Na terça-feira, cerca de 50 pessoas, de cara tapada, alegadamente adeptos ‘leoninos’, invadiram a Academia de Alcochete e, depois de terem percorrido os relvados, chegaram ao balneário da equipa principal, agredindo vários jogadores, entre os quais Bas Dost, Acuña, Rui Patrício, William Carvalho, Battaglia e Misic, o treinador Jorge Jesus e outros membros da equipa técnica.

Na sequência da invasão à Academia ‘leonina’, a GNR deteve 23 suspeitos, apreendeu cinco viaturas ligeiras, vários artigos relacionados com os crimes e recolheu depoimentos de 36 pessoas, entre jogadores, equipa técnica, funcionários e vigilantes ao serviço do clube.

O Ministério Público disse na quarta-feira que os detidos pelas agressões a futebolistas do Sporting são suspeitos de práticas que podem configurar crimes de sequestro, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada e terrorismo, entre outros.

Quisemos saber, na perspetiva de um psicólogo de desporto, habituado a lidar com as preocupações e ansiedades dos atletas, o que vai na cabeça dos jogadores do Sporting, a poucos dias de disputar um importante troféu.

"Vamos matar-vos!", ouviram os jogadores durante as agressões em Alcochete
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"Não é fácil, não é um acontecimento habitual. Poderá haver aqui duas reações. À medida que vamos sabendo mais relatos sobre o que se passou, percebemos que foi uma situação extremamente complicada, com o medo como sentimento dominante, com os jogadores a temerem pela vida e também pelo bem estar das suas famílias. Porém, os jogadores têm funcionado como um grupo, até pelo que pudemos comprovar com a divulgação do comunicado de ontem. Se por um lado há uma influência negativa por ser um acontecimento recente - vai ser difícil até durante o jogo isolar-se do que aconteceu -, por outro lado, creio que a união de grupo saiu ainda mais reforçada, esta vontade de ganhar o troféu e acabar a época da melhor forma vai ter influência no rendimento desportivo.  Todos estão juntos neste sentimento, de tentar que a coisa corra bem em termos desportivos", disse Jorge Silvério em entrevista ao SAPO Desporto.

O psicólogo é licenciado em Psicologia pela Universidade do Porto e pós-graduado em desordens da ansiedade e do humor pelas Universidades de Maastricht e Oxford. Foi o primeiro mestre em Portugal em Psicologia do Desporto, sendo também doutorado nesta área. Atualmente trabalha com a seleção portuguesa de futsal, que se sagrou campeã europeia no passado mês de fevereiro.

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Muito se tem falado sobre a possibilidade de haver mudanças, sejam de localização ou de estrutura, na final da Taça de Portugal, a ser disputada no domingo, às 17 horas, no Estádio do Jamor. Opinião contrária tem o psicólogo.

"Até por aquilo que se viu no dia destes tristes acontecimentos, com a manifestação em Alvalade de apoio aos jogadores, penso que o clima irá ser muito positivo para os jogadores. Isso vai ajudar estes atletas, porque os adeptos têm um papel importante no que toca ao rendimento desportivo. Penso que faz sentido que o jogo se realize no local habitual, à mesma hora. Pensar em alterações não faz sentido. Esta tomada de decisão de não treinar mais na academia também me parece bem, as recordações ainda estão muito frescas", explicou.

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