O FC Porto pode finalmente sentir o doce sabor de uma vitória, 32 dias depois do último triunfo. Os três pontos conquistados na 5.ª feira diante do Maccabi Telavive em Belgrado permitiram a equipa azul e branca cumprir o primeiro objetivo (estar nos play-off), num jogo onde já foi possível ver o primeiro esboço do FC Porto de Martín Anselmi.

O 3-4-3 precisa ainda de muito trabalho mas, para já, salta à vista uma melhor organização defensiva. Na frente, falta arranjar argumentos para desmontar blocos baixos e linhas compactas.

FOTOS: o Macccabi Telavive-FC Porto em imagens

O novo Dragão de Anselmi

Logo no primeiro jogo já deu para ver que Martín Anselmi vai mudar a face do Dragão. Logicamente que era impossível mudar tudo em dois dias de treino, mas deu para ver, no primeiro jogo, as ideias do novo timoneiro dos azuis e brancos.

O 3-4-3 é para implementar, faltando agora ver com que jogadores e dinâmicas. Anselmi justificou na zona de entrevistas rápidas que as dinâmicas da equipa podem mudar, em função do adversário, mas a ideia-chave parece bem presente.

Eustaquio recuou para ser o terceiro central ao lado de Tiago Djaló e Otávio. A defender, o FC Porto agrupava-se numa linha de cinco, com Pepê e Fábio Vieira a juntarem-se a Alan Varela e Nico González, ficando os azuis e brancos perfilados num 5-4-1.

A defender situações de ataques rápidos, os centrais, pela sua capacidade física e velocidade, saltavam na pressão e iam aos duelos, deixando Eustaquio para as sobras. Em algumas ocasiões, quando Tiago Djaló e Otávio foram batidos, o médio canadiano teve dificuldades no um-para-um, em função da sua menor capacidade física. Um pormenor a corrigir.

A atacar, era o médio adaptado a central quem iniciava as jogadas perto de Diogo Costa, dando espaço para os dois centrais de raiz progredirem com bola quando os médios estavam marcados. Isso obrigava o Maccabi Telavive a mexer na sua estrutura defensiva: se um dos médio/defesas saísse na pressão a Otávio ou Tiago Djaló, ficava um elemento livre no ataque do FC Porto. As marcações feitas pelos israelitas permitiram várias vezes que os dois centrais do FC Porto pudessem fazer incursões no meio-campo contrário com bola, criando desequilíbrios.

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No novo sistema, há mais liberdade para os alas, como se viu com João Mário e Francisco Moura. No primeiro tempo, os dragões atacaram mais pela esquerda, pelo que Moura foi mais solicitado. No segundo tempo, e principalmente após o amarelo ao lateral/ala esquerdo, foi João Mário a assumir o protagonismo no lado contrário. Criou duas situações de golo, uma delas concretizada por Nico González e outra desperdiçada por Namaso.

Um dos problemas evidenciados no ataque, como mostram os zero remates à baliza no 1.º tempo, foi a definição de quantos médios atacava a bola quando colocada na área. Fábio Vieira andou mais em zona de construção e pouco se aventurou na frente, Nico andou 'preso' no primeiro tempo, mais preocupado com tarefas de organização e equilíbrio da equipa. Quando se soltou, marcou e levou a equipa uns metros mais para a frente. O novo esquema vai precisar de mais presença na área.

O 3-4-3 mostrou um FC Porto mais assertivo na recuperação da bola, fruto também de linhas mais juntas, com os centrais quase encostados nos médios para não deixar jogar o adversário. Só por uma vez o Maccabi Telavive bateu a defesa com uma bola nas costas, devido ao mau posicionamento de Tiago Djaló.

Ficou claro que, perante equipas que se fecham muito na sua defesa em 5-4-1, como acontece muitas vezes na nossa I Liga, o FC Porto vai precisar de jogadores capazes de desbloquear o jogo no um-contra-um, coisa que nem Pepê nem Galeno (entrou na 2.ª parte) conseguem. Há Gonçalo Borges, embora não se saiba ainda se fica, há Iván Jaime, dependendo da forma como mentalmente está no FC Porto, e vai haver William Gomes, extremo esquerdino contratado ao São Paulo, como confirmou Anselmi.

Para já está quebrado o ciclo de cinco jogos sem ganhar (quatro derrotas e um empate) e confirmado o primeiro triunfo em 2025 e um lugar nos play-off de acesso aos 'oitavos' da Liga Europa.

Os checos do Viktoria Plzen ou os italianos da AS Roma poderão ser o adversário na próxima fase. Se os Dragões passarem, haverá confronto com os italianos da Lázio ou com os espanhóis do Athletic Bilbao por um lugar nos quartos de final.

Momento-chave: Nico acaba com angústia

Ao primeiro remate enquadrado, o FC Porto marcou. A equipa estava a sentir dificuldades em criar mas, depois de João Mário ter dado um golo 'cantado' a Namaso, repetiu a proeza seis minutos depois para um cabeceamento certeiro de Nico González. O primeiro dos três remates em direção à baliza.

Os Melhores: Nico: para cima e para baixo

Muito do jogo do FC Porto passou por Nico González. No primeiro tempo pedia-se mais a sua presença na área, mas o médio espanhol andou muito amarrado na construção. No segundo tempo, na primeira vez que se soltou, colocou em prática a sua capacidade de finalização. Está um médio cada vez mais completo e pode ser importante no novo esquema tático.

Grande jogo de Stephen Eustaquio, na posição de defesa central. Era o primeiro construtor de jogo da equipa, o homem dos equilíbrios, o que garantia a subida dos centrais para pressionarem mais a frente quando a equipa não tinha bola ou que permitia as suas subidas na fase ofensiva.

A nova dinâmica da equipa permitiu a Otávio adiantar-se mais, fazendo com que o central disputasse muitos duelos mais longe da sua baliza. Como resultado, brilhou com 17 ações defensivas (oito intercepções, quatro alívios e dois desarmes, um corte decisivo) de acordo com dados do Goalpoint.

Em noite 'não': Porquê insistir em Pepê?

Começa a ser difícil justificar a aposta em Pepê. O internacional brasileiro está claramente a precisar de um tempo no banco porque em campo está a atrasar a equipa. A quantidade de vezes que decide mal quando tem bola é exasperante (oito passes falhados nos 23 tentados, 12 perdas de bola, um duelo ganho em cinco disputados). A jogar quase sempre por dentro, desperdiçou muitos ataques do FC Porto com passes errados, ora porque o gesto não era o melhor, ora porque o timing não era o melhor. Muito difícil criar algo ofensivamente quando é Pepê a decidir a jogada.

Reações:

Martin Anselmi analisa 1.ª vitória no FC Porto e confirma contratação de William Gomes

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