Os dois treinadores explicaram tudo 'tintim por 'tintim' na conferência de imprensa após o jogo. Comecemos pelo dado mais claro: O Benfica tem apenas um remate enquadrado à baliza dos azuis e brancos. Mas como é que a equipa de Bruno Lage, que é a 'rainha das goleadas' contando com uma média superior a três golos por jogo no campeonato, só por uma vez conseguiu visar a baliza de Marchesín em 90 minutos?
Qual foi o antídoto empregue por Sérgio Conceição? Em primeiro lugar pressionando a primeira fase de construção dos encarnados. Por outro lado, o Benfica permitiu que o FC Porto conseguisse levar o jogo para os duelos físicos, vertente em que Danilo, Zé Luís ou Marega são muito fortes. Sem critério na construção no primeiro terço, o Benfica entregou a bola rapidamente ao adversário e acabou punido. Com uma excelente reação à perda, o FC Porto partiu a equipa de Bruno Lage com transições rápidas que acabaram por ser letais. Sem capacidade para construir, e dada a pressão dos homens de Conceição, os centrais tentaram colocar bolas diretas na frente. Mas esta estratégia mostrou-se ineficaz, dado o poderio físico já assinalado dos azuis e brancos.
Já muito se falou de que os favoritos à partida, nos clássicos ou nos dérbis, são muitas vezes invariavelmente derrotados e foi isso o que sucedeu. Sem golos sofridos ainda no campeonato, e com a Luz engalanada de vermelho e branco, os encarnados entraram estranhamente apáticos. Rafa e Pizzi foram incapazes, desta feita, de municiar o ataque encarnado. Raúl de Tomás e Seferovic foram praticamente inoperantes. As duas grandes ocasiões de golo criadas pelos encarnados foram ambas anuladas por fora de jogo.
Resultado: Marchesín foi um autêntico espectador na baliza portista. Vlachodimos esse sim, foi chamado muito a jogo, num punhado de oportunidades de que o FC Porto dispôs.
Jogando fora, os dragões não abdicaram das suas ideias, apostando no seu esquema habitual com dois avançados. No regresso à Luz, um FC Porto cheio de caras novas, com Uribe, Diaz, ou Zé Luís e com o 'miúdo' Baró, acabou por patentear exibição de classe que dá esperança aos adeptos portistas. Foi pela direita que os dragões começaram por causar estragos, em combinações entre Corona e Marega, que colocaram a nu as fragilidades da defesa encarnada. E foi num capítulo de jogo em que os portistas são tão fortes, nas bolas paradas, que os visitantes chegaram ao golo. Zé Luís aproveitou uma falha de Rúben Dias para fazer o primeiro da partida, após um pontapé de canto. Com arrancadas possantes, o caboverdiano voltou a causar estragos depois do hat-trick frente ao V. Setúbal. E o que dizer de Luiz Diaz, que num cartão de visita à Europa, desfilou técnica e virtuosismo para desespero do miúdo Nuno Tavares.
Mas a couraça portista começava lá atrás com um imperial Pepe a anular e a antecipar-se aos jogadores encarnados e a lançar com mestria as transições. O que é facto é que os encarnados nunca se conseguiram libertar da zona de pressão portista. Melhoraram na segunda parte, com a entrada de um homem com mais critério: Taarabt permitiu dar à equipa o que esta tanto gosta de fazer: A verticalidade e o jogo entrelinhas. Lage apostou todas as fichas, sem medo de destapar ainda mais a muralha. Entraram Chiquinho e Vinicius no segundo tempo.
Mas foi o recém-entrado Otávio a oferecer o xeque-mate a Marega. Antes o maliano tinha falhado uma oportunidade clara. Vitória de personalidade dos portistas, numa demonstração de que esta equipa tem claros argumentos para voltar a lutar pelos títulos neste ano.
Momento
Antes Marega tinha falhado o golo com a baliza escancarada, mas ao minuto 78´ fez o golo e acabou com as esperanças encarnadas.
Melhores
Sérgio Conceição
Estava pressionado para vencer depois da eliminação da Champions e de um primeiro desaire no campeonato. Teve a melhor resposta. Acabou com invencibilidade do Benfica de Bruno Lage, mas não só. Mostrou que este FC Porto é uma equipa com soluções e capacidade para dar tudo na luta pelo título.
FC Porto
Do virtuosismo de Luiz Diaz, à segurança de Marega, ao critério de Danilo, Uribe e Baró. Passando pelos explosivos Marega e Zé Luís. O FC Porto deslumbrou com uma exibição de luxo e de personalidade no estádio da Luz.
Vlachodimos
Evitou que os números da derrota tivessem assumido outra dimensão, parando bolas sucessivas. Na primeira parte e na segunda.
Baixos
Nuno Tavares
Sentiu a pressão dos grandes jogos. Acusou nervosismo, acumulando perdas de bola. Luiz Diaz fez-lhe a vida negra. Passou um mau bocado.
Samaris
Sem critério no capítulo da posse, deixou-se enredar na teia portista. Não deu segurança à zona do miolo. Acabou substituído ao intervalo.
Raúl de Tomás
Discreto, não se deu ao jogo. Não funcionou com Seferovic.
Reações
Lage questiona jornalista: "Acha que é com a derrota que vou mudar a minha maneira de pensar?"
Bruno Lage: "Nuno Tavares? Vai fazer uma grande carreira, aqui ninguém cai"
Sérgio Conceição: "Há umas semanas quando perdemos era o mesmo treinador, não mudou nada"
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