1-0, 2-0, 3-0, 3-1, 4-1, 4-2, 4-3. Este foi o andamento do marcador na Luz num dos dérbis mais emocionantes dos últimos tempos e num hino ao futebol atacante, com as equipas pouco preocupadas com soluções táticas que pudessem fechar o caminho da baliza ao adversário.

É certo sim, que estamos no final da época, e que os objetivos das duas equipas estavam praticamente definidos. O Benfica sabia que o segundo lugar não passava de uma miragem com duas jornadas por jogar e com o FC Porto a já quatro pontos de distância. Já o Sporting vinha de um momento de descompressão depois de assegurado o título, 19 anos depois, e da 'festa de arromba' na última terça-feira.

Veja o resumo da partida

A primeira parte também ficou marcada por isso, onde se percebeu claramente que o índice de concentração na maioria dos jogadores do Sporting não estava lá. Amorim não apostou no onze habitual e preferiu tarimbar miúdos para as próximas andanças na Champions, lançando Matheus Nunes, Daniel Bragança e ainda João Pereira e Matheus Reis face às ausências de Feddal e Porro. O Benfica apresentava-se na máxima força, com Pizzi a ser aposta de Jesus no ataque, em detrimento de Rafa.

Nos primeiros 45 minutos o Sporting deu muito espaço na zona do meio campo, onde cirandavam Bragança e Nunes, e os encarnados aproveitaram, através da exploração do jogo entrelinhas e de desmarcações rápidas de homens como Pizzi ou Everton. Matheus Reis também demonstrava dificuldades para atuar no tridente defensivo, onde não está muito rotinado. Já o Benfica apareceu muito solto na primeira parte, com grande capacidade ofensiva, a jogar de primeira e letal na frente. Seferovic abanou o marcador logo à passagem do minuto 12´, numa finalização de classe do suíço, depois de servido em bandeja de luxo pelo talento de Pizzi. O mesmo Pizzi viria a fazer o gosto ao pé depois de desmarcado pelo calcanhar de Cebolinha, em novo toque de habilidade à saída de Adán. Lucas Veríssimo dilatou, de cabeça, aos 37´, depois de um canto do mesmo Pizzi.

O leão demorou a acordar e foi Pote que deu o mote e liderou a contraofensiva dos novos campeões nacionais. Foi por ele que passaram as jogadas de ataque dos leões durante a primeira parte, que nunca deixaram de ameaçar e acabaram por reduzir ainda antes do final da primeira parte, por Pedro Gonçalves, num remate em arco, sem hipóteses para Hélton Leite. Dos primeiros 45 minutos saldavam-se quatro golos, com o Benfica a fazer três em cinco remates enquadrados.

Na segunda parte, Amorim lançou João Mário e Palhinha e a equipa ganhou a consistência e acutilância habituais e foi à procura de segurar a invencibilidade. Só que o início da segunda parte arrancou da pior forma para o Sporting. Matheus Nunes cometeu penalti sobre Grimaldo, e Seferovic na conversão fez o 4-1.

Com mais critério e com segurança defensiva, com as entradas de João Mário e Palhinha, o Sporting ganhou logo novas doses de pragmatismo. Na resposta, Pedro Gonçalves fez a bola embater no poste num forte remate à entrada da área.

Alguns minutos mais tarde e os leões chegaram mesmo ao golo, numa jogada iniciada em Pote, com Paulinho a assistir para o remate vitorioso de Nuno Santos.

O leão engalanou-se e poderia ter invertido um jogo que estivera deveras desfavorável. Pedro Gonçalves reduziu numa grande penalidade, igualando Seferovic na lista de melhores marcadores com 20 golos - Será um duelo aceso até ao último minuto da derradeira jornada.

E foi com esse espírito, o que o caracterizou ao longo da temporada, que falhou por pouco esse desafio de pelo menos pontuar no estádio da Luz, face às circunstâncias. Antes do final, Pedro Gonçalves ainda atirou ao poste naquele que seria o golo do empate dos verdes e brancos, com Coates já em zona avançada do terreno e com Palhinha a recuar para central.

Final do dérbi, com vitória do Benfica e fica a faltar uma jornada para o final do campeonato. Um ano memorável para os leões que venceram o título de campeão, mas com o Benfica a exibir-se a bom nível e a dizer presente.

Negativo - A ausência de público. Uma partida desta dimensão merecia público nas bancadas.

Positivo - Partida carregada de emoção, com sete golos, num excelente cartão de visita do futebol português.

Melhores

Pedro Gonçalves

Praticamente todas as jogadas de perigo dos leões passaram pelos seus pés. Um jogador de enorme qualidade, sempre de cabeça levantada, e que serviu sempre os companheiros com critério. Aguerrido a defender, também recuperou várias bolas em zonas importantes do campo. Marcou dois golos e mantém-se na luta pelo título de melhor marcador.

Seferovic

Nas poucas oportunidades de que dispôs marcou dois golos. Voltou a dizer presente num jogo de elevada dificuldade frente ao campeão nacional. Vai-se bater com Pote pelo título de melhor marcador na última jornada, têm ambos 20 golos.

João Mário

Muito importante na forma como ajudou o Sporting a regressar ao jogo na segunda parte. Emprestou classe ao meio campo dos leões e fez equilibrar as contas do dérbi nessa zona do terreno.

Pizzi

Partida de alto rendimento para o jogador do Benfica. Assistiu Seferovic para o 1-0, fez o 2-0 com um toque primoroso e assistiu Lucas Veríssimo para o 3-0.

Cebolinha

'Agora Everton já é o Cebolinha', como disse Jorge Jesus na conferência de imprensa. Deu muito trabalho aos jogadores do Sporting, que muitas vezes não tiveram pernas para o acompanhar. Magistral na forma como assistiu Pizzi para o 2-0 do Benfica. Na segunda parte caiu de produção.

Reações

Jorge Jesus: "Este jogo foi um espetáculo que deveria ter 60 mil pessoas aqui"

Rúben Amorim: "A equipa demonstrou o coração e a força que tem"