O uso inacabado do videoárbitro (VAR) na I Liga 2021/22 tem “nota negativa” do ex-juiz Pedro Henriques, que também critica a “comunicação pelo silêncio” do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

“Embora o VAR tenha de receber uma nota positiva pela sua importância e pelas muitas boas intervenções que faz, eu quero mais. Nessa perspetiva, dou uma nota negativa ao VAR e também ao CA. Não pelas pessoas que lá estão, nem pelo trabalho desenvolvido nos bastidores com os árbitros, mas pela ausência de comunicação e por não estar a aproveitar os meios fantásticos que dispõe para poder comunicar e ajudar a arbitragem”, apontou à agência Lusa o ex-árbitro, de 56 anos, com quase 100 jogos dirigidos na elite.

Aprovado em março de 2016 pelo International Board (IFAB), regulador das regras da modalidade, o sistema tecnológico de recurso a imagens vídeo para ajudar as equipas de arbitragem à distância vigorou pela quinta temporada consecutiva no escalão principal.

“As expectativas estão muito elevadas, mas não têm corrido bem em Portugal. Os dados da época 2020/21 revelam quase 100 decisões revertidas e aceites como boas decisões. Quando forem apresentados os desta época, de certeza teremos mais 30, 40, 50 ou 60 decisões inicialmente erradas, que foram transformadas pelo VAR em situações certas. Agora, há decisões que nos custam a perceber como é que isso não aconteceu”, notou.

Pedro Henriques assume que “grande parte desses erros” têm a ver com quem opera a ferramenta, cujo protocolo prevê auxílio aos árbitros principais na deliberação de quatro situações de jogo: golos, cartões vermelhos, penáltis e troca de identidade disciplinar.

“Por vezes, falta sensibilidade para perceber o que é um contacto faltoso ou um contacto através do qual o jogador tentou tirar partido e se mandou para o chão. Essa carência existe porque aqueles que tantas vezes têm dificuldade em interpretar no campo são os mesmos que têm dificuldade em interpretar o jogo a nível de videoarbitragem”, admitiu.

Afiançando soluções que “matem grande parte da especulação e da discussão”, o antigo juiz da associação de Lisboa “não aceita” que a estratégia comunicacional adotada pelo CA “continue igual” em relação à sua passagem pelo escalão principal, de 2002 a 2010.

“Uma coisa são os erros, outra é a perceção da arbitragem. Se fizéssemos um inquérito, tenho quase a certeza de que 90% das pessoas mostrariam uma perceção negativa da arbitragem portuguesa e do que foi esta época. Porquê? Há falta de comunicação. Se a comunicação fosse feita de forma assertiva, provavelmente essa perceção não era tão negativa. Muitos destes lances que hoje achamos que foi um roubo, isto e aquilo, eram situações tecnicamente fáceis de esclarecer e que ajudavam a compreender”, explicou.

Pedro Henriques apela ao órgão liderado por José Fontelas Gomes que dê explicações técnicas “de forma cíclica”, em vez de “estar a ver a cada fim de semana se há penálti ou fora-de-jogo”, além da divulgação do áudio nos lances deliberados com recurso ao VAR.

“Isso já não depende do IFAB. Por exemplo, nesta questão dos dois centímetros [de fora-de-jogo no golo invalidado ao Benfica na derrota 1-0 frente ao FC Porto, da 33.ª jornada], porque é que não mostram? Está tudo gravado e filmado. Se mostrassem como é que foi realizada a parte técnica de colocação das linhas, desmistificava-se logo. A ideia que vai passando às pessoas é que foi tudo cozinhado ou houve ali bruxarias pelo meio”, atirou.

Se o trabalho da arbitragem lusa é “claramente positivo” além-fronteiras, o comentador televisivo e radiofónico, que iniciou a carreira em 1990/91, mas já não foi a tempo de se tornar internacional, reconhece que internamente “não seja pior do que em outros anos”.

“Na minha geração, diria que os erros e as boas decisões são as mesmas. Estes árbitros estão mais bem preparados, mas acho que estamos outra vez a viver um momento de dificuldade na leitura e gestão do jogo. Aí, estamos claramente piores. É bom relembrar que, quando um árbitro entra neste setor, já tem uma série de características adquiridas ou não em contexto de sociedade. Esta, no meu ponto de vista, está pior”, argumentou.

Pedro Henriques fez menção a estudos recentes lançados pelo Observatório do Futebol (CIES), que colocaram a I Liga portuguesa “na cauda” dos campeonatos europeus, por ser um campeonato em que “mais faltas e punições disciplinares” são assinaladas e “menos tempo útil de jogo apresenta”.

“Há uma falha da nova geração de árbitros na liderança, gestão de recursos humanos e relação com jogadores, e com os dirigentes e técnicos que estão sentados no banco. Há que ter um sorriso ou um apito mais forte quando é preciso, em vez desta gestão, que acho muito errada, com cartões amarelos, faltas, interrupções ou caras feias”, concluiu.

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