1946 foi um ano de viragem no Mundo. A II Guerra Mundial, que acabara um ano antes, deixara um rasto global de destruição, nomeadamente numa Europa em ruínas e com um longo caminho de reconstrução pela frente. E o futebol, adorado pelo povo, parecia uma distração demasiado distante.
O último Campeonato do Mundo realizara-se em 1938, com o segundo triunfo da Itália. Desde então, tudo tinha mudado. Em 1942 o mundo estava mergulhado na guerra e a competição foi suspensa pela primeira vez desde 1930. A dimensão e duração do confronto ditariam um novo cancelamento em 1946. As portas que se fecharam nesse ano abriram, porém, uma janela para o futuro com o histórico congresso da FIFA, no Luxemburgo, que marcou a agenda para o regresso do Mundial de futebol.
Sob a liderança do presidente Jules Rimet, a FIFA empenhou-se em recuperar o Campeonato do Mundo e o pontapé de saída deu-se no pequeno Luxemburgo, depois de muitos avanços e recuos. Perante o fantasma da ausência de países interessados em acolher a prova, devido aos elevados gastos de organização num tempo de escassez e incerteza, o Brasil avançou com uma condição: o Mundial seria em 1950 e não em 1949, como a FIFA desejava.
Concretizava-se assim o plano que já estava traçado desde 1942. De facto, tudo apontava no organismo para a atribuição da competição aos canarinhos, após duas edições no Velho Continente. A Alemanha era antes do confronto bélico o outro pretendente à organização, mas a destruição que se verificou nos anos seguintes inviabilizou nova candidatura.
Aliás, a própria Alemanha fora banida da fase de qualificação, tal como o Japão. Nesses dias, o futebol era a última preocupação germânica. Por outro lado, a Itália e a Áustria não foram alvo de sanções no pós-guerra e puderam participar, ainda que apenas a ‘Squadra Azzurra’, na qualidade de última campeã do Mundo, tivesse marcado presença em 1950, depois de os austríacos se terem excluído do apuramento.
Com a presença de 34 nações no seu 25º congresso – a primeira grande reunião desde 1934 –, a FIFA decidiu igualmente a atribuição do Campeonato de 1954 à neutral Suíça, que escapara às trágicas consequências da II Guerra Mundial.
As próprias atas deste congresso refletem o sentimento de se estar a viver um momento histórico, como escreveu então o secretário-geral da FIFA, Ivo Schricker: “O presente congresso foi um dos mais importantes já realizados, não só pelo número de delegados presentes, mas também pela importância das decisões que foram tomadas”.
O Mundial que 1946 “perdeu” foi a vitória da FIFA para um futuro sem mais interrupções e sempre a crescer.
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