A cinco jornadas do fim, fazem-se contas, muitas contas, mais do que nunca. E o engraçado no futebol, especialmente na reta final dos campeonatos, é que a alegria ou a aflição não escolhem patamares. Por outras palavras, e em jeito de pergunta, pode um campeão sentir a mesma alegria de um sobrevivente da despromoção? Muito provavelmente, sim. Ou então, no outro extremo, pode um quase campeão sofrer o mesmo que uma equipa despromovida? Provavelmente, a resposta também será afirmativa.
E aqui estamos, com 15 pontos para ganhar ou perder até ao último suspiro. Frente a frente, lá está, um (ainda) candidato ao título, pelo menos matematicamente, e um candidato a descer, apesar do 10.º lugar na tabela. Benfica e Farense encontram-se, por isso, no fio da navalha. Uma expressão feliz para retratar a circunstância em que ambas as equipas se encontram, apesar dos objetivos francamente opostos.
De um lado o Benfica, que chega ao São Luís após uma desoladora eliminação europeia. Do outro o Farense, que recebe as águias depois de um empate na última jornada.
Esta segunda-feira, às 20h15, no São Luís, há muito em jogo. Muito mais do que o próprio jogo. E se José Mota não tem razões para, nesta altura, estar intranquilo quanto à sua continuidade, o mesmo não poderá dizer Roger Schmidt, a caminhar sobre brasas os últimos metros desta longa maratona chamada I Liga.
Benfica
Na ressaca da eliminação europeia diante do Marselha, o Benfica chega a Faro sem tempo para grandes lamentações. O Sporting já venceu, está agora a 10 pontos, e uma derrota pode ajudar a antecipar os festejos do título do outro lado da 2.ª circular.
Não só, mas também por isso, as águias terão diante dos leões de Faro uma missão hercúlea, num estádio tradicionalmente exigente e diante de uma equipa que, à semelhança dos encarnados, precisa urgentemente de pontuar para poder respirar melhor.
À margem da necessidade matematicamente de vencer, há outra perspetiva a ter em conta e que pode ter uma influência no que falta jogar esta época: Roger Schmidt. Fortemente criticado após o afastamento da Liga Europa, depois de ter mexido na equipa três vezes com seis substituições possíveis até ao fim do prolongamento, o técnico alemão tem às costas o peso de uma massa associativa cansada e sobretudo sem grande paciência para as suas opções. Ou seja, parece fácil imaginar o que significaria uma escorregadela dos encarnados no Algarve. E se nós sabemos, Schmidt saberá, certamente, ainda melhor. Depois de ter feito uma revolução no onze diante do Moreirense - elogiada, porque deu frutos - o estado de graça do técnico durou pouco.
Há, também por isso, a expetativa para perceber se no regresso ao campeonato haverá novamente uma aposta nas segundas linhas ou se Schmidt decide manter as escolhas habituais para o embate com o Farense, adversário que na primeira volta empatou de forma surpreendente na Luz (1-1).
Farense
À primeira vista, e sem uma análise mais aprofundada, o 10.º lugar ocupado pelo Farense pode sugerir uma posição tranquila na tabela. Mas um olhar mais atento permite perceber que o cenário está longe de ser pacífico. É certo que a situação do emblema algarvio não é, de todo, semelhante à do Chaves, Vizela ou Portimonense, mas seria ingénuo pensar-se que um lugar a meio da tabela dá algum conforto a cinco jornadas do fim. Porque não dá.
À 30.ª jornada, o Farense soma 31 pontos, mais 3 do que o Portimonense (que tem mais um jogo), em lugar de play-off, mais 8 do que o Chaves e mais 10 do que o Vizela (ambos com mais um jogo). Para além dos algarvios, também o Rio Ave (11.º) e o Gil Vicente (12.º) somam 31 pontos, embora com mais um jogo disputado.
Que a descida direta está praticamente afastada, parece uma mera formalidade por confirmar quando faltam 15 pontos por disputar, mas o lugar de play-off não está assim tão distante (3 pontos). Por isso, a equipa de Faro sabe que uma derrota em casa diante do Benfica pode trazer complicações e dúvidas sobre o desfecho final do campeonato.
Quatro meses depois do jogo da 1.ª volta, os algarvios deverão apresentar um onze bastante diferente do que entrou de início na Luz. Mattheus Oliveira e Bruno Duarte estão indisponíveis, ambos por suspensão devido a acumulação de cartões amarelos. Depois, olhando para as escolhas iniciais das últimas partidas, são também previsíveis as ausências no onze de Zach Muscat, Talocha e Vítor Gonçalves, todos eles titulares a 8 de dezembro.
Assim, perspetivam-se cinco alterações esta segunda-feira - quase meia equipa – relativamente ao onze escolhido por José Mota no jogo em Lisboa.
Histórico de confrontos
Ao todo, Benfica e Farense encontraram-se em 54 ocasiões, 49 delas para a Liga Portuguesa. O histórico é amplamente favorável às águias. Analisando exclusivamente os jogos do campeonato, os encarnados somam 32 vitórias e apenas 6 derrotas.
O último encontro em Faro aconteceu na época 20/21, para o campeonato. À 20.ª jornada, o jogo terminou empatado a zero. Na mesma temporada, mas na primeira volta, o Benfica penou para vencer em casa. 3-2 foi o resultado final à 3.ª ronda da Liga. Um campeonato que acabaria por ser conquistado pelo Sporting, 19 anos depois.
O Benfica é, dos três grandes, aquele a quem o Farense roubou mais pontos no São Luís – cinco vitórias e oito empates, contra cinco vitórias e seis empates com Sporting e três vitórias e cinco empates diante do FC Porto. Porém, o último triunfo frente às águias remonta a 21 de setembro de 1998, com o marroquino Hassan a marcar o único golo.
Na Luz, na primeira volta, o Farense surpreendeu com um empate a uma bola. Os leões de Faro até chegaram a estar em vantagem com um golo de Cláudio Falcão aos 51 minutos, mas Rafa Silva estabeleceu o empate pouco depois. Serve de aviso para o que se espera ser uma deslocação escaldante ao São Luís, um estádio pouco simpático para o Benfica nos últimos anos.
O que disseram os treinadores
Roger Schmidt: "Claro que ficámos desiludidos. O objetivo era avançar para as meias-finais. Queríamos fazer algo especial na Liga Europa. Mas claro que o jogo terminou com os penáltis e os jogadores necessitaram de dois dias para lidar com a situação. O nosso objetivo é olhar para a frente, estar focado no jogo de amanhã e demonstrar a nossa atitude em campo. Isso é o mais importante. Aceitar o resultado o jogo de quinta-feira com o Marselha e manter o foco no próximo jogo com o Farense. Acabar o campeonato ao melhor nível. O meu sentimento é que os jogadores já se sentem preparados para jogar contra o Farense."
José Mota: "Todos os que vão ser chamados vão corresponder com toda a vontade e determinação, e tentar fazer um bom jogo no sentido coletivo. A nossa equipa vale exatamente pelo seu coletivo e forma de estar. (…) Vamos estar preparados não só para tentar anular o poderio do Benfica, mas também fazer com que as nossas individualidades e, fundamentalmente, o nosso coletivo venha ao de cima."
Gustavo Correia, árbitro da AF Porto, foi nomeado pelo Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol para apitar o encontro.
O juiz vai ter Inácio Pereira e Luís Costa como assistentes e Márcio Torres no papel de quarto árbitro. O videoárbitro (VAR) será André Narciso, e o assistente (AVAR) Vasco Marques.
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