No último fim de semana, Paulo Fonseca exaltou-se, encostou a cabeça ao árbitro Benoit Millot que dirigiu o Lyon-Brest (2-1) no passado domingo. A imagem correu mundo e mereceu forte reprovação do órgão disciplinar da Liga Francesa que suspendeu o treinador do Lyon, impedido de entrar no balneário da equipa que lidera por nove meses, antes, durante e depois dos jogos. A sanção também cobre acesso ao balneário da equipa antes, durante e depois do jogo, neste caso até 15 de setembro deste ano.

Os 16 anos ao lado de Paulo Fonseca dão a Nuno Campos mais do que propriedade para falar sobre o técnico do Lyon. O pesado castigo de nove meses aplicado pelo Comité Disciplinar da Liga francesa de futebol ao treinador luso de 51 anos foi a base da nossa conversa com Nuno Campos, o homem que acompanhou o treinador no Paços de Ferreira, FC Porto, SC Braga, Shakhtar Donetsk e Roma.

Nuno Campos assegura que Paulo Fonseca "é uma pessoa extremamente tranquila", e que aquilo que aconteceu no domingo "pode acontecer a qualquer um de nós, fruto da própria exigência do nosso trabalho, do nosso stress."

Quem conhece o Paulo sabe que é impensável isto voltar a acontecer em toda a carreira dele, disse Nuno Campos

"Qualquer pessoa está sujeita a cometer qualquer tipo de erros na vida, seja ela privada, seja ela desportiva, mas não devemos ser penalizados ao ponto de a penalização se tornar injusta, algo que me parece ser o caso", declarou o treinador de 49 anos.

Para Nuno Campos não há dúvida: a Liga Francesa quer fazer do treinador um exemplo ao aplicar-se um castigo severo. O problema é fazer isto com alguém que tem sido "um exemplo ao longo de toda a carreira."

"Acho que, injustamente, a Liga Francesa quer fazer de alguém, que tem sido um exemplo ao longo de toda a carreira, o bode expiatório de algo que acontece algumas vezes de uma forma geral no futebol. É extremamente injusto que o faça, até pela pessoa é [Paulo Fonseca] e por toda a carreira. Pela forma como tem conduzido a carreira, não merece que isto seja feito", defende.

Comité Disciplinar acusa Paulo Fonseca de "se atirar ao árbitro", treinador português defende-se

O presidente do Comité Disciplinar da Liga francesa de futebol, Sébastien Deneux, acusou Paulo Fonseca de "se atirar ao árbitro" Benoit Millot, encostando-lhe a cabeça.

"O Comité deplora que, mais uma vez, uma personalidade da Ligue 1 tenha adotado este comportamento. Fonseca é um treinador deste campeonato, acima de tudo um educador, e nem é preciso dizer que esta atitude é estritamente incompatível com os seus deveres [...] Fonseca é um treinador deste campeonato, acima de tudo um educador, e não é preciso dizer que esta atitude é estritamente incompatível com os seus deveres", declarou o dirigente.

Paulo Fonseca, treinador do Lyon
Paulo Fonseca, treinador do Lyon Paulo Fonseca, treinador do Lyon créditos: Lyon

Paulo Fonseca reagiu, pela primeira vez, ao castigo, na quinta-feira, antes do duelo do Lyon para a Liga Europa.

"Sinto uma grande injustiça em relação à decisão que foi tomada ontem. Quero deixar claro que nunca toquei no árbitro e nunca tive qualquer intenção de ser agressivo," afirmou o trinador português, em declarações ao canal francês C+.

O antigo treinador do Santa Clara aproveitou a conversa com o SAPO Desporto para enviar "um grande abraço de solidariedade, nesta situação sensível" a Paulo Fonseca, uma pessoa que "sempre foi muito cumpridor, que é muito correto com todos os intervenientes ligados ao futebol,"

"Talvez esteja a olhar para isto e a sentir um pouco mais essa injustiça, numa ação que ele próprio naturalmente considera que não devia ter tido, mas que pode acontecer a qualquer um de nós. Mas não devemos ser penalizados ao ponto de tornar as coisas também injustas... sabendo que tem de haver uma penalização, não pode ser uma penalização [com impacto] em quase duas épocas desportivas. Porque vai terminar este campeonato e ainda vai apanhar o outro", recordou.

Os nove meses de castigo são, na opinião de Nuno Campos, "completamente injustos" já que vai "limitar o futuro" do técnico, apesar de reconhecer que Paulo Fonseca errou. O antigo adjunto do treinador do Lyon espera que "o castigo seja muito reduzido", caso Paulo Fonseca opte por recorrer do mesmo aos órgãos de recurso em França e mesmo ao Tribunal Arbitral do Desporto, na Suíça.

O castigo de Paulo Fonseca pode ainda ser alargada às competições europeias, mas essa "é uma decisão que compete à Federação Francesa de Futebol".

No dia do incidente, Paulo Fonseca pediu desculpas pelo gesto, admitindo que errou, e o próprio clube ‘lyonnais’ anunciou que iria sancionar o técnico internamente.