E vão quatro derrotas em 20 jornadas na I Liga. Doze pontos de distância para o FC Porto e seis para o Sporting. Três derrotas (e um empate) em dez jogos em casa na prova. Apenas duas vitórias (e quatro derrotas) nos últimos oito jogos no conjunto de todas as competições. Oito derrotas na soma de toda a temporada (só menos uma do que aquelas com que terminou a época passada, também ela para esquecer). São números que arrasam o mais paciente dos adeptos, os que o Benfica apresenta esta temporada.
A crise das águias (que não é de agora, com os encarnados a caminharem a passos largos para mais um ano a zeros no que toca a troféus) agravou-se ainda mais na noite de quarta-feira, com a derrota por 2-1 na receção a um Gil Vicente que continua a surpreender, provando que o excelente 5.º lugar que ocupa na tabela classificativa (nos últimos oito jogos só perdeu com o campeão, Sporting) não é obra do acaso.
Assobios (muitos assobios mesmo), lenços brancos e insultos a jogadores, equipa técnica e direção foram subindo de tom à medida que se foi percebendo que o Benfica caminhava mesmo para mais um desaire e tiveram o seu auge após o apito final de Artur Soares Dias. Se Rui Costa foi, terminada a partida, à sala de imprensa dizer "basta" referindo-se às arbitragens, antes também os adeptos o tinham dito. E não era à arbitragem que se referiam...
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O jogo: Gil Vicente foi gigante e mexidas no Benfica pouco mudaram, mas tudo podia ter sido diferente se...
Há sempre um 'se'. Já a atravessar um péssimo momento e vindo de uma derrota sempre difícil de digerir frente ao eterno rival, Sporting, que até custou um troféu, o Benfica precisava de encontrar tranquilidade. E essa tranquilidade podia ter surgido quando Otamendi (um dos regressados à equipa) colocou a bola no fundo das redes com um desvio subtil estavam decorridos apenas sete minutos de jogo. Só que Artur Soares Dias já tinha assinalado uma falta de Verthongen sobre um adversário antes de a bola entrar.
O golo (que poderia trazer a tal tranquilidade) não foi validado e pouco depois foi o Gil Vicente a marcar, numa excelente jogada de uma das revelações da época, Samuel Lino (num lance em que Verthongen não ficou muito bem na fotografia). Assim, em vez de tranquilidade, houve ainda mais intranquilidade. Perante um Gil Vicente cheio de personalidade e extremamente seguro de si mesmo, o Benfica não conseguiu nunca 'sufocar' o adversário, ainda que as oportunidades para empatar tenham surgido, a espaços.
Ao intervalo, Nélson Veríssimo (que tinha apresentado algumas novidades no onze incial), mexeu na equipa e lançou Rafa (acabado de recuperar de uma infeção com COVID-19) e João Mário (que com alguma surpresa começou no banco). Mas nem as novidades iniciais nem estas mexidas resultaram. O Benfica entrou para a segunda parte com a mesma falta de criatividade e de soluções para inverter o rumo dos acontecimentos e foi o Gil Vicente a criar perigo e a chegar ao segundo golo. Já depois de uma grande defesa de Vlachodimos ter adiado esse segundo tento, na sequência de um canto, Aburjania colocou mesmo, de cabeça, o resultado em 0-2.
Os apupos à equipa vindos da bancada subiram de tom e nem o golo de Gonçalo Ramos (único ponta-de-lança apto para o encontro do lado do Benfica, com Darwin, Yaremchuk e Seferovic - para além do há muito ausente Rodrigo Pinho - todos indisponíveis) a dois minutos dos 90 acalmou essa contestação. Pouco depois o encontro terminava e o Benfica somava mesmo mais uma derrota. Os adeptos fizeram-se ouvir ainda mais.
O momento: O tal golo não validado que podia (ou não) ter mudado tudo
Não se pode falar em golo invalidado, porque Artur Soares Dias apitou antes do desvio de Otamendi para o fundo das redes. Estavam decorridos apenas sete minutos de jogo quando, na sequência de um livre batido por Grimaldo, o defesa argentino, com um toque subtil, bateu o guarda-redes do Gil Vicente. O filme do jogo seria, certamente, outro, só que o árbitro da partida assinalou, antes, falta de Verthongen sobre um adversário. Apenas quatro minutos depois, quem marcaria mesmo era o Gil Vicente...
O melhor: Um Gil Vicente cheio de personalidade
Muitas vezes (quase sempre) justifica-se qualquer êxito de um clube de menor dimensão no terreno de um 'grande' com a inércia desse 'grande'. E é natural que assim seja, face ao poderio (a vários níveis) de uma equipa em relação à outra. Naturalmente, o Benfica tinha 'obrigação' de levar a melhor sobre um Gil Vicente com um orçamento bem inferior e jogadores bem menos cotados. Mas há que dar mérito (e muito) ao conjunto de Barcelos, que mostrou personalidade, solidez tática e soube explorar na perfeição as lacunas do Benfica e a instabilidade das águias. Houve, de facto, um grande 'galo' na Luz (nos dois sentidos da frase).
O pior: Um Benfica sem soluções para sair do buraco em que há muito se encontra
Perto de igualar (quando há ainda mais de um terço da temporada por jogar) o número total de derrotas da temporada passada, o Benfica continua a não encontrar soluções, primeiro, para contrariar as transições rápidas dos adversários quando perde a bola (como foi evidente no primeiro golo do Gil Vicente) e, depois, para inverter o rumo dos acotecimentos, por mais mexidas que sejam feitas (seja no comando técnico da equipa, seja nos jogadores que entram no 'onze' ou saltam do banco). Um problema que dura há já muito (demasiado) tempo. E, assim, os pontos vão 'voando' da Luz...
As reações
- Nélson Veríssimo afirma que Rui Costa esteve no balneário após a derrota do Benfica
- Depois da derrota do Benfica, Gonçalo Ramos deixou críticas à arbitragem
- Presidente do Benfica 'dispara' contra a arbitragem e exige respeito
- Ricardo Soares fala em "jogo brilhante" do Gil Vicente, Pedrinho diz que ganhar ao Benfica "dá visibilidade"
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