Já cheira a relva…com o fim do Campeonato do Mundo e o arranque das pré-épocas dos 'três grandes', as competições oficiais também já arrancaram para FC Porto, Benfica, e Rio Ave. Nos ditos jogos a doer, nos 'três grandes', o FC Porto foi primeiro a entrar em campo, vencendo a Supertaça Cândido Oliveira frente ao Aves, ao vencer por 3-1 no estádio Municipal de Aveiro. O Benfica arrancou com uma vitória magra de 1-0 frente ao Fenerbahçe, na primeira-mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. O Rio Ave foi afastado da Liga Europa pelos polacos do Jagiellonia Bialystok.
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Mas enquanto a procissão ainda ‘vai no adro’ no que aos jogos oficiais diz respeito, convidámos Álvaro Magalhães, antigo jogador do Benfica, a fazer o lançamento da temporada de 2018/2019 e analisar o que os 'três grandes' têm feito durante a pré-temporada.
Campeão no Benfica como 'braço direito' de Trapattoni em 2005, Álvaro Magalhães sabe que mais importante do que jogar bem, - como foi o caso do Sporting de Peseiro nessa mesma temporada, mas que acabou por perder o campeonato e a Liga Europa -, o mais importante é ser uma equipa pragmática e vencedora.
Começando pelo Benfica e depois de uma temporada passada em que os 'encarnados' acabaram por perder o título para o FC Porto, nesta época o clube da Luz tem realizado um forte investimento, com vista a voltou a recuperar o ceptro de campeão. Álvaro Magalhães concorda que o clube 'encarnado' se está a reforçar bem, mas que tudo vai depender da adaptação dos jogadores ao sistema que irá ser implementado por Rui Vitória, que na opinião do técnico só poderá ser o 4-3-3.
O que só deixará espaço a um ponta de lança no onze inicial. Relembra ainda o caso de Seferovic que teve um início fulgurante, mas que acabou por fazer uma época irregular.
“O Benfica está-se a reforçar, mas temos que ver a adaptação dos jogadores. Ainda na época passada o Seferovic apareceu com força e velocidade e depois acabou por fazer uma época irregular. Penso que nesta altura fazer uma análise...é difícil. O Benfica apresenta-se com alguns reforços. O Jonas tem jogado pouco, nas outras épocas jogava sempre e nesta altura já há mais opções. Mas não é fácil fazer uma análise profunda. Os jogadores estão a trabalhar com cargas muito fortes e estão a procurar melhorar a sua forma".
Ainda assim, apesar das incógnitas naturais pré-competição, o antigo jogador das 'águias' considera que Rui Vitória vai ter mais soluções à sua disposição para a esta temporada. Sublinhou também a necessidade de o técnico 'encarnado' ter que definir rapidamente uma equipa-base.
“Vamos ter um Benfica diferente, mas com mais soluções. Vamos ver se essas soluções se adaptam ao sistema de jogo do treinador. O Rui Vitória tem mexido muito, mas ele também terá que a partir de agora montar um sistema de jogo (4-3-3) e dar entrosamento à equipa que vai arrancar nas competições oficiais. O entrosamento tem que ser bem mecanizado. Mas é o treinador que tem que trabalhar a equipa”.
Em relação aos reforços, Álvaro Magalhães tem palavras elogiosas para os avançados Ferreyra, Castillo e ainda para o guardião Vlachodimos, que considera que poderá ser o dono da baliza encarnada para 18/19.
“O Castillo e o Ferreyra são jogadores de enorme mobilidade. No Shakhtar, [Ferreyra] fez jogos fantásticos. Agora temos que ver a adaptação ao sistema de jogo. Porque no Shakhtar jogava de uma maneira e aqui vai jogar de outra”.
Com a chegada dos dois avançados, e caso Rui Vitória aposte num 4-3-3, Jonas pode perder espaço no Benfica. Álvaro Magalhães considera que é cedo para dizer o que vai acontecer no diz respeito ao avançado brasileiro, mas adianta que é o esquema que poderá ditar as apostas. Caso Rui Vitória aposte num 4-4-2, o Jonas e o Ferreyra poderão fazer uma boa dupla, na opinião do técnico.
“O treinador fica sempre feliz por ter jogadores de qualidade e opções e quando há lesões... [O Jonas] é um jogador que foi o melhor marcador dos últimos anos no Benfica. Ele para escolher aqueles avançados tem um sistema de jogo definido. Agora não vamos saber o que vai acontecer daqui para a frente. Um treinador tem que apresentar um esquema que lhe dê segurança. Sendo um 4-3-3, com os jogadores que tem, pode montar um esquema diferente. A equipa não ficará fragilizada. O Jonas e o Ferreyra poderão ter um bom entrosamento, já o Castillo é um jogador mais estático, não é tão móvel como os outros dois. O treinador tem as peças e agora vai ter que trabalhar esses jogadores.
"Vlachodimos? Não vem de um futebol tão desenvolvido como nosso, tem boa estatura e penso que tem estado bem. Se foi contratado para a posição é para dar segurança àquele lugar que é muito específico. A experiência é muito importante”. Ora, no que diz respeito a Svillar, o técnico considera que o jovem guardião 'foi lançado às feras' demasiado cedo.
"Disseram que era dos melhores do mundo…um miúdo de 18/19 anos tem que aprender. Com 34 ou 35 anos aí é que se nota que é melhor guarda-redes. Foi 'lançado às feras' muito cedo, as coisas não correram bem. Acabou por ser o Bruno Varela o titular. Pelo que tinha lido, Svillar seria o titular. Mas nessa posição, o guarda-redes tem que ter muita experiência”.
Com a época oficial já em andamento com o primeiro jogo, Rui Vitória terá que 'ligar o turbo', com o técnico a já não ter muita margem de manobra para experiências, já que o clube 'encarnado' é um dos que aponta aos títulos em todas as competições em que está envolvido.
“O Benfica já não poderá fazer muitas experiências. Experiências só lá para a frente. Terá que começar já a trabalhar para que os jogadores ganhem ritmo competitivo. Mas isso é bom. Porque um jogador que apareça agora em grande forma, um mês depois a forma desaparece. Os jogadores vão crescendo lentamente. Nesta altura do campeonato já têm necessidade de colocar mais ritmo. Para quando começar a competição a doer estejam melhor preparados. O Benfica é uma equipa que joga sempre para ganhar, não joga para a manutenção”, afiançou.
Finalizada a análise ao Benfica, apontou-se baterias ao Sporting. Com a recuperação de alguns ativos, pós-incidente de Alcochete, como foram os casos de Bas Dost e Bruno Fernandes, Álvaro Magalhães considera que o Sporting terá sensivelmente as mesmas 'armas' para tentar quebrar o jejum no que à conquista de campeonatos diz respeito. Sobre a contratação de José Peseiro, o antigo adjunto dos encarnados, prefere esperar pelo trabalho que vai ser desenvolvido pelo técnico.
“Continuam com a mesma equipa. E há que trabalhar para que esta equipa lute em todas as competições em que o Sporting está inserido. Vamos ver se o Sporting tem condições para lugar pelo título, as primeiras jornadas vão ser decisivas nesse aspecto. Mas tem uma equipa boa, com os jogadores todos do ano passado. O treinador não se pode queixar que não tem jogadores. O Nani vem dar uma experiência à equipa. O Sporting vai ficar com uma boa equipa. José Peseiro? Foi a escolha possível do Sporting. Está a trabalhar sem problemas. Está a fazer o seu trabalho e vamos ver se consegue incutir a ambição de ganhar campeonatos”.
Sem papas na língua, Álvaro Magalhães considera que alguns jogadores tentaram rescindir para “tentar fazer o aproveitamento da situação” dos incidentes em Alcochete, regressando ao Sporting com melhores condições.
“Tentaram rescindir e não conseguiram: primeiro ponto. É a verdade dos factos. Se renovam é para melhor. Não tinham nada que renovar porque tinham contrato. Tentaram chegar a bom porto e tentaram aproveitar-se da situação. Se o caso fosse para a FIFA não sei quem ganharia. Haveriam muitos problemas, por isso é que há muito clubes que não os quiseram contratar. E se os clubes não quiseram contratar é porque não queriam ter problemas no futuro. Para mim regressaram ao clube com melhores condições”, comentou.
Sobre as diferenças entre o Sporting de Jesus e o que poderá ser o Sporting de Peseiro, Álvaro Magalhães espera uma equipa com menor intensidade que a de Jesus, mas alerta que apesar de reconhecer que as equipas montadas por Peseiro jogam bem, o importante é vencer.
“Quando começa a bola a rolar e os pontos a contar, a pressão aumenta e aí vamos ver quem está mais bem preparado”
“Todos os seus treinadores tem as suas ideias. O Jesus tinha uma, o Peseiro outra. Vamos ver qual é a equipa que terá mais intensidade. Jogar bem? Jogar bem, é ganhar campeonatos. As equipas têm que jogar bem, mas com vitórias. Só ganha campeonatos, quem vence. Às vezes não se joga tão bem, mas o futebol é mais pragmático e mais rigoroso em termos táticos. Jogar bem, todas as equipas jogam bem. É importante a intensidade da equipa, a maneira de jogar, a parte física e psicológica. Quando começa a bola a rolar e os pontos a contar, a pressão aumenta e aí vamos ver quem está mais bem preparado”.
Virando a 'bitola' para a equipa que foi mais pragmática na temporada passada, Álvaro Magalhães afina pela mesmo diapasão e espera um FC Porto e tudo igual ao ano passado. O técnico acredita que os reforços e as permanências de jogadores de alguns jogadores experientes, como é o caso de Maxi Pereira, vão colmatar algumas saídas importantes como foi o caso de Marcano e Ricardo Pereira.
“Vamos ter um Porto igual ao ano passado. Temos o Maxi Pereira, que não tem a velocidade do Ricardo. É um jogador de grande experiência. Quando o Ricardo não jogava, jogava o Maxi. O Marcano também estava bem entrosado com o Felipe. E agora vem o novo central [Mbemba], que me parece que tem grande qualidade. E que está referenciado por Sérgio Conceição"
Depois de dois testes negativos frente ao Lille e Portimonense e do aviso de Sérgio Conceição que disse que há jogadores que não têm qualidade para jogar de Dragão ao peito, já se nota um FC Porto diferente e com outra dinâmica para a nova época que se avizinha.
“O FC Porto já foi diferente [frente ao Everton], já teve outra dinâmica. Com o Herrera, o Corona, o Danilo, penso que vai ter uma equipa novamente forte e competitiva. Vamos ver a adaptação do Mbemba. Penso que se vai adaptar facilmente. Penso que vamos ter um FC Porto equilibrado em todos os sectores e com a mesma ambição do ano passado”, frisou.
No que diz respeito à eterna luta pela primeiro lugar para Álvaro Magalhães não há dúvidas sobre quem está em melhores condições para lutar para disputar o título.
“Normalmente quem ganha [FC Porto] é mais favorito. Mas são os três favoritos, com ali o SC Braga a estorvar um pouco. Os três grandes são aquelas equipas que vão lutar pelo título. Têm grandes executantes e a força dos próprios clubes ajuda…. São sempre os mesmos. Mas o FC Porto e o Benfica são os mais fortes candidatos ao título.
Até há uns anos atrás falava-se no campeonato da segunda metade da tabela, mas atualmente pode-se falar no campeonato dos quatro, já que a diferença entre o quarto e o quinto classificado superou os vinte pontos. O técnico crê que não se pode falar de campeonato competitivo quando existe uma tal diferença na tabela.
“Como é que é possível o quarto classificado ficar a 20 e tal pontos em relação ao quinto?", questionou. Prosseguindo: “Há uma grande diferença de competitividade. Isso prova que o nosso campeonato não é tão competitivo como as pessoas dizem. Não é”, afiançou.
"Quando há uma diferença de 20 pontos entre o 4.º e o 5.º isso prova que o nosso campeonato não é tão competitivo como as pessoas dizem"
A qualidade baixou e de que maneira, até nos pontos que são necessários para se manter à tona na primeira liga.
“Antigamente para se manter na primeira liga eram necessários 35 pontos. Agora com 28 pontos já se consegue. Logo aí se consegue ver a diferença que existe em relação a outros anos. A qualidade baixou muito. Tirando os três grandes mais o SC Braga, o resto é tudo igual. Uma equipa que fica a 20 e tal pontos do quinto, a diferença é enorme. E vamos ser essas quatro equipas que vão lutar, umas pelo título, outras pela melhor classificação. O SC Braga, ao primeiro, dificilmente vai lá chegar. Temos que ser realistas. Porque o Benfica e o FC Porto, com o Sporting ali atrás, não vão deixar. Há uma grande diferença de competitividade em relação às outras equipas. O SC Braga, ao primeiro, dificilmente vai lá chegar. Temos que ser realistas. Porque o Benfica e o FC Porto, com o Sporting ali atrás, não vão deixar. Há uma grande diferença de competitividade em relação às outras equipas".
Com os regressos de alguns jogadores consagrados, como Nani, Hugo Almeida ou Danny, a questão que fica no ar é se esses jogadores que “já estão bem na vida” regressam não com a dita mania “que são uns craques” mas sim com a ambição e o querer no sentido de ajudar as suas equipas com “a qualidade que têm”.
"Vamos ver se não vêm convencidos que são uns craques”
“Voltaram às suas origens, mas vamos ver a ambição deles. São jogadores que já estão bem na vida. Vamos ver se essa ambição é a mesma. Que têm qualidade, têm. Vamos ver se não vêm convencidos que são uns craques. Um treinador só os vai colocar a jogar se estiverem em condições. Se não treinarem bem, o treinador terá que os por de fora. Têm que vir com ambição de trabalhar, com a mesma vontade e o querer. Se é para acabar as carreiras, é preferível acabarem já e darem lugar a um jogador mais jovem, com valor e com qualidade para triunfar. Têm que ter vontade de querer representar o clube. Se é só para vestir a camisola, eu penso que isso vai prejudicar o grupo de trabalho. Se estiverem bem fisicamente, melhor”, finalizou.
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