Guerra. Inglaterra não conheceu outra palavra entre 1939 e 1945, com um país totalmente mergulhado nos esforços bélicos, sociais e económicos contra a Alemanha. A II Guerra Mundial trouxe de volta uma realidade que a Europa pensara ter enterrado em 1918, e com ela o futebol, a FIFA e o Mundial saíram temporariamente de cena. Porém, uma outra guerra chegou mais cedo ao organismo mundial e aos britânicos, com a questão do amadorismo.
Considerado o berço histórico do futebol, a Grã-Bretanha sempre teve um entendimento muito particular sobre o jogo e as suas regras. Esse entendimento não impediu a adesão à FIFA dos seus países membros, mas criou desde sempre um distanciamento da vertente marcadamente regulatória – e autoritária - do organismo mundial.
Em 1920 deu-se o primeiro afastamento de Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda. Contudo, foi em 1928 que os britânicos “declararam guerra” à FIFA e viraram costas à entidade máxima do desporto. O motivo? A interpretação do amadorismo no futebol. Esta questão, que atualmente pouca discussão levanta entre os mais diversos agentes, foi o suficiente para criar um exílio de 18 anos dos países da Grã-Bretanha.
Os responsáveis da Federação Inglesa defendiam que os jogadores que procuravam uma compensação financeira pelo tempo que retiravam aos seus empregos deviam ser considerados como profissionais e, por isso, dispensados da participação nos Jogos Olímpicos. Por outro lado, a FIFA advogava a ideia de que estas compensações não invalidavam o estatuto de jogadores amadores.
A diferença de opinião sobre este ponto ficou bem vincada nas palavras de William Pickford, o secretário-geral da Federação Inglesa de então, que deixou patente o clima de tensão entre os dois organismos: “Não temos nada contra a FIFA, mas nós preferimos lidar com os nossos problemas à nossa maneira e não ficar enredados em muitas leis”.
O ‘divórcio’ prolongou-se por 18 anos, atravessando todo o ambiente de guerra vivido no Mundo durante seis anos. Se a II Guerra Mundial terminou em 1945, foi preciso esperar mais um ano pelo regresso de Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales ao seio da FIFA. A reconciliação foi selada no Congresso da FIFA, no Luxemburgo, entre 25 e 27 de julho, após os esforços diplomáticos do presidente do organismo, Jules Rimet, e dos negociadores britânicos Arthur Drewry e ‘Sir’ Stanley Rous.Para colocar um ponto final no diferendo contribuiu decisivamente a interpretação do Governo inglês em recuperar a normalidade o mais depressa possível no pós-guerra. Aliás, a própria Federação Inglesa passou a adotar uma postura mais tolerante e aberta ao futebol internacional, do qual estava banida.
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