Ana Gomes marcou presença num debate sobre a proteção dos denunciantes, onde foi abordado a situação de Rui Pinto. Na sua intervenção, a deputada do Parlamento Europeu explicou porquê é que Rui Pinto disse que temia pela vida em Portugal por causa das ligações de algumas pessoas à Doyen., quando foi interrogado na Hungria pelas autoridades judiciais daquele país.
"O que é a Doyen? É um fundo, sediado em Malta que podemos pesquisar na Google e vemos as ligações com a máfia cazaque, com negócios muito, muito estranhos", começou por dizer, explicando depois que ficou "chateada" por não ver as autoridades portuguesas investigar estas acusações.
"Fico muito chateada e não posso desconsiderar, inclusivamente, o que Rui Pinto afirmou em tribunal, na Hungria, em que ele disse que temia pela sua vida porque ele sabia que havia algumas pessoas corruptas no nosso sistema policial com relações muito próximas à Doyen. E isso é algo que tem que ser investigado", atirou.
Na altura em que foi ouvido na Hungria, Rui Pinto disse que não acreditava no sistema judicial português.
"O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos. Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado", sublinhou.
O debate "Futebol Leaks e a proteção dos denunciantes - o papel de Rui Pinto”, que teve lugar no Gabinete do Parlamento Europeu, em Lisboa, estiveram presentes os dois advogados de Rui Pinto (o francês William Bourdon e o português Francisco Teixeira da Mota), assim como Antoine Deltour, um denunciante associado ao caso 'Lux Leaks'.
Em prisão preventiva desde 22 de março, Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, estando indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.
Na base do mandado estão acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.
O colaborador do 'Football Leaks' terá entrado, em setembro de 2015, no sistema informático da Doyen Sports, com sede em Malta, e é também suspeito de aceder ao endereço de correio eletrónico de membros do Conselho de Administração e do departamento jurídico do Sporting e, consequentemente, ao sistema informático da SAD 'leonina'.
No período em que esteve detido na Hungria, Rui Pinto assumiu ser uma das fontes do 'Football Leaks', plataforma digital que tem denunciado casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol, no âmbito dos quais estava a colaborar com autoridades de outros países, nomeadamente, França e Bélgica.
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