O Governo espanhol pediu esta quarta-feira (23) transparência e ações urgentes da Federação de Futebol do país (RFEF) a respeito do seu presidente, Luis Rubiales, sobre o beijo à jogadora Jenni Hermoso, na cerimónia de entrega de medalhas após a final do Mundial feminino de futebol.

Rubiales, de 46 anos, foi duramente criticado pelo seu comportamento após a final do Mundial, em que a Espanha derrotou a Inglaterra por 1-0, no último domingo.

Inicialmente, o dirigente ignorou as críticas, mas depois publicou um pedido de desculpas, que foi considerado "insuficiente".

A RFEF convocou na terça-feira uma assembleia-geral extraordinária urgente para a próxima sexta-feira e iniciou uma investigação interna sobre o episódio, após a crescente pressão para que medidas sejam tomadas contra Rubiales.

"Transparente e urgente"

O secretário de Estado para o Desporto e presidente do Conselho Superior de Desportos (CSD), Víctor Francos, mostrou-se disposto a agir caso a RFEF não o faça: recorrer ao Tribunal Administrativo do Desporto (TAD) de Espanha.

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"Imagino que o que as pessoas responsáveis farão será conversar com as partes envolvidas e redigir um relatório", declarou Francos à rádio Cadena SER sobre a investigação interna da RFEF.

"Transmiti pessoalmente à Federação que esse relatório tem que ser transparente e urgente, porque se não for, seremos obrigados a tomar as medidas adicionais", acrescentou.

Na terça-feira, o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, considerou "inaceitável" a ação de Rubiales e declarou que o pedido de desculpas do dirigente foi "insuficiente", exigindo que o o presidente da federação tome medidas, o que parece ser um pedido velado para que renuncie à presidência da RFEF.

"O Governo disse o que disse: é um ato inaceitável e usaremos mais diligências e instrumentos para comprovar a transparência do processo e a resolução correspondente, se chegar o seu momento", acrescentou Francos.

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Rubiales foi criticado no mundo inteiro, mas ainda mais em Espanha, tanto pela sociedade como também por personalidades da política e do desporto, incluindo do próprio futebol.

A atacante norte-americana Megan Rapinoe, uma das melhores jogadoras do mundo, foi enfática numa entrevista à revista 'The Atlantic' na terça-feira, ao comentar o beijo forçado de Rubiales a Hermoso, na final do Mundial de futebol feminino.

"Em que tipo de mundo virado do avesso estamos? No maior palco, onde deverias estar a comemorar, Jenni [Hermoso] tem que ser atacada fisicamente por esse homem", disse Rapinoe.

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"As federações desportivas estão submetidas à Lei do Desporto e o Conselo Superior do Desporto deve atuar para que o machismo não fique impune", escreveu na rede social X (antigo Twitter) a ministra do Trabalho e número três do governo Sánchez, Yolanda Díaz.

Díaz anunciou que o seu partido, o Somar, apresentou uma denúncia ao CSD por infração grave.

Além dessa denúncia, o presidente da Escola Nacional de Treinadores de Futebol (CENAFE), Miguel Galán, e o ex-árbitro Xavier Estrada Fernández também abriram processos no CSD contra Rubiales.

Ainda esta quarta-feira, a co-fundadora do sindicato de futebolistas em Espanha criticou Rubiales e diz-se pouco surpreendida com o gesto do presidente da federação espanhola. Tamara Ramos, que trabalhou na RFEF entre 2010 e 2018 disse ao canal Telecinco que já foi vítima de assédio de Luis Rubiales.

"Sofri humilhações, ameaças, palavras que nem sequer posso repetir. Foi uma barbaridade. À frente de toda a gente, dizia que eu tinha chegado onde cheguei de joelhos e perguntava-me de que cor era a minha roupa interior naquele dia. Sentia-me sozinha, sendo melhor, neste mundo do futebol, é difícil fazeres frente a este tipo de coisa", contou Tamara Ramos.