Passaram-se 20 anos desde que José Mourinho se estreou no banco de suplentes como treinador principal. Depois de vários anos, primeiro como tradutor do malogrado Bobby Robson e depois como ajunto do técnico inglês no Sporting, FC Porto e Barcelona, o técnico foi contratado pelo Benfica para o lugar do alemão Jupp Heynckes, demitido numa altura em que os 'encarnados' eram sétimos na I Liga.
Mourinho era adjunto do holandês Louis van Gaal no Barcelona quando foi convidado para ocupar o lugar de Heynckes. Com ele veio Mozer, antigo defesa central e capitão dos 'encarnados', convidado pelo Special One para adjunto. O brasileiro recorda os momentos conturbados que o jovem técnico viveu na Luz, na altura, e que levaram a sua saída, após as eleições que colocaram Manuel Vilarinho na presidência do clube. O antigo dirigente tinha prometido que Toni seria o treinador, logo, não havia espaço para José Mourinho.
Houve muitas histórias de que o José pôs a faca no pescoço do Manuel Vilarinho
"[...] Fiquei bastante chateado pela oportunidade desperdiçada de o Benfica subir de patamar. O José foi uma revolução à época. Achava de uma importância tremenda que ele permanecesse, pois tínhamos contactado pela primeira vez com essa organização de trabalho, que seria benéfica para um clube modernizado", recorda Mozer, à agência Lusa.
Com as eleições no Benfica, José Mourinho quis esclarecer o seu futuro no clube, Manuel Vilarinho entendeu o pedido como um ultimato e recusou dar-lhes mais um ano de contrato, pouco tempo depois de ter vencido o Sporting. Mourinho viria a sair do Benfica 76 dias e 11 jogos depois, para a União de Leiria.
Tivemos muitas zangas e 'mind games' que me fortaleciam e a equipa ganhava com isso
"Houve muitas histórias de que o José pôs a faca no pescoço do Manuel Vilarinho, mas ele não exigiu mais dinheiro. Só queria que o deixassem trabalhar para certificar a sua qualidade e mostrar ao público que tinha plenas condições de treinar ali. Percebo que era para se cumprir o pacto com o Toni, mas foi um desperdício muito grande", lamentou Mozer.
No Benfica, Mourinho trabalhou com Maniche, jogador que mais tardia viria a reencontra-lo no FC Porto, onde venceram a Taça UEFA e Liga dos Campeões. O antigo internacional português recorda um técnico muito mais à frente dos demais, principalmente na relação com os jogadores. Com Mourinho, Maniche chegou a capitão do Benfica com apenas 23 anos, num jogo frente ao Farense (vitória 2-1).
"Para tirar rendimento do jogador, por vezes tens de o perceber na sua essência. Ele conhecia-me muito bem e compreendeu-me como homem. Não foi por acaso que me colocou a capitão, porque a personalidade e o caráter que ainda tenho hoje já transportava naquela altura e são um pouco parecidos com ele", lembrou o agora comentador, à Lusa.
"Como sabia sempre que podia dar um pouco mais, nunca me deixava relaxar e punha-me sempre uma fasquia muito alta. Tivemos muitas zangas e 'mind games' que me fortaleciam e a equipa ganhava com isso. Espicaçava-me dessa forma porque já me conhecia como pessoa e eu tinha o perfil idealizado para as suas ideias de jogo", concluiu.
Na sua carreira de 20 anos, José Mourinho treinou o Benfica, a União de Leiria, o FC Porto, o Chelsea, o Inter Milão, o Real Madrid, o Manchester United e agora o Tottenham.
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