Desde o dia 27 de abril de 2024 que têm ocorrido muitas mudanças no FC Porto. Primeiramente, pela mudança de presidente do clube e da SAD. André Villas-Boas é agora quem assume esse cargo após vencer nas últimas eleições a Jorge Nuno Pinto da Costa.

A nova presidência trouxe também uma nova estrutura, também nova para o departamento do futebol. Andoni Zubizarreta é agora o Diretor Desportivo e Jorge Costa o Diretor do Futebol das equipas A, B e Sub-19.

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Toda esta mudança não poderia terminar sem a escolha de um novo treinador para o futebol sénior do FC Porto. O escolhido foi Vítor Bruno, até então treinador-adjunto de Sérgio Conceição. Um homem bem conhecido e conhecedor do clube, contudo uma total incógnita relativamente às suas ideias enquanto treinador principal (esta é a sua primeira experiência).

Vítor Bruno e a sua equipa técnica herdam um plantel que até à data apenas perdeu Pepe (terminou a carreira) e Mehdi Taremi (mudou-se para o Inter de Milão), e não teve qualquer entrada de reforços.

Existe um destaque para o retorno de três dos quatro preteridos por Sérgio Conceição na época anterior (André Franco, Toni Martínez e Iván Jaime), e pela chamada de sete jogadores da formação (Gonçalo Ribeiro, Diogo Fernandes, Gabriel Brás, Martim Cunha, Vasco Sousa, Rodrigo Mora e Gonçalo Sousa), mais Martim Fernandes que apesar de já ter feito alguns jogos na época transata, parece desta vez ser uma aposta efetiva por parte do técnico azul e branco. David Carmo e Fran Navarro também regressam ao plantel após terem estado emprestados ao Olympiakos da Grécia.

A ideia de jogo

Esta é/era a primeira grande dúvida que se colocava em relação a Vítor Bruno: quais as suas ideias para este FC Porto? Durante a pré-temporada e na Supertaça, a opção recaiu pelo sistema 1x4x2x3x1. Em organização ofensiva, o FC Porto tem optado por privilegiar o corredor central como forma de progressão vertical no campo, seja em passe ou condução por parte dos seus jogadores. A 1.ª fase de construção é um processo bem trabalhado, com paciência, mas também bastante risco. A ideia passa por utilizar os quatro defesas, mais os dois médios-centro, tendo o guarda-redes um papel muito ativo também.

A ideia passa por tentar ligar com os médios centro, fazendo com que o recetor da bola fique o mais livre possível e com isso consiga progredir no campo. Outro ponto deste momento, é a tentativa de ligação, principalmente por parte dos defesas centrais, com o médio ofensivo ou avançado centro no espaço entrelinhas após atração da linha média adversária por parte dos médios centro.

Jogos recentes FC Porto

Na 2.ª fase de construção e na criação existe uma tentativa de colocar vários jogadores no corredor central, e aqui as características dos extremos apresenta muita influência na forma de jogar da equipa. Extremos como Gonçalo Borges e Galeno procuram zonas mais abertas no campo, bem como ataques à profundidade, ao invés de Iván Jaime que prefere associar-se de forma mais curta com os médios e ocupa zonas mais interiores.

Este tipo de movimentações interfere com os espaços que os defesas laterais atacam neste momento. Na chegada à área, o médio ofensivo junta-se ao avançado centro bem como o extremo oposto. Outro jogador que se envolve muito em zonas avançadas é um dos médios centro, que tenta desestabilizar um pouco as marcações aos homens avançados por parte da equipa adversária.

Em organização defensiva, o FC Porto posiciona-se num 1x4x4x2 (com o médio ofensivo a juntar-se ao avançado centro) e já se posicionou em bloco alto fazendo com isso uma pressão muito alta e agressiva (algo que ia resultando contra o Sporting CP na Supertaça), ou então num bloco médio/alto começando a induzir o adversário para zonas exteriores (com os extremos a posicionarem-se um pouco mais próximos dos médios centro), e quando entram em corredor lateral ativam a pressão, ou quando a bola é jogada para trás, essa pressão é também ativada e a equipa avança em bloco.

Independentemente do posicionamento do bloco, o FC Porto tenta sempre manter as três linhas dentro de três corredores de relva, ou seja, um bloco bem compacto, a rondar os 25/30 metros.

Até ao momento ainda não foi possível observar muito no que toca a bolas paradas ofensivas, contudo, as bolas paradas defensivas têm sido um autêntico quebra-cabeças para a equipa, principalmente os cantos defensivos. Algo que se materializou em golo sofrido na Supertaça.

O plantel

Guarda-redes

Após o término da pré-época, e já com um jogo oficial realizado, existem já algumas ideias relativamente ao plantel que parecem estar cimentadas, enquanto outras ainda levantam algumas questões.

Começando pela baliza, Diogo Costa continuará a ser o titular, tendo assumido também a braçadeira de capitão com a saída de Pepe. Cláudio Ramos, que também utilizou a braçadeira durante os jogos particulares, parece ter subido ao leque de capitães do clube, continuará a ser o suplente direto da baliza, enquanto Samuel Portugal continuará na mesma posição hierárquica que nos anos anteriores.

Já Gonçalo Ribeiro e Diogo Fernandes parecem integrar os treinos e plantel da equipa A, dando continuidade ao seu trabalho e ganhando experiência através de jogos na equipa B (equipa que disputará a 2ª Liga).

Defesa

Na linha defensiva começam a surgir as primeiras incógnitas relativamente a quem jogará mais, e se entrará ou não (as contingências financeiras do clube têm um grande peso neste momento) mais alguma alternativa ao plantel atual. Na direita João Mário e Martim Fernandes parecem ser os homens que lutarão pelo lugar, contudo, e devido à lesão de Zaidu (que teve uma rotura total do ligamento cruzado anterior e do ligamento lateral externo do joelho esquerdo em fevereiro de 2024) e da presença de Wendel na Copa América, fizeram Martim Fernandes derivar para a esquerda, onde iniciou o jogo da Supertaça frente ao Sporting CP.

Uma solução que Vítor Bruno encontrou no plantel, e que veremos se será ou não para continuar (talvez a contratação de um defesa esquerdo pudesse fazer sentido, apesar de existirem outras posições de ordem prioritária). No centro da defesa, Zé Pedro parece ter ganho (para já) a corrida a Fábio Cardoso e Gabriel Brás pela titularidade como defesa central direito. O jogador terminou bem a época passada, tendo sido uma das agradáveis surpresas do campeonato.

Como defesa central esquerdo a disputa é feita por Otávio e David Carmo (visto que Marcano ainda continua a recuperar de uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito em setembro de 2023). No jogo da Supertaça Otávio foi escolhido para iniciar o jogo, contudo parece ainda ser um lugar em aberto.

A posição de defesa central é aquela que parece ser mais urgente ser reforçada por parte do FC Porto, e o clube parece concordar com isso, pois temos assistido a uma panóplia de notícias que ligam o FC Porto a alguns defesas centrais, que caso algum negócio se concretize, será para assumir uma posição de titular no plantel.

Meio-campo

O meio-campo traz também algumas novidades. Alan Varela parece continuar como indiscutível (outro jogador que subiu na hierarquia do balneário, sendo agora um dos capitães da equipa), e, até agora, Marko Grujic tem sido o seu companheiro mais utilizado.

Contudo, Stephen Eustáquio apresentou-se mais tarde para esta época por ter representado o Canadá na Copa América (e foi suplente utilizado na Supertaça, entrando precisamente para o lugar de Grujic), Vasco Sousa ainda se encontra a entrar na ideia da equipa principal, Romário Baró não parece que terá muitas oportunidades pois não tem aparecido muito nos jogos televisionados e na Supertaça não foi convocado.

Outros dois pontos que parecem ter levado Grujic a jogar de início foi a vertente estratégica, principalmente na questão das bolas paradas, e porque Nico González tem atuado como médio ofensivo (com um rendimento muito interessante, quer no capítulo ofensivo, que tem chegado a zonas de finalização com muita facilidade e contribuindo com golos, quer no capítulo defensivo, pois é um dos primeiros homens a exercer pressão e tem recuperado algumas bolas ainda em campo adversário) o que tem levantado questões acerca do seu posicionamento para o resto da época (que todos sabemos não ser necessariamente estanque, mas importante na formação de um plantel e de uma ideia).

Outros jogadores que o FC Porto tem à sua disposição para esta posição são o regressado André Franco (que pode também jogar como médio centro), Vasco Sousa que entrou precisamente para esta posição na Supertaça, e destacou-se. E ainda Rodrigo Mora, que tem tido minutos nos jogos particulares, tem feito golos, e a quem Vítor Bruno deverá dar alguns minutos durante a época, contudo não será de estranhar que jogue várias vezes pela equipa B para que não perca ritmo de jogo e continue a sua evolução em jogo.

No setor ofensivo é onde residem maior parte das dúvidas, quer relativamente a permanência no plantel, quer a quem ocupará as posições. Do lado direito, Gonçalo Borges (jogador que acabou de rejeitar sair do FC Porto para lutar por um lugar na equipa titular) tem-se destacado com golos e assistências, e com algumas intervenções individuais muito interessantes e, com isso, aproveitado bem a ausência da sua concorrência.

Que passará por Francisco Conceição (que esteve no Euro 2024 por Portugal), cuja permanência no plantel ainda é uma dúvida visto estar intrinsecamente ligado ao 'divórcio' menos simpático de Sérgio Conceição e Vítor Bruno (por ser filho do primeiro). Do lado esquerdo, Galeno voltou a demonstrar a sua preponderância no FC Porto ao marcar dois golos na Supertaça frente ao Sporting CP, mas, ao que tudo indica, apenas faltará ultimar o acordo entre FC Porto e Juventus para que saia do clube.

De momento Pepê (pode ser também uma solução para o corredor direito, como para ser o médio ofensivo da equipa), que se apresentou mais tarde por ter estado na Copa América, parece poder ser o seu sucessor, contudo Iván Jaime tem tido exibições interessantes nesta posição, sendo um jogador completamente oposto ao estilo de Galeno.

Gonçalo Sousa, que foi suplente na Supertaça, poderá contar com algumas oportunidades, contudo deverá ter um percurso semelhante ao de Rodrigo Mora durante esta época. Na frente de ataque o FC Porto parece apresentar um excesso de jogadores para quem tem apresentado um só avançado centro (poderá acontecer usar mais durante a época, mas a falta de conhecimento que existe acerca de Vítor Bruno não permite outras conclusões).

Evanilson que não fez a pré-época por ter estado na Copa América, tem tudo para continuar a ser o titular do FC Porto, contudo a aposta tem caído em Danny Namaso que, apesar de ter pouco golo, dá a Vítor Bruno soluções ofensivas, quer de passe, quer de movimentação que parecem encaixar na sua ideia de jogo.

Já Fran Navarro e Toni Martínez parecem continuar com o estatuto de suplentes, mas que podem acrescentar coisas que nenhum dos outros dois colegas conseguem acrescentar, como a capacidade de ser mais 'homem de área' e mais fixos no centro do ataque.

Como tal, ainda existem algumas dúvidas sobre quem poderá ocupar que posição, quem jogará mais vezes, quem poderá sair e entrar do plantel e ainda, quem serão os jogadores da formação que estarão em maior destaque ao longo da época. Martim Fernandes e Vasco Sousa parecerem partir um pouco à frente das restantes colegas.

As competições

O FC Porto nunca poderá ser descartado de nenhuma competição em que participe, e a verdadeira demonstração foi a Supertaça, que ganhou por 4-3 após estar a perder por 3-0. Portanto, numa competição possível de vencer, o FC Porto venceu-a.

No campeonato existem reais aspirações de poder ser campeão, contudo sabemos de antemão que os seus adversários estão fortes, reforçaram-se também e que esta maratona tem sempre surpresas e percalços pelo caminho. E quem estiver melhor preparado para eles sagrar-se-á campeão nacional.

A Taça de Portugal tem sido uma competição muito especial para o clube, tendo vencido as suas últimas três edições, portanto é possível esperar que exista uma vontade enorme de a reter no seu museu. Já a Taça da Liga, tendo um novo molde (novamente), poderá ser mais um troféu a ambicionar, até porque é o próximo a ser entregue o que lhe dá alguma importância, até para o futuro do campeonato.

Este ano, e fora do que tem sido normal, o FC Porto competirá na Liga Europa. De ano para ano, a dificuldade para uma equipa portuguesa a vencer tem aumentado, e aspirar a chegar às últimas eliminatórias tem sido a realidade nacional, e a demonstração de um excelente trabalho. Contudo este ano, a não 'descida' de equipas da Liga dos Campeões pode ajudar a sonhar um pouco com a sua conquista.

O FC Porto, ao contrário do que se pode pensar, não estará arredado de nenhum título, nem encarará esta época como um ano ou o ano de transição. Todas as intervenções públicas do seu presidente, treinador e jogadores é de que existe ambição de conseguir títulos e de continuar a somar troféus ao museu azul e branco. Do outro lado estarão adversários com as mesmas ambições. Vamos ver o que nos reservará o futuro!