Quando faltam dez dias para o início do Mundial de Futebol de 2014, o palco da abertura do evento, o estádio do Corinthians, em São Paulo, ainda não está concluído.
O estádio recebeu um "jogo-teste" no domingo, com um jogo do campeonato brasileiro, mas a disputa ocorreu sem que a parte norte das bancadas provisórias fosse ocupada, por determinação do Corpo dos Bombeiros, que ainda não emitiu o certificado de segurança.
Pelo menos outros quatro estádios que vão acolher jogos do Mundial também têm as obras atrasadas e, embora já "entregues" à Federação Internacional de Futebol (FIFA), ainda ajustam "detalhes", como a Arena Pantanal, em Cuiabá, no Mato Grosso, onde ainda decorrem obras na principal avenida que dá acesso ao estádio.
O mesmo acontece com o estádio da Baixada, em Curitiba, no sul do Brasil, que foi a obra que sofreu mais atrasos em relação ao prazo inicial, estando ainda a decorrer trabalhos na parte exterior.
Internamente, a principal crítica da imprensa local, que também dá conta das preocupações da população, tem sido a decisão, tomada pelo Governo brasileiro, de realizar o campeonato em 12 cidades-sedes, enquanto a FIFA exigia apenas oito.
A escolha, defendida pelo Governo brasileiro como uma forma de levar o "legado da Copa" a estados mais pobres do Brasil, gerou contradições como gastos para a construção de um estádio de futebol em Manaus, no estado do Amazonas, onde não há tradição futebolística, gerando dúvidas sobre o que será feito com o estádio após o fim do Mundial.
As principais obras em atraso, contudo, dizem respeito a projetos de mobilidade urbana, alguns dos quais longe de estarem concluídos, como obras de alargamento de troços do metro, construção de avenidas exclusivas para autocarros e a modernização dos principais aeroportos do país, cujo concurso público só foi realizado no ano passado.
O Governo brasileiro argumentou que os projetos urbanos não entregues a tempo para o Mundial já faziam parte do planeamento das cidades e são obras que serão concluídas "para a população", independentemente dos jogos.
O executivo receia ainda que as manifestações que aconteceram em junho passado durante a Taça das Confederações se repitam.
Em entrevista à imprensa local, um grupo de manifestantes, identificado como membros do grupo "Black Bock", avançou que haverá protestos e mencionou a participação de membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), maior fação criminosa do país, comandada por reclusos de São Paulo.
Outra grande preocupação é a ameaça de greve nos transportes públicos, que recentemente causou o caos no trânsito das duas maiores cidades brasileiras, contabilizando centenas de autocarros vandalizados no Rio de Janeiro.
Nas redes sociais, no entanto, também tem surgido espaço nos últimos dias para manifestos a favor dos jogos, com textos que destacam a "desinformação" entre aqueles que fazem campanha contra o evento.
Os argumentos favoráveis mostram que apenas 30 por cento do total de 25,6 mil milhões de reais (8,3 mil milhões de euros) investidos no Mundial dizem respeito aos estádios, sendo o restante destinado a obras de transporte coletivo e melhoria em estradas e aeroportos.
Outro ponto a favor lembra que uma grande parcela dos gastos na construção de estádios são investimentos - empréstimos públicos, que serão reembolsados com juros - e não apenas despesas.
Em ano de eleições presidenciais no país, o Mundial tem servido de “arma” por apoiantes e opositores do Governo, que defendem ou criticam o evento conforme a sua própria "agenda política".
O próprio ex-jogador Ronaldo, membro do Comité Organizador dos jogos, afirmou na semana passada estar "envergonhado" pelos atrasos nos preparativos feitos pelo seu país, culpando o atual Governo pelo problema, poucos dias após ter declarado oficialmente o seu apoio ao pré-candidato às eleições presidenciais Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
O entusiasmo da população em relação ao Mundial, ao contrário do que acontece em outros anos, ainda não é percetível, e apenas algumas bandeiras começam a ser penduradas pelas ruas.
A expetativa da FIFA e das autoridades, no entanto, é de que quando a seleção canarinha entre em campo no próximo dia 12, contra a Croácia, os brasileiros deixarão de lado as queixas por alguns dias e recordarão a sua paixão pelo futebol.
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