Foi quase, mas o quase não chega. O FC Porto esteve muito perto de conseguir uma reviravolta histórica contra o Manchester United (3-3), mas o voo de Maguire, já em tempo de compensação, estragou a festa e impediu uma repetição da vitória épica de há 20 anos, que culminou com a conquista da Liga dos Campeões.
Fica a demonstração de garra, coragem e qualidade portista acima de tudo, além do precioso primeiro ponto na Liga Europa 2024/25. Se não for por mais nada, o triunfo moral da desilusão após um empate contra o poderoso Manchester United também é prova do crescimento do futebol português.
O jogo explicado: Carrossel de emoções quase sorriu ao Dragão
Para qualquer adepto do FC Porto, este jogo foi um autêntico carrossel de emoções, que oscilou entre a raiva e o orgulho, terminando com um sentimento de injustiça e tristeza por os pupilos de Vítor Bruno não terem aguentado o assalto final do Manchester United durante mais uns minutos.
Ressalva-se a crença infinita da equipa que nunca baixou os braços, nem mesmo quando o cenário parecia negro, mas lamenta-se a ineficácia para resolver o jogo e a incapacidade de guardar a bola quando estava em superioridade numérica. A inexperiência também é um fator determinante neste nível, apoiada no facto de o jogador mais velho dos dragões em campo ter sido Marko Grujic (28 anos).
Os azuis e brancos arrancaram os minutos iniciais a todo o gás, mas cedo os britânicos travaram esse ímpeto inicial. Logo aos 7 minutos, Marcus Rashford iniciou uma grande arrancada pela esquerda, tirou João Mário e Eustaquio do caminho e rematou para o primeiro golo, num lance em que Diogo Costa esteve muito mal, ao contrário do que já nos habituou.
No estádio os adeptos sentiram que a equipa precisava de apoio e puxaram imediatamente pelos jogadores, que até estavam bem na partida antes do golo. Os dragões reagiram e continuar a empurrar os 'red devils' para o seu meio-campo, mas cerca de um quarto de hora depois, o atrevimento custou caro.
Eriksen lançou um contra-ataque venenoso, largou em Rashford e o extremo isolou Hojlund que na cara de Diogo Costa não tremeu. Estava feito o 2-0 e o ânimo nas bancadas esmoreceu consideravelmente.
No entanto o melhor estava para vir e João Mário (que esteve muito mal nos dois primeiros golos), cruzou caprichosamente para a referência Samu e o espanhol cabeceou a meias com Mazraoui para uma grande defesa de Onana. Pepê estava atento e empurrou a bola para a baliza, reacendendo a chama do Dragão, pouco depois do golo sofrido.
Empolgada pelo golo, a equipa sentiu que era possível fazer mais perante esta amostra de Manchester United e continuou a remar em direção à esperança, que surgiu novamente com o nome de Samu. João Mário redimiu-se completamente dos erros anteriores e encontrou a cabeça do avançado, que aí não deu hipótese ao guarda-redes adversário e lançou uma explosão de alegria recheada de fé, antes do intervalo.
Segundo tempo menos entusiasmante... até aos descontos
O jogo estava bom e o FC Porto sabia que tinha todos os fatores anímicos do seu lado para ir atrás da vitória, algo que não demorou a provar. Francisco Moura já tinha ameaçado com uma correria desenfreada pela esquerda, mas foi aos 50 minutos que a festa começou.
Nico lançou Pepê com um passe açucarado e o brasileiro aguentou a pressão de Lisandro Martínez para deixar Samu novamente na cara do golo, que não tremeu e finalizou de forma irrepreensível, deixando a vitória como um sonho cada vez mais real.
Mas, por estranho que pareça, o golo foi o pior que podia ter acontecido ao FC Porto. O Manchester United percebeu que tinha de dar mais e começou a controlar os destinos do jogo, empurrando os dragões para a sua baliza. É certo que foi um baixar de linhas estratégico por parte de Vítor Bruno, mas permitiu aos 'red devils' ganharem confiança e irem atrás do prejuízo.
A equipa foi caindo e muitas das vezes chutava sem nexo para a frente, na tentativa de recuperar o fôlego. Foi então que surgiu um momento que podia (e devia) ter fechado o jogo: Bruno Fernandes teve uma entrada mais intempestiva com o pé numa bola dividida, raspou na cabeça de Nehuén e acabou por ver o segundo amarelo - e consequente vermelho - deixando o relvado sob uma assobiadela monumental.
Quase no minuto seguinte, Deniz Gul isolou-se perante Onana e podia ter acabado com as esperanças britânicas, mas tremeu na cara do guardião. E, já em tempo de compensação, Maguire deu forma ao assalto inglês, subindo ao terceiro andar para marcar o golo do empate e deixando o Dragão num silêncio sepulcral.
O FC Porto perdeu a hipótese de fazer um brilharete e pagou cara as dores de crescimento que esta equipa jovem tem de ultrapassar, mas fica com o sentimento agridoce de ficar desiludida com um um empate frente ao colosso Manchester United. Não menos importante, somou o primeiro ponto na edição 2024/25 da Liga Europa e provou que pode ter um futuro risonho.
O momento-chave: O voo de Maguire calou o Dragão
Naturalmente, o momento decisivo surgiu aos 90+1 minutos, quando Maguire respondeu da melhor maneira a um canto exemplarmente cobrado por Eriksen. O defesa inglês fez uso de uma das suas maiores valências e cabeceou quase sozinho para o canto da baliza de Diogo Costa, resgatando um ponto e, quem sabe, garantindo uma nova vida para o treinador Erik ten Hag.
O melhor (Samu): Onde andava esta pérola?
Por agora já deve haver pouca gente com dúvidas do valor de Samu. O avançado começou a época no banco, por ter chegado tarde e pelo bom nível apresentado por Danny Namaso, mas quando teve oportunidade não a desperdiçou.
Forte fisicamente e incansável na luta por cada lance, o espanhol mostrou-se também um jogador rápido no ataque à profundidade. Acima de tudo, a letalidade que apresenta em frente à baliza é um caso de estudo e já são sete golos em seis jogos. Samu promete... e muito.
O pior (Erik ten Hag): Paciência inglesa está longe de dar frutos
É certo que construir uma equipa leva o seu tempo, mas a paciência que os donos do Manchester United estão a ter com Erik ten Hag nem o mais calmo dos pais conseguia ter com um filho birrento. Pensar nos muitos milhões de euros que estão investidos no plantel dos 'red devils' e relacioná-los com a qualidade de jogo coletiva e individual dos intervenientes é uma comparação que desilude bastante.
A equipa parece não ter ideias de jogo e só consegue ser feliz quando as principais estrelas estão num nível superlativo. É certo que o FC Porto não é uma equipa qualquer, mas para quem joga Premier League não se esperava que tivesse tantas dificuldades na Liga Europa.
Além disso, ninguém consegue perceber as constantes mudanças táticas e de posicionamento dos jogadores, muito menos as substituições: ao intervalo tirou Rashford que estava a ser o melhor dos ingleses (só uma lesão o justificaria) e a perder por 3-2 trocou os dois centrais da equipa. Ou é um génio incompreendido ou um flop do futebol inglês, mas a paciência dos adeptos ingleses está (cada vez mais) perto do fim.
Reações ao jogo
Vítor Bruno, treinador do FC Porto: "Estou muito orgulhoso dos jogadores, mas também faz parte do crescimento, de uma equipa que é nova, que está a agarrar-se a uma nova ideia. Têm sido bravos".
Erik ten Hag, treinador do Manchester United: "É um lugar difícil para estar, todos o sabem. Quando estás a ganhar 2-0… claro que um empate é dececionante".
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