José Mourinho deu o alerta mas poucos o levaram a sério. Os clubes estão a gastar somas avultadas em jogadores banais e não estão dispostos a parar.
"Estava habituado a ver os grandes clubes a pagar muito dinheiro por grandes jogadores. Agora, todos gastam fortunas em bons jogadores. Há uma diferença entre os bons e os grandes jogadores, mas agora os números são loucos por jogadores normais", comentou o técnico, a respeito do mercado de transferências.
Essa loucura que só estava ao alcance de um grupo restrito de clubes passou a ser praticada por clubes medianos em Inglaterra, muito devido ao crescimento da Premier League e recente renegociação dos direitos de transmissão dos jogos pela televisão. O novo acordo celebrado em 2015 vai colocar 6,9 mil milhões de euros nos cofres dos clubes da Premier League até 2019.
Ingleses dominam mercado
Das dez maiores contratações realizadas até agora, oito tiveram como destino a Premier League, num total de 527 milhões de euros, de acordo com o site ´Transfermarkt`. São apenas menos 34 milhões do que o total gasto no mercado de verão da época passada com as dez transferências mais caras e ainda faltam mais de um mês para o fim do período de transferências.
Apesar disso são os clubes que estão nas mãos de xeques, oligarcas e de grandes fundos financeiros que estão a agitar e muito o mercado de transferências. Na temporada passada o Manchester United surpreendeu o mundo do futebol ao pagar 104 milhões de euros para resgatar Paul Pogba a Juventus. O que parecia ser uma soma astronómica rapidamente passou para um segundo plano neste defeso, com os montantes que se fala que podem ser pagos por Neymar e Mbappé, os dois jogadores que prometem agitar o mercado.
Transferências de Neymar e Mbappé podem bater novos recordes
As imprensas espanhola, brasileira e francesa avançam que o Paris Saint-Germain está disposto a pagar a cláusula de rescisão de Neymar, fixado atualmente nos 222 milhões de euros. Já no caso de Mbappé é o Real Madrid o principal interessado, num negócio que poderá ser feito por 180 milhões de euros, de acordo com alguns jornais espanhóis.
São exatamente essas somas que estão a preocupar a UEFA. Aleksandr Çeferin, líder do órgão que rege o futebol europeu já tinha dado o alerta durante o ´Football Talks` realizado em 2016 em Portugal pela FPF. Era preciso reformular as regras do fair-play financeiro já que as atuais estão a ser contornadas pelos clubes que são propriedade de multimilionários.
Na altura, no evento que decorreu no Estoril, Ceferin avançou que eram precisas novas regras, como "taxas de luxo, limitação de planteis ou regras de transferências mais justas, para evitar a concentração de talento em poucas equipas".
Quando foi lançado, o ´fair-play` financeiro tinha como objetivo ´obrigar` os clubes a equilibrarem as contas a cada ano que passa, mas os grandes clubes europeus têm conseguido contornar essas regras, principalmente os detidos por magnatas.
PSG, Manchester City e outros clubes têm conseguido passar por cima dessas limitações através de contratos de publicidade e marketing com empresas detidas por esses magnatas, por valores acima dos praticados pelo mercado, ficando assim com mais dinheiro para investir nos respetivos planteis. O Manchester City, por exemplo, foi adquirido 2008 pelo xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos – que lidera um fundo de investimento Abu Dhabi United Group. Esta época pagou, entre outros, 57.7 milhões de euros por Mendy e 57 milhões de euros por Kyle Walter: dois defesas laterais que custaram quase 120 milhões de euros.
De acordo com as atuais regras de fair play financeiro, um clube não pode gastar (num período de três anos) mais do que ganha.
Vem aí novas regras do ´fair-play` financeiro
É por isso que a UEFA quer criar novas limitações. Numa entrevista ao jornal italiano ´Gazzetta Dello Sport`, Aleksandr Çeferin deu a conhecer as ideias do organismo para diminuir o fosso entre os ricos e menos ricos da Europa do futebol.
Uma das primeiras medidas é a criação de um teto salarial, ideia há muito defendido por Aleksandr Çeferin. O objetivo é levar os clubes a imporem um máximo a pagar a um jogador ou um máximo a pagar por todo o plantel, estabelecendo também diferentes níveis para cada atleta (jogadores-chave, jogadores principais, jogadores de rotação, jovens promessas, jovens).
Outra medida é a introdução de um "imposto de luxo", ou seja, se um clube comprar um jogador por 100 milhões de euros, terá de pagar 10 por cento extra. Esse extra seria distribuído por outros clubes, através dos prémios das competições europeias ou de outros sistemas.
A limitação de números de jogadores por plantel ou números de jogadores emprestados a outros clubes será também outra medida a ser implementada. A ideia passa por privilegiar o empréstimo de jogadores jovens, que possam rodar em clubes de menor dimensão e assim desenvolverem as suas capacidades.
A UEFA deverá anunciar para breve mais medidas no sentido de colocar um travão na loucura em que se tornou o mercado de transferências, caso contrário, a UEFA arrisca-se a ser um grupo de elite, só ao alcance dos mais poderosos clubes, aumentando assim ainda mais o fosso que existe entre os mais ricos e os mais pobres. As principais provas do organismo a nível de clubes têm sido dominadas pelos emblemas das cinco principais ligas: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França.
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