O grupo extremista Estado Islâmico (EI) ou Daesh agoniza no Iraque e na Síria, mas a ameaça que representa para o Mundial de Futebol na Rússia é real e deve ser levada a sério, segundo alguns especialistas.
No outono, a Wafa Media Foundation, um órgão de imprensa do Daesh, começou a difundir nas redes sociais fotomontagens apresentando algumas estrelas do futebol mundial, como Lionel Messi e Neymar, ou o treinador da seleção de França, Didier Deschamps, em uniformes de cor laranja e com uma faca na garganta, mortos no chão ou em chamas. Antes, o Daesh tinha lançado alguns cartazes relacionados com o Mundial2018. Num deles, um soldado aparece a olhar para Estádio Luzhniki, em Moscovo, palco da final do Mundial2018, num cartaz com a seguinte inscrição: "Prometo que o fogo de Mujahideen [combatente da religião Islâmica] te vai queimar. Fica à espera".
As ameaças, em inglês ou francês, são explícitas: "Eles não estarão a salvo enquanto não estivermos nos países muçulmanos!" ou "Não vamos parar de aterrorizá-los nem de dar cabo das suas vidas!"
Noutro cartaz, onde aparece Messi a chorar sangue, o grupo terrorista deixou a seguinte mensagem: "Estão a lutar com um estado que não tem a palavra falha no dicionário".
Ainda em maio, nova ameaça, agora envolvendo Cristiano Ronaldo e, de novo, Lionel Messi. Num dos cartazes, os dois melhores jogadores do Mundo nos últimos dez anos aparecem a ser decapitados, num cartaz com a seguinte mensagem: "O chão vai encher-se com o vosso sangue".
Brian Glyn Williams e Robert Troy Souza, autores de um relatório divulgado na semana passada pelo Combating Terrorism Center (CTC) de West Point, intitulado "A ameaça do Estado Islâmico contra o Campeonato do Mundo FIFA 2018", asseguram que "a imprensa pró-Daesh lançou uma campanha sem precedentes nas redes sociais a incitar ataques contra o torneio".
"Nos últimos anos, houve inúmeros ataques terroristas bem-sucedidos e vários projetos frustrados, cujos autores estavam ligados ou eram inspirados pelo EI. Isso sugere que o grupo tem a capacidade de lançar um ataque durante o Campeonato do Mundo", acrescentam.
Estes ataques podem ser realizados por "lobos solitários", indivíduos isolados influenciados pela propaganda do Estado Islâmico na internet, ou por jihadistas russos ou originários das repúblicas do Cáucaso que regressaram recentemente da Síria e do Iraque, após a derrota de grupo terrorista em ambos os países.
O laboratório de ideias americano Center for Strategic and International Studies (CSIS) acredita que cerca de 8.500 jihadistas da Rússia ou de países da Ásia Central alistaram-se nas fileiras do Daesh ou de outros grupos extremistas no Médio Oriente.
Embora se desconheça quantos regressaram aos seus países, sabe-se que, nos meses que antecederam a sua derrota na Síria e no Iraque, o Daesh deu poderes a alguns dos seus membros, criando células adormecidas nos seus Estados de origem.
As autoridades russas alertaram para os riscos associados ao regresso dos jihadistas, especialmente na Rússia, uma vez que o seu Exército lançou uma intervenção militar em 2015, de apoio ao regime sírio.
Independentemente disso, a Mundial de Futebol de 2018 atrai por si só a atenção de grupos jihadistas, assegura à AFP Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris, um especialista em geopolítica do futebol.
"O risco terrorista existe agora para todas as competições desportivas globais. São eventos que atraem as câmeras e, portanto, os terroristas. A intervenção russa na Síria é um fator agravante, mas não é o que cria o problema", explica.
Eventos desportivos são alvos fáceis
Bonifácio lembra que as medidas de segurança foram draconianas durante a Europeu de Futebol de 2016 em França ou nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.
"Hoje, sempre que há um um evento desportivo global, o orçamento mais importante é o da segurança", aponta o especialista.
As ameaças do Daesh ou dos seus simpatizantes, publicadas com poucos cliques, não custam nada, mas geram custos de segurança de dezenas ou até centenas de milhões de euros.
Com 64 jogos em 12 estádios de 11 cidades russas, "não vão faltar 'alvos fáceis' que poderiam ser atacados, enquanto os locais oficiais se tornarão em 'alvos difíceis', protegidos por várias camadas de segurança", indica o relatório do CTC.
Em Moscovo, as autoridades acreditam poder evitar qualquer ataque. Os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, em 2014, decorreram sem nenhum incidente, lembram.
"O nosso dispositivo de segurança prevê todas as ameaças possíveis, todos os riscos. Tudo está sob controle e espero que possamos encontrar um bom equilíbrio entre conforto e segurança", assegurou recentemente Alexei Sorokin, diretor do Comité de Organização do Mundial.
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