Os futebolistas do Textáfrica depende de frangos e ovos doados e de "alguns subsídios" pagos por Alfredo Dézima, presidente do clube que Mário Coluna treinou e levou à conquista do primeiro Moçambola após a independência em 1976.
O Textáfrica está no penúltimo lugar do campeonato moçambicano, com apenas sete pontos em 11 jogos, mas a pandemia coloca em dúvida o futuro, muito por causa da falta de receitas de bilheteira.
A conversa telefónica entre o presidente e o diretor-desportivo Vidal Muianga - para acertarem "a entrevista com os jornalistas" - não deixa dúvidas sobre as dificuldades que afetam o clube.
"O presidente vai demorar um pouco a chegar porque está a dar um ‘oriente’ [algum dinheiro] aos miúdos [jogadores]", disse Muianga, que organizou a conversa com ´o mecenas`.
Dézima assegura que o Téxtáfrica, clube da cidade moçambicana de Chimoio, capital provincial de Manica, no centro do país, passa pela sua pior crise e luta para sobreviver, porque o novo coronavírus assim o obriga, à ausência dos adeptos dos recintos desportivos.
Longe vão os tempos da fábrica que dava dinheiro à equipa, a extinta Sociedade Algodoeira Portuguesa (Soalpo), que fechou depois da independência de Moçambique, em 1975.
"Não, não era disto que estávamos à espera", admitiu o presidente do Textáfrica, quando questionado sobre o 13.º e penúltimo posto do Moçambola, com uma vitória e quatro empates nos primeiros 11 jogos.
Com dois meses de salários em atraso - já chegaram a ser sete - e com 16 jogadores por alimentar, que vivem no lar do clube, porque são de fora da província de Manica, só os frangos e ovos oferecidos pelo empresário Abel Antunes e as ajudas do presidente interino mantêm o Textáfrica .
Os dois dizem assegurar 70% dos custos do emblema fundado na era colonial pelo industrial português Manuel Magalhães, que alinha nos encontro com equipamentos oferecidos, pela empresa de apostas desportivas Jogabets.
"Eu tenho dado [aos jogadores] um subsídio do pouco que tenho conseguido, para assegurar o clube, enquanto esperamos que as coisas melhorem. Enquanto os jogadores não tiverem motivação, os resultados não serão bons e não podemos exigir muito", lamentou Alfredo Dézima, recordando que ainda "há quatro meses houve greve" no clube.
Depois de a fábrica têxtil ter fechado, o clube passou a depender fortemente das receitas de bilheteira, até porque os sócios são poucos e pagam quotas irrisórias.
Apesar disso, os adeptos “amam o Textáfrica e têm paixão por futebol”, mas também foram severamente atingidos pela pandemia de covid-19: "Força de vontade não falta, mas a pandemia mexeu com todo o mundo. Eles podem estar a sentir a mesma dor que eu sinto, mas não têm como ajudar".
Proprietário de uma gráfica, Dézima usa recursos da sua pequena empresa para ajudar o histórico clube, por "amar o futebol".
"Eu sou de Chimoio, acabei sentindo a paixão e disse ´vamos lutar`. É mesmo paixão pelo futebol", frisou, apesar de desconhecer por quanto tempo mais aguentará o clube.
Os desafios são muitos, mas, dentro de campo, são hoje retomados, no terreno do Ferroviário de Lichinga, após a pausa para seleções, na 12.ª jornada do Moçambola.
O internacional português Mário Coluna, que vestiu 57 vezes a camisola da equipa das ‘quinas’ e arrebatou os dois títulos europeus conquistados pelo Benfica (1961 e 1962), treinou o Textáfrica, depois de regressar a Moçambique, onde também orientou o histórico Ferroviário de Maputo e a seleção nacional.
Venerado por onde passou, "o senhor Coluna", como o tratava Eusébio, com quem jogou o histórico Mundial de 1966 , também presidiu à Federação Moçambicana de Futebol (FMF).
Moçambique tem registado desde junho um aumento do número de mortes e infetados pelo novo coronavírus. Face a isso, as autoridades locais alertam para o risco de uma terceira vaga da pandemia de covid-19, que já provocou no país 888 mortes entre os 78.074 casos identificados.
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