Bruno Lage, de 44 anos, levou os ‘encarnados’ à conquista do título nacional em 2018/19 e esta época arrebatou a Supertaça, mas, nos últimos 13 jogos, apenas venceu dois, sendo eliminado da Liga Europa e comprometendo a revalidação do cetro.
O treinador natural de Setúbal, com contrato até 30 de junho de 2023, assumiu o cargo, “provisoriamente”, em 03 de janeiro de 2019, substituindo Rui Vitória, numa altura em que o Benfica era quarto na I Liga, a sete pontos da liderança.
No total, Bruno Lage somou 51 vitórias, 12 empates e 13 derrotas (181-76 em golos), em 76 jogos.
O percurso de Lage no Benfica
"Bruno Lage é o treinador do Benfica, o treinador ideal para o projeto que temos", estas afirmações de Luís Filipe Vieira em entrevista no passado 1 de junho, demonstram bem o que é a volatilidade no futebol.
O líder do Benfica abordava o futuro, antes do regresso do campeonato após uma paragem de três meses que tem sido uma autêntico desastre para o conjunto encarnado.
O técnico sadino pode estar assim de saída depois um ano e meio no comando técnico do Benfica.
O início promissor no comando técnico do Benfica
Assumiu o cargo de interino (3 de janeiro de 2019) depois da saída de Rui Vitória, antes de passar a principal 2020 também tinha virado de feição para o técnico português.
O primeiro ano enquanto técnico do Benfica foi marcado pelo regozijo e pela festa. Lage foi o mesmo o timoneiro mais rápido da águias a atingir 100 pontos na Liga, entre a segunda metade de 2018/19, até 2019/20. Até 10 de janeiro desde ano, só tinha perdido quatro pontos desde que tinha assumido o comando técnico das águias.
Iniciou o percurso com sete pontos de desvantagem em relação ao FC Porto, mas acabou por ter um início sensacional ao ganhar 18 dos 19 jogos que disputou somando apenas um empate frente ao Belenenses SAD. Realizou a melhor segunda volta da história do campeonato, batendo o recorde de Rui Vitória. Em pouco menos de cinco meses festejava o título de campeão pelo Benfica.
No total, no que restou de 2018/19, a equipa marcou uma média de 3,8 golos, num total de 72 golos em 19 jogos.
O Lage 'effect' que despertou o Benfica para o 37
Foi chegar, ver e vencer. Quase 15 anos depois de ter chegado à Luz pela primeira vez como treinador da formação, Bruno Lage foi o nome escolhido para orientar a equipa principal do Benfica (começou como interino para depois ser oficializado a título definitivo) na sequência da saída de Rui Vitória, nos primeiros dias de 2018. A missão adivinhava-se hercúlea: volvidas 15 jornadas, os 'encarnados' estavam em quarto lugar, a sete pontos do FC Porto, a dois do Sporting e a um do SC Braga. A ausência de experiência numa equipa 'grande' também não era motivo de preocupação.
"Jogo a jogo, treino a treino. É a minha mentalidade, não há outra maneira de estar nesta profissão. Não vale a pena pensar de outra forma. Eu, sem o tal currículo que vocês querem que o treinador o Benfica tenha, sem o tal estatuto que vocês querem que o treinador o Benfica tenha. Vivo é dos resultados. Vejam o treinador do Leicester [Claudio Ranieri] que foi campeão e na segunda época saiu, vejam o treinador do Real Madrid [Julen Lopetegui] que só fez três meses. O currículo ou estatuto não conta mas sim o dia-a-dia, o treino, é assim que se faz o caminho do treinador", disse o técnico a 14 de janeiro.
E assim foi. Jogo a jogo, o treinador setubalense foi deixando a sua marca no Benfica e não foi preciso muito tempo para que os resultados acompanhassem este efeito Lage: os 'encarnados' nunca mais perderam para o campeonato - 18 vitórias e apenas um empate (2-2 diante do Belenenses SAD), enquanto os adversários diretos foram tropeçando pelo caminho - destaque para o triunfo das 'águias' em Alvalade e no Dragão, este último a permitir a subida à liderança do campeonato, na 24.ª jornada. A isto juntou um impressionante registo de 103 golos marcados, igualando o melhor registo ofensivo da história do clube na Primeira Liga. E a época que, à data, parecia perdida virou 'conto de fadas', culminando na tão desejada reconquista.
Na estreia de Lage, o Benfica ainda tremeu - estando a perder por 2-0 na Luz com o Rio Ave antes dos 20 minutos - mas acabou por vencer confortavelmente os vilacondenses por 4-2. E já aqui se notavam algumas mudanças. João Félix e Seferovic, que bisaram na partida, deram início a uma fase de enorme fulgor enquanto dupla de ataque preferencial de Bruno Lage: o jovem português tornou-se no novo menino bonito da Luz - 15 golos na I Liga - enquanto o internacional helvético afirmou-se como um goleador inesperado na ausência de Jonas, terminando mesmo como melhor marcador da prova, com 23 golos.
'Furacão' Benfica para a história
Ao final da primeira volta, tudo indicava que o Benfica ia continuar a passear classe rumo ao bicampeonato. Os 'encarnados' até nem começaram bem, ao perderem com o FC Porto em casa na 3.ª jornada mas depois partiram para um vendaval de 16 vitórias seguidas até terminara a primeira volta com sete pontos de vantagem sobre o FC Porto, o segundo colocado. Era melhor primeira volta de sempre num campeonato a 18 equipas.
A equipa de Bruno Lage bateu mesmo a recorde de vitórias fora de casa na liga portuguesa, ao somar 17 consecutivas (entre a época passada e esta), quebrando o recorde que pertencia a Rui Vitória e que vinha desde 2016/2017. Além disso, o Benfica bateu o recorde de pontos na primeira volta, desde que a vitória vale três pontos, superando o registo máximo fixado pelo FC Porto (47) de António Oliveira em 1996/97: foram 48 pontos em 51 possíveis para os 'encarnados'.
Um registo um pouco na linha do que aconteceu na segunda volta da época passada, quando Bruno Lage tomou conta da equipa. Apesar de ter perdido um pouco a vertigem atacante e de não golear com tanta frequência como fez na segunda metade da época 2018/2019, os 'encarnados' foram somando vitórias, como as alcançadas em Alvalade no final da primeira volta, e ainda o triunfo em casa do SC Braga.
Clássicos com sotaque do Norte
O FC Porto, que arrancou com uma derrota forasteira frente ao Gil Vicente, foi à Luz vencer na 3.ª jornada, mas os empates com Marítimo (1-1) e Belenenses SAD (1-1) deixou a equipa de Conceição mais longe do primeiro posto. A derrota caseira frente ao SC Braga no fecho da primeira volta, levantou sérias dúvidas sobre a capacidade da equipa em reagir, uma vez que estava a sete pontos do líder Benfica.
Mas, nos jogos grandes, a equipa de Sérgio Conceição tem emergido, mostrando que é preciso contar com ela. Para já, soma por vitórias os três jogos com os rivais Benfica e Sporting, depois de ter vencido o Sporting em Alvalade e o Benfica também no Dragão. A estes triunfos, soma-se a vitória na Pedreira frente ao SC Braga.
E 2020 tudo mudou
Quando parecia que o Benfica ia embalado rumo ao bicampeonato, 2020 colocou um travão nas aspirações das 'águias'. Os sete pontos de vantagem 'esfumaram-se' num instante: de uma liderança confortável, a equipa de Bruno Lage passou a correr atrás.
Tudo começou com nova derrota frente ao FC Porto no Dragão, na 20.ª jornada da prova. Os 'encarnados' continuavam na frente mas ficavam em desvantagem para o rival no confronto direto e viam a liderança presa por quatro pontos. A derrota na ronda seguinte, em casa, na receção ao SC Braga, fez soar os alarmes na Luz, mesmo com a equipa na frente da Liga, por um ponto.
A equipa de Bruno Lage sofreu para manter o primeiro lugar na ronda seguinte, frente ao Gil Vicente e viu-se afastada da Liga Europa frente ao Shakhtar Donetsk no mesmo período. Nas duas jornadas seguintes da Liga, os empates com o Moreirense em casa e Vitória de Setúbal fora deixavam o Benfica a depender de terceiros para ser campeão. O FC Porto saltara para a liderança na 23.ª jornada com um ponto de vantagem mas também viria a escorregar na ronda seguinte, ao empatar com o Rio Ave em casa, na mesma jornada em que o Benfica empatou frente aos sadinos.
O regresso após a pandemia nada trouxe de bom ao Benfica
Com o país de portas à chave, com início da pandemia do COVID-19, o futebol também parou três meses antes do regresso da Liga no início de março.
Mas o regresso do futebol, não coincidiu com o regresso dos bons resultados paraas bandas da Luz. O antigo técnico da equipa B somou só um triunfo nos primeiros quatro embates das águias após a paragem provocada pela pandemia ocorrida no dia 12 de março: Empate (0-0) com o Tondela na Luz; Empate em Portimão (2-2); Vitória sobre o Rio Ave (1-2) e derrota frente ao Santa Clara em casa (3-4).
O último desaire permitiu ao FC Porto saltar para a liderança do campeonato, que em termos práticos são quatro, dada a vantagem no confronto direto.
Os encarnados somaram cinco jogos sem vencer na Luz, algo que nunca tinha acontecido em 117 anos.
Agora uma derrota no Estádio dos Barreiros, frente ao Marítimo por 2-0 pareceu ser a gota de água para as 'águias'. Luís Filipe Vieira atirou a toalha ao chão e considerou ser o único responsável.
O presidente encarnado deu ainda conta que Bruno Lage colocou o seu lugar à disposição, não por não achar que não tem qualidade, mas porque "parece que toda a gente quer que eu me vá embora do Benfica".
Vida difícil para o Benfica para recuperar desvantagem para o FC Porto
Só por uma vez um líder deixou escapar uma desvantagem de três pontos para os da frente desde que o campeonato se disputa a três pontos. Aconteceu em 2013/2014, quando Jorge Jesus 'ajoelhou' perante o golo de Kelvin que permitiu ao FC Porto destronar os encarnados da liderança da classificação geral.
O fim da linha para Lage
O percurso ascendente de Lage parecia antever que o técnico poderia ser a peça fundamental na engrenagem do Benfica durante vários anos. Depois de uma primeira metade de 2018/19 muito boa, em que conquistou o título, 19/20 significou uma saída sem brilho.
O técnico sadino deixa a Luz depois de somar um conjunto de resultados muito negativos, que fizeram esquecer em parte, a primeira parte do seu percurso ao serviço das águias. Os resultados colocaram em causa a revalidação do título, a seis jogos do final.
Mas os números também são sinais claros de uma equipa intranquila e que perdeu a dinâmica inicialmente implementada pelo técnico. Foram sete golos averbados em quatro jogo. Cinco dos quais através de bola parada: Quatro cantos e um penalti.
O ataque aos jornalistas que caiu mal no seio do Benfica
A suspeição do técnico sobre os alegados almoços, jantares e viagens pagas por treinadores a jornalistas caiu mal na estrutura do Benfica.
Na terça-feira, em conferência de imprensa, após a derrota do Benfica com o Santa Clara (4-3), para a I Liga, no Estádio da Luz, Bruno Lage foi questionado sobre uma eventual demissão do cargo de treinador dos ‘encarnados', acabando por lançar suspeitas sobre a idoneidade dos jornalistas e acusando-os de cederem a "almoços, jantares e viagens".
O próprio sindicato dos jornalistas reagiu às palavras do técnico do Benfica e pediu provas.
"Bruno Lage acusou os jornalistas de alegados jogos de influência a troco de refeições e viagens. Perante a gravidade das acusações feitas, o SJ solicita ao treinador que apresente as provas que sustentam as suas suspeitas, que são graves e põem em xeque toda uma classe profissional", escreve o Sindicato.
A sombra de Jesus
Desde que assumiu o comando técnico do Benfica, que a sombra de Jorge Jesus tem sido incómoda para o técnico do Benfica. Jorge Jesus e Vieira nunca esconderam a relação de amizade que os une, fortificada depois do técnico ter deixado o Sporting e rumado ao Brasil para orientar o Flamengo. O técnico luso marca neste momento a agenda mediática, devido também ao prestígio que alcançou no emblema do Rio onde alcançou o sucesso a nível local e internacional. Também o percurso do Jesus no Benfica é algo que não pode ser ignorado. Como treinador do clube da Luz conquistou três ligas portuguesas, 1 Taça de Portugal, 6 Taças da Liga e duas Supertaças Cândido de Oliveira.
Jesus é sempre um nome em cima da mesa, mas as razões financeiras e contratuais podem impedir o técnico natural da Amadora de regressar ao estádio da Luz. JJ renovou recentemente pelo Flamengo e por isso a atual situação do treinador português pode ser um entrave à contratação, tendo em conta que o Benfica teria de 'segurar' Lage ou arranjar um substituto até ao final da temporada. Além disso, os encarnados tinham ainda de chegar a acordo com o Flamengo, clube com o qual Jorge Jesus renovou contrato recentemente.
Opção mais viável, a de Marco Silva
Marco Silva está na linha da frente pelo cargo de treinador do Benfica. O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, terá já começado as conversações com o empresário de Marco Silva, Carlos Gonçalves, e o antigo técnico do Sporting pode rumar à Luz assim que seja acertada a saída de Lage.
Recorde-se que Marco Silva está sem treinar desde que deixou o Everton em dezembro. O técnico orientou o Estoril, Sporting. No estrangeiro orientou o Olympiacos, Hull City, Watford e Everton.
*Artigo originalmente publicado a 29 de Junho de 2020 às 21:55
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