Quando, esta noite, entrarem em campo, as estrelas da futebol do Brasil vão calçar as mais belas e modernas chuteiras que há o mercado, algumas delas mesmo personalizadas.
Mas nem sempre foi assim. E há até lugar na história dos Mundiais de futebol para um jogador brasileiro que estava descalço. É essa história, a história de Leônidas, o jogador que fez um golo descalço no Mundial de 1938, em França, que hoje recordamos.
Não se pense, contudo, que Leônidas começou a jogar descalço. Foram apenas as circunstâncias do jogo que levaram a tão inusitado golo.
Quem era Leônidas?
Mas vamos por partes. Quem era, afinal, Leônidas? Nasceu no Rio de Janeiro a 6 de setembro de 1913 e foi uma das primeiras grandes 'jóias' do futebol brasileiro, destacando-se sobretudo na década de 1930. Era capaz de fazer jogadas impossíveis em campo, mostrando uma genialidade ímpar e uma capacidade invulgar para marcar golos. Características que lhe valeram a alcunha de 'Diamante Negro'.
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Ele era, então, uma das figuras da seleção brasileira da sua era, à entrada para o Mundial de 1938, que se jogou em França. E confirmou-as, terminado como melhor marcador da prova. Mas foi pelo tal golo marcado descalço que acabou por entrar para as histórias dos Campeonatos do Mundo.
Como tudo se passou
Afinal, como tudo se passou? É simples: Leônidas viu a sua chuteira rasgar-se durante um jogo e, como não tinha outra 'à mão' com o seu número à disposição (os tempos eram, claro, outros), não hesitou e continuou a jogar descalço.
Foi assim, sem nenhum tipo de proteção no pé, que acabou por marcar um dos três golos que assinou nesse jogo. Só que não era um jogo qualquer...era um jogo de um Campeonato do Mundo!
Aconteceu numa vitória do Brasil por 6-5 sobre a Polónia, em Estrasburgo, debaixo de muita chuva, a 5 de junho de 1938. A história é simples e foi contada várias vezes pelo próprio:
"Cada jogador tinha apenas um par de chuteiras. O campo estava lamacento e uma das minhas chuteiras acabou por se rasgar. Como tenho um pé pequeno, foi difícil encontrar outra chuteira para mim, para trocar com um suplente. Houve uma falta contra a Polónia, chovia muito e o árbitro juiz não se apercebeu. Naquela altura o equipamento do Brasil era de meias pretas, com apenas friso verde e amarelo, e com a lama ele não reparou que eu estava a jogar descalço e que não podia estar a jogar assim. Então mantive-me em campo e a falta foi cobrada. A bola bateu na barreira, sobrou para mim, eu prossegui o lance e acabei por fazer golo."
Foi o terceiro golo de Leônidas nesse encontro, fazendo então o 6-4 para o Brasil, já o prolongamento. Um golo que acabou por ser decisivo para o triunfo dos 'canarinhos', visto que a Polónia ainda viria a reduzir para 6-5, mas que de acordo com as regras não devia ter valido. Na altura estas diziam que um jogador não podia interferir numa jogada se não estivesse calçado e só recentemente as regras foram atualizadas, permitido agora que um jogador, se perder uma das chuteiras, possa continuar a intervir no jogo até à primeira interrupção do mesmo.
Mas isso pouco importa. O árbitro não viu e para a história ficou mesmo o golo que Leônidas marcou descalço.
E depois, o que aconteceu?
A vitória sobre a Polónia, após prolongamento, nesse encontro referente aos oitavos de final, permitiu ao Brasil seguir para os quartos de final. Aí, os brasileiros começaram por empatar 1-1 com a Checoslováquia, vencendo depois por 2-1 no jogo de desempate. Leônidas (agora já novamente calçado), marcou um golo em cada uma dessas partidas com os checoslovacos.
Nas meias-finais o Brasil encontrou, depois, a Itália e acabou derrotado por 2-1. A Itália viria a sagrar-se campeã do mundo, revalidando o título conquistado quatro aos antes, e o Brasil iria disputar o encontro de atribuição dos 3º e 4º lugares com a Suécia.
Acabaria por vencer por 4-2, conseguindo a sua melhor classificação em Mundiais até então, com mais dois golos de Leônidas, que assim terminou como melhor marcador da prova, com sete golos (seis calçado e...um descalço).
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