos: um primeiro entre as segundas categorias dos dois clubes, que terminou com uma vitória das 'águias' por 1-2, e um segundo, à tarde, entre as equipas principais, que acabou com uma vitória ainda mais clara da turma lisboeta, por 8-2.

Certamente, nenhum dos intervenientes o imaginava, mas aquele era o início de uma rivalidade que marca a história do desporto nacional. Uma rivalidade alimentada por outra, que sempre existiu e que vai muito para além do desporto, entre Norte e Sul, entre as cidades de Lisboa e do Porto, entre a capital e aqueles que por ela se sentem marginalizados e injustiçados. Quando FC Porto e Benfica entram em campo, em jogo está sempre muito mais do que uma mero duelo entre duas equipas.

A nível futebolístico, ainda assim, a rivalidade tardou a crescer. Depois desses embates de 1912, o primeiro jogo oficial entre Benfica e FC Porto só viria a ter lugar em 1931, no Campo do Arnado, em Coimbra. Era a final do Campeonato de Portugal (prova disputada em eliminatórias) e a primeira vez que os dois emblemas discutiam entre si a atribuição de um troféu. Levou a melhor o Benfica, que treinado pelo inglês Arthur John venceu por 3-0 um FC Porto orientado pelo húngaro Joseph Szabo. Seria o primeiro de muitos títulos disputados entre 'águias' e 'dragões' até aos dias de hoje.

Galeria: Assim foram os últimos 20 embates entre Benfica e FC Porto

Em vésperas de mais um embate entre os dois clubes, o SAPO Desporto dá-lhe a conhecer um pouco melhor a história de uma rivalidade que se foi tornando mais acesa com o passar dos anos, à medida que um ia tentando contrariar a hegemonia do outro. Uma rivalidade marcada por altos e baixos no que toca às relações institucionais entre os dois conjuntos, como nos explicou João Nuno Coelho, sociólogo e conhecido comentador desportivo, que há muito se interessou por estudar a perspetiva social e cultural do desporto e do futebol em particular.

As origens e o desenvolver da rivalidade até aos dias de hoje

"Sempre tive curiosidade em compreender a paixão e a popularidade do futebol e comecei por estudar os adeptos do FC Porto. Depois, a minha tese de mestrado versou também sobre a relação entre futebol e nacionalismo e patriotismo", começa por nos enquadrar João Nuno Coelho. "Foi aí que me comecei a interessar pela história do futebol numa perspetiva mais cultural e das rivalidades", prossegue, antes de se debruçar mais concretamente sobre a relação entre FC Porto e Benfica ao longo dos anos.

"No início, as rivalidades no futebol em Portugal eram muito à escala local, porque só existiam os campeonatos regionais. Só em 1921 é que se começa a disputar o Campeonato de Portugal. E é óbvio que a rivalidade nasce da competição, de uma competição em continuidade. O primeiro jogo entre os dois foi então em 1912 e é curioso perceber-se que nessa altura não havia problemas de nenhum tipo em termos de conflito, nem era dada a importância ao resultado que é dada hoje em dia", lembra. "Foi assim durante uns anos, quando os confrontos eram esporádicos", acrescenta o sociólogo e comentador desportivo.

A rivalidade só começou, pois, a ganhar forma quando os embates se tornaram mais frequentes. E as desavenças dentro das quatro linhas começaram também a surgir.

Foi nos anos 1930, quando as equipas se começaram a defrontar mais vezes e quando começaram a aparecer verdadeiramente as multidões nos estádios, que a rivalidade se tornou mais acirrada. "Benfica e FC Porto eram, juntamente com o Sporting e com o Belenenses, as melhores equipas e estavam quase sempre envolvidas em jogos decisivos. Além disso, as imprensas de Lisboa e Porto eram muito agressivas e não tinham problemas em tomar partido pelos clubes das respetivas cidades", destaca João Nuno Coelho.

"Tornou-se rapidamente numa espécie de rastilho, também com o foco a cair muito nessa questão identitária das duas cidades", explica João Nuno Coelho.

Na tal primeira final entre os dois clubes, em 1931, ficou desde logo a perceber-se que as coisas começavam a ser levadas muito a sério, com comboios especiais com adeptos vindos de Lisboa e Porto até Coimbra. "Uma grande transposição do conflito Porto-Lisboa ou Norte-Sul para o futebol. É muito por aí que se justifica muito a forma como esse antagonismo foi crescendo", aponta o sociólogo.

Os exemplos desse antagonismo crescente prosseguiram nos anos seguintes. Em 1933, por exemplo, o FC Porto ganhou por 8-0 ao Benfica nos quartos-de-final do Campeonato de Portugal. Houve castigos, porque os jogadores do Benfica revoltaram-se contra o delegado da Federação e os jornais aqueceram ainda mais a questão. Depois, em 1939, deu-se uma meia-final de um Campeonato de Portugal com um desfecho incrível: o FC Porto ganhou 6-1 em casa, mas o Benfica deu a volta e ganhou 6-0 no seu terreno, com muita polémica à mistura.

"As estruturas eram muito frágeis, os árbitros estavam muito mal preparados - eram tipos gordos que não conseguiam acompanhar o desenrolar das jogadas e cometiam muitos erros - e a imprensa, apesar de muito moralista, crucificava-os por completo. Esse jogo de 1939 deixou feridas enormes de um lado e de outro, porque levou-se as coisas completamente ao extremo", conta João Nuno Coelho.

Tempos distantes, mas que aparentemente não se parecem diferenciar muito dos que vivemos hoje...

Benfica na inauguração das Antas, FC Porto na inauguração da Luz

Ainda assim, e na maior parte do tempo durante largos anos, a rivalidade foi sobretudo sã e sem a animosidade dos dias que correm: sem extremismos e mesmo com convites cordiais para participarem em datas marcantes da história de um e do outro. "Havia alturas em que FC Porto e Benfica cortavam relações, mas havia outras em que se davam melhor e faziam alianças, sobretudo quando o Sporting estava por cima", lembra João Nuno Coelho.

Numa dessas alturas de maior proximidade entre Benfica e FC Porto - coincidência (ou não) em plena era de ouro do Sporting, com a conquista do tetracampeonato por parte dos leões - as 'águias' chegaram mesmo a ser convidadas para a inauguração do novo recinto dos 'dragões', o Estádio das Antas, em 1952. E ganharam por expressivos 8-2 (!!!).

A cortesia foi retribuída dois anos mais tarde, em 1954, com o FC Porto a ser convidado para a inauguração do Estádio da Luz e a desforrar-se, com uma vitória por 3-1.

Travessia no deserto do FC Porto e hegemonia 'encarnada'

A travessia no deserto do FC Porto prosseguiu de forma quase idêntica nas décadas seguintes. Os 'dragões' conquistaram apenas dois títulos de campeão nacional (1955/56 e 1958/59) entre 1941 e 1978, enquanto o Benfica conseguia roubar ao Sporting a tal hegemonia, tornando-se a partir de inícios da década de 1960 no clube mais titulado de Portugal, ao mesmo tempo que ganhava prestígio além-fronteiras.

Taça dos Campeões Europeus 1962
Taça dos Campeões Europeus 1962 A década de 1960 coincidiu com a afirmação do Benfica a nível internacional

Entre 1960 e 1977 (ano em que o FC Porto voltou a sagrar-se campeão), o Benfica conquistou nada mais, nada menos do que 13 campeonatos em 17 possíveis, vencendo também as suas duas Taça dos Campeões Europeus e participando em outras três finais da prova, com jogadores como Eusébio, Coluna, Simões ou José Augusto, entre outros, a brilharem a grande altura.

Dos lados da cidade do Porto vinham muitas críticas, associando esse domínio do Benfica a uma forte ligação dos 'encarnados' ao poder vigente da ditadura do Estado Novo, com os 'dragões' a considerarem-se amplamente prejudicados.

O 'renascer' do FC Porto e o surgimento de Jorge Nuno Pinto da Costa

O cenário mudou em meados da década de 1970 e é impossível dissociar essa mudança de um nome: Jorge Nuno Pinto da Costa. "Durante esses anos o Benfica era o clube mais vitorioso, com o percurso europeu que nós sabemos e a ganhar o campeonato a uma média de três a cada quatro. Até que surgiram Pinto da Costa e Pedroto, com aquela estratégia de contestação e oposição. E isso levou a que as coisas se extremassem muito", lembra João Nuno Coelho.

Efetivamente, a partir daí a rivalidade entre FC Porto e Benfica começou a extremar mais do que nunca, marcada por um clima constante de guerrilha e tensão. Por essa altura, o Benfica somava 22 campeonatos e o FC Porto somente cinco. Atualmente, as 'águias' somam 37 e os 'dragões' estão à beira do 30.º.

Domingos disputa um lance com Hélder num FC Porto-Benfica em 1995
Domingos disputa um lance com Hélder num FC Porto-Benfica em 1995 A rivalidade entre 'dragões' e 'águias' tornou-se bem mais acesa a partir de finais da década de 1980 e inícios da década de 1990

A década de 1980 correspondeu também aos primeiros êxitos internacionais do FC Porto (conquistas da Taça dos Campeões, Taça Intercontinental e Supertaça Europeia) e levou a um esfriar ainda mais acentuado de relações entre 'águias' e 'dragões'. Um esfriar que se arrastou, depois, pelos anos 1990 e pelo novo século, com um FC Porto bem mais dominador e a conquistar um pentacampeonato e um tetracampeonato a nível interno, para além de uma Taça UEFA, uma Liga Europa, uma Liga dos Campeões e outra Taça Intercontinental a nível internacional.

"Essa estratégia de Pinto da Costa e Pedroto levou a que as coisas se extremassem muito. Se olharmos para os títulos dos últimos 40 anos, o FC Porto ganhou 22 e o Benfica 13. E criou-se um ódio. Antes de Pinto da Costa, o grande rival do Benfica era o Sporting. Os portistas viviam muito a história da rivalidade com o Benfica sem serem, digamos assim, retribuídos. Não é por acaso que o único clube que à escala nacional tem um confronto histórico positivo com o Benfica é o FC Porto. Porque o Benfica é de há muitos anos para cá o inimigo de estimação do FC Porto, mas o inverso só passou a ser verdade mais recentemente", ressalva João Nuno Coelho.

A rivalidade passou, pois, a ser sentida de forma mais recíproca de ambos os lados da barricada à medida que o FC Porto se começou a equiparar ao Benfica em termos de palmarés e à medida que a luta pela hegemonia pelo domínio no futebol português passou a ser claramente entre os dois.

Efetivamente, nos últimos 40 anos 'dragões' e 'águias' têm dividido entre si a vasta maioria dos troféus em disputa, ainda que com vantagem clara para os azuis e brancos. Ora vejamos:

Desde 1982, o Benfica conquistou 13 I Ligas, 9 Taças de Portugal, 7 Taças da Liga e 7 Supertaças (36 troféus), enquanto o FC Porto conquistou 22 I Ligas, 13 Taças e 21 Supertaças, às quais juntou ainda 2 Taças Intercontinentais, 2 Taças dos Campeões/Liga dos Campeões, 2 Taças UEFA/Liga Europa e 1 Supertaça europeia (63 troféus).

"Quando o FC Porto joga contra o Benfica, toda a cultura envolvente faz daquilo um momento decisivo da época", diz João Nuno Coelho.

"Isso acabou por criar do lado do FC Porto em relação ao Benfica um antagonismo que penso que não existe em mais nenhuma rivalidade em Portugal. E, com o crescente sucesso do FC Porto, do lado do Benfica começou a surgir a resposta a esse antagonismo", remata.

O palmarés e o histórico de encontros

Mas vamos a números: afinal, quem vence este duelo? Quem ganhou mais embates? Quem marcou mais golos? Quem ergueu mais troféus?

Não é fácil concluir quem leva a melhor...se, por um lado, o Benfica continua a ser o clube nacional com mais títulos internos no futebol (embora a margem tenha vindo a diminuir significativamente), o FC Porto apresenta um palmarés de maior dimensão a nível internacional.

O FC Porto poderá, sábado, selar a conquista do seu 30.º título de campeão nacional. Ficará, ainda assim, a sete de distância do Benfica. Só que a diferença já foi bem mais acentuada: desde 1990, por exemplo, o FC Porto sagrou-se campeão o dobro das vezes do Benfica (18 contra 9).

Taças de Portugal

A história é semelhante no que toca a Taças de Portugal: o FC Porto pode chegar, esta temporada, às 18, mas ficará ainda relativamente longe das 26 do Benfica. Só que a diferença tem-se vindo a reduzir amplamente nos últimos anos. Olhando novamente para a realidade desde 1990, os 'dragões' conquistaram 11 Taças e as 'águias' 5.

Taças da Liga

O mais recente troféu interno do futebol português traz uma realidade bem distinta: o FC Porto continua sem o erguer e o Benfica é (tal como em títulos da I Liga e da Taça de Portugal) o recordista de triunfos (7).

Supertaças

Total de troféus no futebol a nível interno

Feitas as contas, o total de troféus a nível nacional pende a favor do Benfica. A diferença para o FC Porto é, neste momento, antes do fim da temporada de 2021/22, de 9 troféus (isto incluindo também a contabilização do extinto Campeonato de Portugal).

Troféus internacionais no futebol

Olhando 'lá para fora' as contas são outras. O Benfica foi o primeiro a somar troféus internacionais, com as duas vitórias na Taça dos Campeões Europeus no início da década de 1960, mas não mais voltou a festejar títulos além fronteiras e viu-se claramente ultrapassado pelo FC Porto, que desde então soma 7: 2 Taça/Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 1 Liga Europa, 1 Supertaça Europeia, 2 Taças Intercontinentais.

Total absoluto de troféus no futebol

Olhando para o total, juntando títulos internos e externos no futebol, a vantagem é do Benfica, mas apenas por quatro. E o FC Porto pode terminar esta temporada com mais dois (I Liga e Taça de Portugal) e, depois, abrir a temporada seguinte com mais um (Supertaça)...

FC Porto é o único clube nacional com vantagem no confronto direto com o Benfica

A provar o quanto a rivalidade com o Benfica é levada a sério para os lados do Dragão está o facto de os azuis e brancos serem o único clube nacional que tem saldo positivo nos embates com as 'águias': ao todo, 99 vitórias 'azuis e brancas', 88 vitórias 'encarnadas' e 62 empates. Porém, a nível de golos marcados e sofridos, a vantagem é do Benfica: 385 golos, contra 364 do FC Porto.

Considerando os resultados mais recentes, nota-se a prevalência do FC Porto nos últimos tempos. Aliás, foi apenas em 2010 que os 'dragões' inverteram o sentido da balança. Até esse ano o histórico de confrontos pendia a favor do Benfica. Foi o culminar de uma tendência que se vinha acentuando: desde o virar do século, FC Porto e Benfica disputaram 58 jogos entre si, tendo os 'dragões' vencido precisamente metade (29) e perdido apenas 13. Quer isto dizer que até ao final de 2000 o Benfica levava, no total, mais cinco vitórias do que o rival. Agora tem menos 11...

A rivalidade vista por quem a viveu dos dois lados

Numa rivalidade com mais de 100 anos e com tantos momentos marcantes, foram vários os futebolistas que já experimentaram os dois lados da 'barricada'. Para perceber melhor como são vividos os 'Clássicos' entre Benfica e FC Porto de um lado e do outro, o SAPO Desporto ouviu dois dos jogadores que passaram por ambos os clubes.

GALERIA: Recorde alguns jogadores que marcaram com as camisolas de Benfica e FC Porto

Pedro Henriques, atualmente comentador desportivo na Sport TV, não chegou a disputar qualquer jogo pelos 'dragões', mas pertenceu aos quadros do clube azul e branco em 1997/98, já depois de ter vestido a camisola do Benfica durante três temporadas, altura em que disputou três 'Clássicos' com os 'dragões'.

"Penso que as coisas mudaram muito de lá para cá. A rivalidade já existia, mas agudizou-se muito e não no bom sentido. Era uma rivalidade que era em campo, mas o ambiente à volta era diferente e não havia estas máquinas de propaganda nem as redes socais que incendeiam. Havia os protestos de arbitragem, menores do que são hoje, sendo que os erros até eram maiores. Portanto sinto que desde os meus tempos a rivalidade, que já existia, cresceu mas não no bom sentido", começa por apontar Pedro Henriques, que somou duas vitórias e uma derrota nos 'Clássicos' que jogou.

"Mas a ideia que já me ficava nessa altura e aquela com que continuo a ficar em função dos jogos que vou acompanhando de perto em trabalho é que para o FC Porto os jogos com o Benfica são sempre 'de vida ou morte', de tudo ou nada, e para o Benfica tem sempre aquele cariz de importante, mas não determinante para a vida. Diria que o que distingue FC Porto e Benfica neste tipo de jogos é isso e que, nos últimos tempos, isso tem feito muita diferença", assinala.

"Obviamente que era um jogo especial e continuo a acreditar que é o jogo mais especial, tanto de um lado como para o outro. Mas quando estive no FC Porto percebi definitivamente que o Benfica era o adversário predileto, que aqueles eram os jogos que era imperativo ganhar. Era o que sentia quando lá estava e neste momento é o que também vejo", termina.

João Manuel Pinto, por seu lado, jogou 'Clássicos' com as duas camisolas, tendo representado o FC Porto entre 1995 e 2000 e, depois, o Benfica 2001 e 2003 e partilha a mesma opinião de Pedro Henriques.

"Enquanto jogadores tentávamos ficar um pouco alheios à rivalidade, que era mais sentida pelos adeptos, mas era difícil não pensar nisso. A rivalidade existia dentro e fora de campo, por mais respeito que tivéssemos pelos nossos adversários. O nosso foco era sempre defender as nossas cores [...] mas tudo isso, obviamente, transitava para dentro de campo, por mais que tentássemos não pensar nisso", começa por explicar o agora treinador do Moura Atlético Clube.

João Manuel Pinto vestiu duas épocas a camisola do Benfica e cinco a do FC Porto
João Manuel Pinto vestiu duas épocas a camisola do Benfica e cinco a do FC Porto João Manuel Pinto vestiu duas épocas a camisola do Benfica e cinco a do FC Porto

"Sabíamos com quem íamos jogar e logo o início da semana, com tanto mediatismo, tão falado na televisão e jornais. A concentração era enorme e sabíamos que o jogo ia ser muito intenso quer física, quer mentalmente, face à pressão. O fundamental era honrar sempre a camisola, em todos os momentos do jogo", acrescenta.

"Na minha altura, quando estava no FC Porto e íamos jogar ao Estádio da Luz, lembro-que quando íamos no autocarro íamos com uma vontade tremenda. Sabíamos que íamos para uma guerra e a adrenalina era outra. Parecia muitas vezes que só nos faltava uma metralhadora...íamos com tudo. No Benfica era diferente: mais calmo, mais tranquilo, claro com a ambição de querer ganhar, porque era um jogo grande, não tanto pela rivalidade", recorda.

E o antigo defesa central, que disputou quatro 'Clássicos' com a camisola do FC Porto (vencendo dois deles e perdendo outros dois) e dois pelo Benfica (perdendo ambos), tenta encontrar uma justificação para isso: "São clubes diferentes, oriundos de cidades diferentes. O povo mais a norte sempre viveu e ainda vive tudo mais na raça. E isso vê-se mais ou menos em todas as equipas do norte e na agressividade da sua forma de jogar. Mas eram sempre jogos fantásticos, que queríamos sempre estar presentes.

João Manuel Pinto alinhou pelo FC Porto num dos mais emblemáticos triunfos dos 'dragões' no terreno do rival Benfica: a vitória por 5-0 em pleno Estádio da Luz, para a Supertaça, em setembro de 1996. "Lembro-me de defrontar o Valdo, que era um dos jogadores que eu mais admirava no Benfica e a quem tinha pedido um autógrafo anos antes, em criança. E no meio do jogo disse-lhe isso e pedi-lhe para trocarmos de camisola quando o jogo acabasse. No fim do jogo, mesmo apesar do resultado, ele veio ter comigo e trocámos mesmo a camisola. É exemplo que mostra como, mesmo em embate tão intensos, há histórias bonitas. E hoje ainda somos amigos!", salienta.

A prova de que, mesmo no meio de tanta rivalidade, e de uma rivalidade tão acesa como a que opõe FC Porto e Benfica, há espaço para o desportivismo.