"Fomos ver o mar. Está tudo tranquilo", disse Bruno Lage, treinador do Benfica, quando questionado sobre se  continuava a sentir-se solução depois de ver a sua equipa somar mais um empate (o quarto consecutivo na I Liga), aludindo ao passeio que o plantel deu juntamente com o presidente já no Algarve, antes do encontro em Portimão.

Mas não, não está tudo tranquilo. A intranquilidade deste Benfica é por demais evidente e saltou à vista de todos na segunda parte desta visita ao terreno do Portimonense, penúltimo classificado da I Liga. Afinal de contas, são dois empates em dois jogos após o retomar da competição. Quatro empates nos últimos quatro jogos na I Liga. Cinco empates nos últimos cinco jogos no conjunto de todas as competições (inédito na história do clube). E apenas uma vitória nos últimos dez jogos (algo que não sucedia desde 2007/08).

Depois de uma primeira parte em que chegaram a parecer, a espaços, o Benfica dos primeiros meses de Lage, pressionando alto, sem deixar o adversário construir jogo ofensivo, e mostrando eficácia no capítulo da finalização, ao aproveitarem  duas das três reais situações de golo que criaram, as 'águias' sucumbiram ao peso da pressão do mau momento que atravessam e não resistiram à reação de um Portimonense que soube mudar a forma de jogar para ir buscar um ponto que, na luta pela manutenção, poderá valer muito mais do que isso em termos motivacionais.

Mas esse 'peso do momento' não justifica tudo. Nem os contratempos das lesões de Jardel e Grimaldo. Porque para chegar a este momento negativo que agora atravessa foram muitos os erros cometidos. E a falta de eficácia na finalização, que Lage tinha apontado aquando no nulo de há uma semana na receção ao Tondela, não serve, desta feita, de desculpa. Desta feita o Benfica nem criou muitas ocasiões de golo e aproveitou duas das poucas que teve. E, quando foi preciso criar mais, depois de o Portimonense restabelecer a igualdade, não mostrou capacidade para o fazer.

Além disso, Bruno Lage perdeu claramente no 'duelo dos bancos' com Paulo Sérgio. O treinador dos algarvios mexeu melhor na equipa e a solução de Lage, à qual tantas vezes tem recorrido nos últimos tempos perante resultados adversos, que passa por lançar mais avançados para o terreno (a fazer lembrar Rui Vitória), não funcionou. Se Vinícius esteve (outra vez) discreto, Seferovic e Dyego Sousa não fizeram muito mais quando saltaram do banco.

Por mais que o treinador o queira esconder, algo não está bem no reino da 'águia'. A crise é real e está a agudizar-se. E torna-se ainda mais preocupante quando a equipa deixa de conseguir segurar uma vantagem de dois golos frente a um adversário que se encontra seis (agora cinco) pontos abaixo da 'linha de água'.

O Jogo: Entrar com tudo, tremer e voltar a empatar

Depois do empate de há uma semana, Bruno Lage resolveu mexer no 'onze' e dar um passo atrás na novidade que tinha introduzido ante o Tondela. Gabriel, que tinha voltado à equipa nesse encontro, foi para o banco, Taarabt, que tinha jogado nas costas de Vinícius, recuou para o lugar do brasileiro, Rafa passou para junto do avançado brasileiro e Cervi regressou à titularidade.

As mexidas pareceram surtir efeito. O Benfica entrou forte, pressionante, sem deixar o adversário passar do meio campo com a bola controlada, ainda que sem conseguir criar muitos lances de perigo. O primeiro surgiu apenas aos 15 minutos, por Rafa. Mas foi um aviso para o primeiro golo, que não iria tardar. Outra vez Rafa na jogada, a servir com um passe atrasado Pizzi e este - que na primeira parte também pareceu o Pizzi de outros tempos, não muito distantes - a desferir um fulminante remate de pé esquerdo para o fundo das redes.

Em vantagem, o Benfica continuou na mesma toada. Quem não soubesse não diria que a equipa vinha de uma série negativa de resultados. O 2-0 surgiu com naturalidade, dada a inoperância demonstrada pelo Portimonense nos primeiros 45 minutos. Num lance que misturou um toque de genialidade de Pizzi com uma má abordagem de Possignolo.

Dois golos à maior ao fim de 45 minutos e uma primeira parte bastante tranquila. O Benfica caminhava para o regresso às vitórias, terão pensado muitos. Puro engano. Paulo Sérgio mexeu na equipa ao intervalo, o Portimonense transfigurou-se no arranque do segundo tempo, e o Benfica recuou, tremeu, e sofreu o primeiro golo. Na sequência de um livre, Dener saltou mais alto do que toda a gente e cabeceou forte para o fundo da baliza à guarda de Vlachodimos.

Se o Benfica já estava a tremer, tremeu ainda mais com este golo sofrido. À memória terão vindo todos os insucessos recentes e o Portimonense chegou mesmo ao 2-2. Vlachodimos ainda adiou o inadiável por meros segundos, com uma fantástica defesa, negou o golo a Lucas, mas a bola sobrou para Júnior Tavares que, de fora da área, meteu a bola 'na gaveta'. Um golaço.

Lage, que estava a preparar várias substituições nesse preciso momento, teve de alterar os homens que fez saltar do banco. De uma assentada saltaram do banco Seferovic (para o lugar de Vinícius), Gabriel (para o lugar de Taarabt) e Dyego Sousa (para o lugar de (Cervi). Mas já não havia nada a fazer. O Benfica tinha tido o pássaro - e o retomar do trilho das vitórias - não mão, deixara-o fugir e era tarde demais para o voltar a apanhar.

O Momento-chave: Minuto 66

O Portimonense crescia no jogo e mandava na segunda parte, depois de uma primeira parte em que só tinha dado Benfica. Adivinhava-se o golo dos algarvios, que chegou num cabeceamento forte do capitão Dener, recolocando o Portimonense na discussão do resultado. Vlachodimos nada pôde fazer. Se o Benfica já tremia, passou a tremer ainda mais...a ponto de se perceber que o segundo golo do conjunto de Portimão, que viria a surgir dez minutos depois, era uma inevitabilidade...

Os melhores

Depois de um jogo apagado frente ao Tondela, Pizzi voltou a ser o que vinha sendo esta temporada...durante 45 minutos. Mais um (belo) golo e mais uma (primorosa) assistência a juntar ao seu pecúlio de 2019/20: já lá vão 27 golos e 14 assistências no conjunto de todas as provas. Com o 'apagão' do conjunto da Luz no segundo tempo Pizzi também desapareceu do jogo, mas deixou toda a sua classe bem vincada no relvado na primeira parte.

Do lado do Portimonense, o médio Júnior Tavares esteve bem a defender e acabou, depois, por ser o herói a atacar. O seu golo, com um remate forte e colocado, que fez a bola entrar 'na gaveta', deixando Vlachodimos pregado ao solo, valeu um empate importante à turma da casa na luta pela permanência. Um momento de inspiração que merecia público ao vivo para aplaudir.

Os piores

Carlos Vinícius está uma sombra do que já mostrou esta temporada. Se o brasileiro já vinha em quebra antes do interregno competitivo, com apenas um golo marcado nos últimos sete jogos antes da paragem das competições ditada pela COVID-19, neste retomar da ação está a anos-luz do Carlos Vinícius que, por exemplo, entre novembro e dezembro chegou a marcar nove golos em nove jogos. Tal como tinha sucedido frente ao Tondela, acabou por ser substituído no quarto de hora final.

No Portimonense, Lucas Possignolo não realizou, sobretudo na primeira parte, uma exibição feliz. O defesa central brasileiro deixou sempre muito espaço entre si e o seu colega lateral esquerdo, Henrique, que o Benfica soube aproveitar no primeiro tempo, e falhou clamorosamente no lance do segundo golo das 'águias' ao ler mal o efeito dado por Pizzi à bola e permitir que André Almeida surgisse isolado para fazer então o 2-0.

As reações

Paulo Sérgio: "Acabámos por fazer uma segunda parte fantástica"

Bruno Lage: "Temos de vencer, temos de fazer mais e melhor"

Bruno Lage: "Não nos passa outro pensamento que não ser campeões"

Júnior Tavares: "Até merecíamos a vitória"

André Almeida: "Há momentos assim, não há grande explicação"

O resumo

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