A abertura do Mundial2014 terá não só futebol, mas também ciência, com uma demonstração da tecnologia que permitirá a um paraplégico dar o pontapé de saída na bola do evento, a “brazuca”, com uma veste robótica.
A tecnologia foi desenvolvida pelo projeto "Andar de Novo", um consórcio formado por 156 cientistas, engenheiros, técnicos e pessoal de apoio de diversos países, coordenado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
A roupa robótica, designada pelos cientistas por exoesqueleto, é constituída por alumínio e plástico resistente. Os sinais dos neurónios dos pacientes são detetados numa toca de sensores, e captados por um computador, que transforma esses sinais em comandos para as articulações do exoesqueleto.
A fase de testes com seres humanos foi encerrada a 28 de maio e os resultados serão apresentados nos próximos meses em revistas científicas, segundo a assessoria de imprensa do projeto “Andar de Novo”.
Ao todo, foram realizados 17 meses de trabalho científico e testes clínicos liderados, no Brasil, pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal (INN-ELS) e pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Um dos oito pacientes que participaram dos testes deverá ser o responsável pelo chute inicial do Mundial2014.
Os testes com humanos começaram em janeiro deste ano, com pacientes entre 20 e 40 anos com paralisia dos membros inferiores causada por lesão medular total. Em 29 de abril, o primeiro paciente conseguiu caminhar com o equipamento, usando apenas a atividade cerebral.
A demonstração na abertura do evento, no próximo dia 12, no jogo que opõe o Brasil á Croácia, em São Paulo, não faz parte do estudo, mas tem o objetivo de aproximar a ciência da população. "Uma audiência estimada em mil milhões de pessoas assistirá ao momento em que o cérebro humano - e a ciência brasileira - darão um de seus maiores passos", afirmaram, em nota, responsáveis pelo projeto.
Os resultados do Andar de Novo aparecem após 30 anos de trabalhos de pesquisas na área da neurociência e 15 anos de investigação em interfaces entre o cérebro e máquinas. As próximas fases do projeto tentarão aperfeiçoar a tecnologia.
O desenvolvimento da tecnologia contou com polémicas entre cientistas e mudanças de abordagem. Em julho de 2011, a imprensa brasileira divulgou que dez pesquisadores haviam abandonado o Instituto Internacional de Neurociências de Natal, e criticavam Nicolelis por ser autoritário.
Jornais locais também noticiaram a mudança de abordagem de Nicolelis, que planejava usar eletrodos implantados cirurgicamente no crânio dos pacientes, mas se rendeu à toca de sensores, que possui uma captação mais limitada dos sinais.
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