Quando Portugal defrontar os Estados Unidos, este domingo, em Manaus, na segunda jornada do Grupo G do Mundial2014 de futebol, vai encontrar uma equipa muito diferente da que derrotou a Inglaterra em 1950 e tinha dois importantes jogadores luso-americanos.
Na última vez que o Brasil acolheu o Campeonato do Mundo, os Estados Unidos surpreenderam o mundo do futebol vencendo a Inglaterra, uma das favoritas a vitória final, por 1-0. Livros e um filme foram feitos sobre o jogo.
Com apenas um jornalista norte-americano a acompanhar o campeonato, a notícia da Associated Press, que foi reproduzida pelo The New York Times, chegou a dizer que o golo da vitória tinha sido assinalado por Ed Souza, filho de imigrantes açorianos, mas o feito pertenceu ao emigrante haitiano, Joe Gaetjens.
John "Clarkie" Souza, outro filho de emigrantes açorianos, foi mesmo incluído no 11 ideal desse Mundial e foi o único jogador norte-americano a ter esta honra até Claudio Reyna o conseguir em 2002.
Dois anos antes desse Mundial, em 1948, a presença portuguesa na seleção norte-americana tinha sido ainda mais numerosa.
"A seleção que participou nos Jogos Olímpicos de 1948 era basicamente a equipa Ponta Delgada", disse o jornalista Frank Dell'Apa à agência Lusa.
"Ponta Delgada" era uma equipa de Fall River, no estado de Massachusetts, que foi fundada por imigrantes açorianos residentes na cidade em 1915.
Em 1920, o futebol viveu uma época dourada nos EUA, com dezenas de milhares de adeptos e alguns dos melhores jogadores americanos de sempre, como Billy Gonsalves, também de origem portuguesa, mas tudo mudou na década seguinte.
"Nos anos 30, os donos das equipas começaram a não querer aceitar aos regulamentos e queriam ‘americanizar’ o futebol", introduzindo mais substituições e eliminatórias no final dos campeonatos, lembra Frank Dell'Apa.
Dell'Apa explica que "as comunidades imigrantes não resistiram aos regulamentos, participando em todas as competições."
O futebol sobreviveu apenas em alguns locais, como Nova Iorque, Nova Jérsia, Boston, Fall River, New Bedford e St. Louis, e jogadores e equipas de comunidades imigrantes ganharam destaque.
Nos anos 30 e 40, o "Ponta Delgada" ganhou vários National Amateur Cup, um campeonato nacional amador, e a taça norte-americana.
Ed Souza e John Souza, apesar de filhos de imigrantes e de terem crescido no centro da comunidade portuguesa, foram jogadores do clube e sentiam-se americanos quando jogavam pela seleção.
"O John e o Eddie Sousa não se sentiam portugueses. Sentiam-se americanos, de Fall River. Eu não era alemão, era de Kensington, na Pensilvânia", lembrou o capitão da equipa, Walt Bahr, filho de alemães.
Na altura, todos os jogadores eram semi-profissionais, como Ed Souza, que era camionista, e uma semana ao serviço da seleção pagava apenas 100 dólares (cerca de 74 euros). Este ano, cada jogador dos EUA presente no campeonato recebe pelo menos 76 mil dólares (56 mil euros).
Steve Holroyd, colaborador dos "American Soccer History Archives" e da revista "Soccer History", garante que os portugueses vão enfrentar este domingo uma equipa muito diferente da dos anos 50.
"Os jogadores de 1950 sabiam que o eram a tempo parcial e que estavam a jogar contra os melhores do mundo. Os jogadores de hoje podem não acreditar que vão ganhar a taça, mas acreditam certamente que podem passar à segunda fase e ir mais além", avisa o escritor.
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