Desde muito cedo que o Benfica mostrou ser o principal candidato ao título em 2022/23, mas foi preciso esperar até à última jornada para chegar a confirmação. A 27 de maio, os encarnados só dependiam de si para fazer a festa no Estádio da Luz e não defraudaram os adeptos. O tão desejado 38 foi selado com um triunfo por 3-0 sobre um já despromovido Santa Clara, pondo fim a um jejum de títulos e taças que durava desde 2019.
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A caminhada do Benfica rumo ao título de campeão nacional conta-se da seguinte forma: um arranque a todo o gás, que se consolidou num percurso bastante regular, exceção feita a um ou outro deslize – sobretudo na reta final. Contas feitas, as águias terminaram a prova na liderança com 87 pontos (ficaram a um de igualar a melhor pontuação de sempre, com Rui Vitória, em 2015/16), mais dois do que o segundo classificado, o FC Porto, que deu luta até ao fim.
Da desconfiança ao entusiasmo
A época começou com algum ceticismo face à contratação de uma equipa técnica estrangeira e, como tal, desconhecedora do futebol português. Anunciado oficialmente a 18 de maio do ano passado, Roger Schmidt (ex-PSV) mostrou-se, desde logo, ciente da tarefa em mãos. "A pressão é minha, de mostrar que fizeram uma boa escolha", garantiu o alemão na primeira conferência de imprensa.
A aposta de Rui Costa em Roger Schmidt acabou por ser certeira. O Benfica arrancou a todo o gás, mostrando um futebol atrativo (forte reação à perda e ataques rápidos), e logo na quarta jornada subiu à liderança do campeonato, de onde não mais saiu.
Com a qualidade de reforços como Enzo Fernández (saiu para o Chelsea em janeiro), David Neres e Fredrik Aursnes, e a aposta em talentos da formação como António Silva e João Neves (em diferentes fases da época), o conjunto encarnado foi deslumbrando os seus adeptos com momentos de excelência e triunfos incontestáveis. A atestar isso, o facto de a primeira derrota (3-0 em Braga, no final de dezembro) ter vindo quebrar um ciclo de 28 jogos consecutivos sem perder – nem mesmo num grupo na Champions que incluía PSG e Juventus.
A paragem para o Mundial no Qatar tinha feito mossa, mas as águias conseguiram retomar a dinâmica triunfal, beneficiando dos deslizes dos rivais. À entrada para a 27.ª jornada, com clássico na Luz, o avanço do Benfica para o FC Porto já ia nos 10 pontos. No entanto, os dragões colocaram a nu o cansaço de uma equipa que, apesar de ter entrado praticamente a ganhar, não teve força mental para se impor, acabando por perder 1-2.
Esse resultado foi o início de um ciclo negativo inédito na época: três derrotas seguidas (uma delas em Chaves) e quatro jogos sem ganhar (dois deles custaram a continuidade na Liga dos Campeões). Falou-se em perda de influência de jogadores nucleares (um deles João Mário), falou-se em desgaste físico acumulado (por parca rotação dos atletas), mas as águias foram a tempo de emendar a mão.
O triunfo frente ao SC Braga, com uma das melhores exibições da época, mostrou que dificilmente o título poderia escapar ao Benfica, e o empate em Alvalade (2-2) adiou a festa para a última jornada, em pleno Estádio da Luz.
Numa reedição do que acontecera em 2019, então sob o comando de Bruno Lage, os encarnados voltavam a celebrar com um triunfo expressivo diante do Santa Clara, sem esquecer a emoção de Grimaldo na despedida – há quatro anos tinha sido Jonas. Otamendi ergueu o troféu de campeão, a festa continuou no relvado da Luz e seguiu, depois, para um Marquês de Pombal repleto de adeptos.
Quanto a Roger Schmidt, importa dizer que esta foi apenas a quarta vez no século XXI que um técnico estrangeiro conseguiu sagrar-se campeão em Portugal: desde 2005/06, ou seja há 17 anos, que tal não sucedia, altura em que o neerlandês Co Adriaanse guiou o FC Porto ao título, sucedendo ao italiano Giovanni Trapattoni, vencedor na época anterior pelo Benfica. Completa este lote o romeno László Boloni, que guiou o Sporting ao seu penúltimo triunfo, em 2001/02.
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