A entrada em falso do Benfica na edição 2024/25 da Primeira Liga acordou os fantasmas do passado recente. A equipa de Roger Schmidt prometeu muito na pré-época mas, no primeiro jogo oficial, mostrou os mesmos problemas da temporada passada, aos ser derrotada por 2-0 em casa do Famalicão.

O técnico alemão arranca com a 'corda no pescoço' e só um triunfo convincente na próxima ronda na receção ao Casa Pia poderá acalmar os exigentes adeptos encarnados.

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Centralizar até perder

O futebol nunca pode ser olhado apenas pela perspectiva dos números, mas eles são muito importantes para nos ajudar a perceber um jogo. E olhando para os do Famalicão-Benfica, dir-se-ia que muito dificilmente os vice-campeões nacionais podiam vencer pelo futebol apresentado, mas também pelos números que explicam a sua exibição.

É difícil entender que uma equipa que lute pelo título em Portugal, que se tenha reforçado durante a pré-época, faça apenas dois remates enquadrados durante 90 minutos e mais os descontos diante de um emblema que ambiciona a manutenção.

É certo que ainda estamos na primeira ronda da I Liga de futebol, mas entrar a perder, depois de uma temporada de muita contestação, não é bom sinal para o técnico Roger Schmidt.

Além do grande jogo do Famalicão, tanto a defender como a atacar, a derrota do Benfica explica-se também pelas opções do seu treinador. Já muito se falou da falta de criatividade do meio-campo encarnado e este jogo mostrou que ter Florentino e Leandro Barreiro ao mesmo tempo diante de equipas que se fecham muito atrás não é solução.

São médios muito idênticos, com o mesmo perfil, especialistas em roubar a bola e ocupar espaços, mas com pouca capacidade de meter um passe longo ou entrelinhas, ou progredir e encontrar um companheiro mais a frente. Prestiani começou a '10', como fez em muitos jogos da pré-época, a fazer o papel que Rafa fazia na época passada mas, com pouco espaço, pouco ou nada acrescentou.

E ter João Mário e Aursnes como extremos não ajudam a equipa na criatividade.

O Benfica afunilava muito o jogo, em virtude do perfil dos seus cinco médios. O Famalicão respondia também com uma linha de cinco, mas com gente com capacidade criativa, com talento para encontrar espaços e ferir em ataques rápidos, contra-ataque ou ataque organizado.

Quando, ao intervalo, Schmidt trocou o único abre-latas do jogo, Prestiani, por Kokçu, deixou o Benfica com cinco médios-centro, sem nenhum jogador criativo. Tentou corrigir mais tarde com Marcos Leonardo e Di Maria, mas o tempo corria contra o Benfica e a favor do Famalicão, que agarrou o resultado com mestria.

A formação da casa teve mais espaço para contra-atacar, matar o jogo e ameaçar em mais do que uma ocasião.

A tarefa de Roger Schmidt nos próximos tempos passa por reconstruir o meio-campo encarnado, olhando para as necessidades da equipa e não para os nomes.

Jogar com João Mário e Aursnes nas alas e com Leandro Barreiro e Florentino no meio deixa o Benfica sem criatividade, mesmo que atue com dois avançados. Florentino deverá cair do onze, tal como João Mário, para Kokçu juntar-se a Aursnes e ao médio do Luxemburgo no meio, abrindo espaços para Di Maria e Prestiani, por exemplo, e ainda um avançado, que parece ser Pavlidis.

Vencer o Casa Pia no próximo jogo em casa será essencial para Roger Schmidt. Tudo o que não seja a vitória, deixará o treinador numa situação muito difícil. E a época ainda agora começou.

Momento do jogo: Zaydou confirma triunfo

A superioridade do Famalicão no jogo ficou bem patente na forma como a equipa de Armando Evangelista fez o 2-0. Jogada tricotada pelo lado direito, com várias trocas de bola, até a incursão de Gustavo Sá na área, que assistiu Mário González. O espanhol, ex-Braga, de costas, deu para Zaydou que atirou a contar.

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Os Melhores: Zaydou encheu o campo, Aranda é craque

Aranda não marcou mas merecia um golo. É ele quem lança Sorriso para o 1-0, é dele novo passe idêntico que quase permitia o 2-0 ao brasileiro. No segundo tempo, ia fazendo o golo da tarde, numa grande jogada individual que acabou no poste. Quando a bola chegava aos seus pés, sobressaia a sua qualidade.

Zaydou fez o 2-0 mas o seu jogo vai para lá do golo. É ele quem recupera a bola para Aranda que isolou Sorriso no lance que quase acabava em 2-0. Correu quilómetros, recuperou muitas bolas, lançou várias vezes os colegas e ainda tentou um golaço de chapéu que só a envergadura de Trubin negou.

Em tarde 'não': Schmidt e os erros do passado

Roger Schmidt justificou a derrota com uma maior frescura do Famalicão sem nunca assumir os seus erros. Entrou em campo com demasiados médios iguais, não corrigiu a tempo e nunca deixou a equipa confortável para atacar os pontos diante do Famalicão. Ou muda ou é bem provável que dure pouco no Benfica.

Reações:

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