Não foi numa segunda-feira, como Jesus tanto advogou, mas nem seria preciso. A noite de domingo foi de 'passeio' para o Sporting, que depois de uma vitória arrancada 'a ferros' em Plzen, três dias antes, conseguiu vencer o Rio Ave apesar dos ferros. Não se deixe enganar pelo 2-0 final: os 'leões' acertaram o dobro das vezes no poste e na trave do que na baliza de Cássio. Isto no dia em que se assinalou o centenário do jogador que ainda hoje detém a melhor média de golos da história dos campeonatos, Fernando Peyroteo - bastava olhar para a parte de trás das camisolas do onze 'verde e branco'.

No regresso a Alvalade (para o campeonato) após o vermelho que o afastou do clássico no Dragão, Gelson Martins confirmou estar a viver a melhor temporada de sempre de leão ao peito: são já sete golos em 23 jogos. Contra o Rio Ave, somou mais um golo e uma assistência. E mais do que desequilibrador, foi também extremamente maduro na forma como decidiu. Nem o reforço do setor defensivo dos vilacondenses, a jogar num esquema de três centrais, condicionou a criatividade do 'miúdo'.

O que houve em cabeça, faltou em pontaria

O Sporting, de resto, soube marcar cedo na primeira parte e matar o jogo na reta final da segunda, altura em que o Rio Ave ameaçava crescer. A intenção de surpreender Jorge Jesus com a mudança de sistema tático era óbvia, mas bastou à equipa da casa subir as linhas  - Coates e Mathieu estavam quase colados a William Carvalho - para rapidamente anular as investidas de jogadores mais criativos como João Novais. A partir daí, a equipa de Miguel Cardoso deixou de ter grande critério, sobretudo no último terço.

Bas Dost deixou o primeiro aviso ao minuto 12, Bruno Fernandes fez estremecer a trave da baliza de Cássio pouco depois, e numa belíssima jogada que começou num apanha-bolas, o Sporting chegou ao primeiro da noite: rápida reposição da linha lateral de Piccini para Bruno Fernandes; bola passou ainda por Bas Dost, que deu de calcanhar para Gelson Martins. E é aqui que se vê a maturidade do extremo 'leonino', que esperou até ter espaço para o remate, cruzado, para o fundo das redes. Jesus até foi cumprimentar o apanha-bolas, explicando depois o porquê de o ter feito: "Houve uma jogada em que o miúdo não estava lá e eu disse-lhe que tinha de estar num determinado sítio. Nesse lance do golo ele já estava lá. Mas não foi por causa disso que o golo apareceu".

Três minutos depois, foi a vez de Coentrão acertar no ferro, numa tentativa de cruzamento para Bas Dost. Não seria a última. Entre as várias oportunidades do Sporting (de realçar aqui a exibição de Cássio), o Rio Ave ainda teve direito a uma jogada de perigo na primeira parte, a única, de resto. Aos 38’, Yuri Ribeiro avançou até à área adversária e tentou o remate. A bola sofreu um desvio em Mathieu e mudou de direção, mas Rui Patrício estava atento. Um dado estatístico relevante: foi a oitava vitória consecutiva dos 'leões' sem sofrer qualquer golo em Alvalade.

Até lá, a formação de Jorge Jesus foi fazendo por chegar à tranquilidade - o domínio manteve-se no segundo tempo, embora com características diferentes - mas só conseguia acertar no poste. Assim foi com Fábio Coentrão ao minuto 60, depois de uma excelente combinação com Gelson, mas também com Bruno Fernandes (68'), após uma recuperação de bola a meio-campo por William. No total, foram quatro remates enviados aos ferros, dois para cada um. No rosto de ambos notava-se o desespero por tamanha falta de pontaria, mas também alguma ressaca do jogo na República Checa (que ainda por cima teve prolongamento).

Ora sabendo que a margem mínima é sempre um resultado perigoso, o Rio Ave aproveitou para dar um ar da sua graça, mas nunca chegou a colocar em perigo a vantagem do Sporting, que aos 84', a fim de evitar surpresas de última hora, sentenciou a partida. Com os mesmos intervenientes, mas agora em papéis invertidos: Gelson, numa bela jogada individual, cruzou para o cabeceamento certeiro de Bas Dost, que chegou ao 23.º golo na Liga, 30.º no somatório de todas as provas.

Jorge Jesus aproveitou o 2-0 para promover a estreia de Wendel - muitos aplausos no momento em que entrou, ao minuto 88, para o lugar de Fábio Coentrão. Até porque já não havia mais nada a acontecer. O Sporting conseguiu contornar o cansaço que trouxe da Liga Europa - o próprio treinador admitiu ter ficado surpreendido com a "pedalada" da equipa - e manter distâncias para FC Porto e Benfica. Bem vistas as coisas, acabou por ser um domingo descansado para Jesus.