A 24 de setembro deste ano, Edouard Mendy deixou o Rennes para rumar ao Chelsea, de Frank Lampard. O guardião senegalês saltou para a Premier League a troco de 24 milhões de euros (22 milhões de libras) e deixou o futebol inglês de olhos postos na baliza dos blues.

Este sábado, o Chelsea venceu o lanterna vermelha Sheffield United por 4-1, no primeiro jogo em que Edouard Mendy sofreu um golo no campeonato inglês de futebol. No entanto, nem isso desvia o senegalês dos recordes.

Tudo porque Mendy igualou o recorde do inconfundível Petr Cech. Nos últimos sete jogos em que defendeu a baliza dos blues, o guardião de 28 anos sofreu apenas um golo e não permitiu qualquer golo nos primeiros três jogos da Premier League. Para encontrar um registo similar ao de Mendy é preciso voltar a 2004, quando Peter Cech conseguiu a mesma proeza.

À BT Sports, o próprio Petr Cech explicou a contratação de Edouard Mendy. "Tínhamos Kepa e Willy Caballero. Mas decidimos que, como o Kepa estava a passar por um momento difícil em que as coisas não estavam a dar certo para ele no campo, acrescentar outro guarda-redes ao nosso grupo e acordámos trazer o Edouard. E até agora tem-se saído muito bem. Vi trinta ou quarenta guarda-redes nos últimos meses e ele foi o que sempre esteve na minha cabeça", admitiu o antigo guarda-redes do Chelsea.

Mas afinal, quem é Edouard Mendy?

Aos 28 anos, Edouard Mendy chegou ao Chelsea numa fase complicada para a baliza do clube inglês, visto que, na temporada passada, a baliza tinha sido um dos maiores problemas dos blues.

Kepa Arrizabalaga chegou ao Chelsea no verão de 2018 a troco de 80 milhões de euros, o que o tornou no guarda-redes mais caro da história, mas os seus sucessivos erros empurraram o clube para o mercado de transferência novamente. E é aí que entra Edouard Mendy.

Mendy começou no AS Cherbourg, equipa dos escalões inferiores, ainda passou pelo Marselha B, mas foi no Reims, em 2016/17, que deu o ‘salto’ para a Liga francesa, mantendo-se três épocas no clube, antes de assinar na última pelo Rennes. Mas há muito mais por trás da história de vida do senegalês, nascido em França.

Edouard Mendy começou no futebol pela mão do pai, que aos 7 anos o levou a um treino do Caucriauville, um clube de bairro em Le Havre. Seis anos depois, aos 13, foi chamado para os escalões de formação do clube. Aí, Mendy teve como concorrência Zacharie Boucher e ficou 'a aquecer o banco'.

O estatuto de suplente não agradou ao jovem guarda-redes que deixou o clube ao fim de um ano para ingressar no CS Municipaux Le Havre. Quando subiu ao escalão de sénior, Mendy mudou-se para o AS Cherbourg. No entanto, a vida acabaria por não se mostrar mais fácil no novo clube.

Como suplente, Mendy fez duas épocas pelo AS Cherbourg na terceira divisão do futebol francês. O clube desceu à quarta divisão e o guarda-redes passou a ser titular, mas não conseguiu evitar uma nova descida no final da época. Depois disto ficou desempregado.

Do desemprego à baliza do Chelsea

Com o AS Cherbourg na quinta divisão do futebol francês, Edouard Mendy foi aliciado por um empresário que lhe prometeu levá-lo para a terceira divisão do futebol inglês. Assim, o guarda-redes saiu do AS Cherbourg e recusou propostas de outros clubes gauleses. No entanto, a mudança para Inglaterra não chegou.

"Um agente deixou-me na mão. Eu tinha total confiança nele. Garantiu que eu iria assinar por um clube de Inglaterra. Eu só precisava ter paciência enquanto guarda-redes do clube da terceira divisão onde pela qual assinaria. Mas julho passou, depois agosto, tentei entrar em contato com ele e ele não respondeu", contou o próprio Mendy ao Le Parisien, o ano passado.

Depois disso, o guarda-redes ficou desempregado. Mendy passou assim das balizas para a fila do centro de emprego, numa altura em que a namorada estava grávida do primeiro filho dos dois. Um amigo ofereceu-lhe trabalho na Normândia, onde Mendy nasceu, mas o jogador acabou por encontrar outro caminho.

Em 2014/2015, o guarda-redes regressou assim ao primeiro clube, o Le Havre, onde pediu para trabalhar com as reservas. Trabalhava no clube da parte da manhã e à tarde treinava no ginásio. Mas pouco depois tudo mudou. Mendy cruzou-se com Ted Lavie, um antigo treinador, e este decidiu ajudá-lo.

 Ted Lavie falou com um amigo que treinava os guarda-redes do Marselha, que por acaso, estava à procura de um guardião para as reservas. Assim, Mendy viajou até Marselha onde fez uma semana de treino à experiência. Depois disso, ficou na equipa de reservas.

A chegada de Mendy ao Marselha coincidiu com a do treinador Michel, que chamou o jovem guarda-redes várias vezes aos treinos da equipa principal. De volta ao futebol, Mendy deu nas vistas na equipa de reservas e acabou por rumar ao Reims.

Depois de três anos no Reims, onde se tornou titular e ajudou o clube a subir à primeira divisão do futebol francês, foi contratado pelo Rennes. Aqui, um ano foi o suficiente para dar o tão esperado salto para a Premier League.

Entre duas seleções

Filho de pai guineense e mãe senegalesa, Edouard Mendy foi chamado à seleção da Guiné-Bissau para dois amigáveis em Portugal frente a Estoril Praia e Belenenses. Nesta altura, o guarda-redes aceitou o convite mas, mais tarde, quando foi novamente chamado, desta vez para o apuramento para o Taça das Nações Africanas, acabou por recusar.

"Quando a Guiné-Bissau me chamou para os dois particulares em Portugal o meu pai estava muito doente, quase a morrer, e eu quis dar-lhe essa alegria de jogar pelo país dele. Mas o meu sonho sempre foi representar a seleção do Senegal, de onde a minha mãe é natural", revelou, mais tarde, Mendy, citado pela imprensa nacional.

Atualmente, Edouard Mendy soma já sete jogos na baliza da seleção senegalesa.