O Benfica voltou às vitórias para o campeonato, ao bater em casa o Santa Clara por 4-1, uma vitória indiscutível com um resultado volumoso, mas que não espelha, na totalidade, tudo o que aconteceu ao longo dos 90 minutos

Em dia de aniversário dos Xutos e Pontapés, os encarnados largaram de vez a vida malvada (em alemão 'verruchtes leben') dos últimos meses, soltando finalmente o seu circo de feras que, todavia, demorou até pegar fogo.

Contudo, a remar, remar, forçando a corrente, as águias lá chegaram a bom porto, no primeiro triunfo do novo homem do leme.

O jogo: Começou igual, acabou diferente

Mais uma noite de futebol na Luz. Música, animação, estádio cheio, elementos habituais de apenas 'mais um' jogo no reduto encarnado...pura ilusão; a chegada de Bruno Lage e o seu apelo ao coração dos benfiquistas, deixava no ar um clima de expetativa e esperança de que as águias iriam este sábado dar início a mais uma das míticas recuperações encabeçadas pelo treinador setubalense, rumo à reconquista do título.

Com apenas dois treinos feitos com a equipa completa, não se esperariam revoluções no onze encarnado; Lage aproveitou a veia goleadora de Akturkoglu trazida da seleção, e lançou Rollheiser para o lugar de Barreiro, desfazendo a redundante dupla que o luxemburguês vinha a fazer com Florentino.

Do outro lado estava um Santa Clara em alta, vindo de duas vitórias seguidas, razão mais do que suficiente para Vasco Matos não fazer qualquer mexida no onze inicial, e que ganharam ainda mais força quando, logo aos 20 segundos, Vinicius viu que Otamendi estava com a cabeça noutro lugar para se isolar e inaugurar o marcador...mas afinal Schmidt não se tinha ido embora?

Antes que os fantasmas germânicos renascessem, os adeptos encarnados trataram imediatamente de os expulsar, apoiando a equipa imediatamente após o golo sofrido, foi aqui que o Benfica começou a recuperação. Contudo a força das bancadas só dá até certo ponto, a dada altura, os jogadores têm de fazer pela vida, e os encarnados não estavam a consegui-lo.

Com apenas dois treinos é impossível criar novas dinâmicas coletivas, por isso, tiveram de ser as individualidades a tentar a sua sorte, muito através de Di María e Kokçu; contudo, o nervosismo e ansiedade no relvado era notório e começava a alastrar para as bancadas, que começavam a recear que pouco ou nada teria realmente mudado.

Foi então que a magia turca entrou em ação; Kokçu abriu o livro e descobriu Akturkoglu dentro da área que, com um toque subtil, fez o golo do empate, restaurando a crença encarnada.

O mais difícil parecia estar feito, contudo, e apesar de jogar em bloco mais baixo, o Santa Clara nunca se imiscuiu de procurar o ataque, preterindo do simples jogo direto, e procurando sair a jogar de trás, ou com rápidas transições através de passes curtos e futebol apoiado, algo raro na maioria das equipas que visitam a Luz.

Mas o golo do empate despertou a Luz novamente, e esta tratou de empurrar o Benfica para mais, e aos 34 minutos Florentino, um dos que demonstrava mais nervosismo, acabou por se redimir ao fazer o 2-1 de cabeça.

Para a segunda parte, Vasco Matos preparou a reação, lançando o veloz Ricardinho; contudo acabou por se ficar mesmo pela preparação, já que António Silva tratou de aumentar a vantagem benfiquista, deixando por terra qualquer tipo de resposta dos 'bravos açorianos'.

Adeptos e jogadores encarnados respiravam agora tranquilidade e confiança, contando também com mais espaço deixado por um Santa Clara que não mais podia continuar com um bloco tão recuado. Com os espaços foram surgindo as oportunidades, e quando não eram os espaços, era o guarda-redes adversário.

Di María foi lançado pela direita e, ao olhar para a baliza, viu Gabriel Batista a dançar o corridinho em zona de ninguém, já que ninguém alguma vez terá mudado tantas vezes de ideia em tão pouco tempo, e fez o melhor golo da noite com uma 'chapelada' recheada de classe ou, neste caso, 'Di Magia'.

Foi o ponto final numa partida que, para o Benfica começou como muitas tinham começado nos últimos tempos. Todavia, e ao contrário das outras ocasiões, a equipa contou com a reação apaixonada e imediata das bancadas...não que estas tenham alguma vez deixado de apoiar, mas desta vez a crença era outra e parece renovada.

Será um regresso ou simplesmente uma passagem? Ainda é muito cedo para responder, mas uma coisa é certa: o coração das bancadas está bem vivo e o Benfica tem pulso.

Momento do jogo: Momento Di 'Magia'

Com o terceiro golo, o Benfica estava agora mais tranquilo, solto e, com mais espaço para atacar. Aos 58 minutos Di María fugiu pela direita após uma bola longa; em dez segundos, o guarda-redes Gabriel Batista mudou de ideias vinte vezes sobre se saía à bola ou não, mas o argentino não esperou mais, fazendo um belíssimo chapéu ao desnorteado guardião, para aquele que foi o melhor golo da noite.

O melhor: Quando se joga onde se deve

Pode não ter marcado nenhum dos quatro golos do Benfica, mas Orkun Kokçu foi fundamental para a vitória encarnada. O médio turco, a jogar onde gosta, atrás do avançado, esteve envolvido em três dos quatro golos das águias. Foi o '10' que descobriu o compatriota Arkturkoglu para o golo do empate, e foi o médio turco que colocou a bola na cabeça de António Silva para o 3-1. Kokçu também tentou a sua sorte, mas foi o que fez jogar que mais saltou à vista.

O pior: Gabriel, o passador

Não foi realmente a melhor noite para o guarda-redes Gabriel Batista. O brasileiro ficou um pouco aquém no primeiro e terceiro golos do Benfica, ficando a ideia de que poderia ter feito um pouco mais para os evitar. O descalabro total surgiu no 4-1 quando se baralhou a ele próprio sobre o que fazer, permitindo a Di María lhe fazer um chapéu. É certo que também evitou alguns golos dos encarnados, mas foram mais os erros que os acertos.

O que disseram os treinadores:

Bruno Lage, treinador do Benfica

Vasco Matos, treinador do Santa Clara

O resumo