Bruno de Carvalho pensou em despedir Jorge Jesus logo no primeiro ano do técnico em Alvalade. Em entrevista à TVI e TVI24, o antigo presidente do Sporting falou de alguns dos aspetos do seu livro, 'Sem Filtro', lançado esta sexta-feira. Sobre Jesus, disse não acreditar no treinador, que só não foi despedido no primeiro ano porque a indemnização era alta.

"Agora sou um crente em Jesus e um descrente total em Jorge Jesus. [...] Eu tentava gerir o mau-estar [n.d.r.: entre jogadores e treinador] falando várias vezes, sendo o mais honesto. Quando Jorge Jesus me apresentou Evandro Mota [psicólogo], não percebi o que ele fazia, mas quando assisti à saída dele e o que aconteceu depois, passei a valorizar o trabalho dele, pois era fator de equilíbrio para o Jorge e entre o Jorge e os jogadores. O Jorge necessita desse equilíbrio. Fizemos uma primeira época fantástica [2015/16) e vamos ver ao nível da justiça se ainda vamos ser campeões ou não", disse Bruno de Carvalho, aludindo aos aos processos que correm na justiça relacionados com o Benfica.

"Arrependo-me de não ter despedido Jorge Jesus logo no início em janeiro, que foi a altura em que comecei a ver que as coisas iam descambar e dar para o torto", completou.

Sobre Jesus, disse que só o factor financeiro impediu o seu despedimento após o primeiro ano no Sporting.

"Não despedi Jorge Jesus porque falávamos de 9 milhões de euros. Recuperação? Já pouco haveria para fazer. Tentei aproximar jogadores e treinador. Também aconteceu [os jogadores dizerem que não seriam campeões com Jorge Jesus]", comentou.

O antigo presidente dos 'leões' confidenciou que o técnico obrigou-o a renovar o contrato, ameaçando sair para o FC Porto.

"Quinze minutos antes do jogo com o SC Braga, Jorge Jesus veio falar comigo que tinha de renovar. Estávamos a lutar pelo título. Não o consegui demover, fiz-lhe o contrato. Quinze minutos antes do jogo, disse-me: ou renova ou vou-me embora para o FC Porto. Nessa altura ainda não tínhamos contactos com o FC Porto, e era pena, mas não valia a pena perguntar se era verdade ou não [...] As pessoas podem tirar as ilações do que significa um pedido destes, quinze minutos antes de irmos jogar um jogo que podia valer o título. Não é agradável, como devem perceber", referiu Bruno de Carvalho.

Ainda sobre a sua relação com Jesus, Bruno de Carvalho diz lamentar não ter sido campeão de Portugal com o técnico no Sporting.

"Eu nunca fui treinador do Sporting, mas gostava de ter tido um treinador que me desse a alegria de ser campeão, a mim e a três milhões e meio de sportinguistas. Não podemos à segunda-feira querer o primeiro lugar e à terça o segundo. O Sporting faz um investimento de 100 milhões para ser campeão e chegar à final da Liga Europa", sublinhou.

Na mesma entrevista, Bruno de Carvalho recusou a ideia de ter causado instabilidade no plantel do Sporting, com o post que publicou na sua página pessoa no Facebook onde criticou, de forma dura, a atuação da equipa e de alguns jogadores na derrota por 2-0 com o Atlético Madrid.

"Falar sobre o desempenho da equipa é uma prática comum de todos os presidente. Já vi inúmeros presidentes fazerem as mesmas afirmações. Já vi um presidente do Sporting dizer que o plantel não tem qualidade nenhuma. Só isto é pior que o post que fiz depois de Madrid. [...] O post de Madrid resultou em seis vitórias e uma mudança de Jorge Jesus, a colocar-se ao lado dos jogadores. Aliás, numa mensagem que mandei aos jogadores disse que se fosse preciso zangarem-se comigo para ganharmos, então que o fizessem. [...] Depois disso aconteceu um jogo desastroso com o Benfica, em que o Rui Patrício salva a honra do convento, e um jogo inacreditável na Madeira. Foi isso ", frisou.