O Mundo do futebol deve estar a questionar-se como foi possível o 4.º colocado da I Liga de Portugal eliminar o líder da Premier League nas provas da UEFA. Aconteceu graças ao melhor Sporting da época, que voltou a ter na defesa a chave para o sucesso. 1-1 nos 120 minutos e 5-3 nas grandes penalidades.

A equipa de Amorim rubricou no Emirates uma exibição memorável para entrar nos quartos de final da Liga Europa. Sevilha, Juventus, Feyenoord, Manchester United, Union St. Gilloise, Roma e Bayer Leverkusen podem ser adversário, no sorteio desta sexta-feira.

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O Jogo: uma exibição para a história

É para emoldurar. Para colocar no Museu Sporting. Para contar aos filhos e aos netos sobre o dia em que o Sporting foi até Londres eliminar o fantástico Arsenal, líder incontestável da Premier League, com uma exibição memorável e um golo para a história da competição.

No Emirates, houve alma e coração de leão. Mas, acima de tudo, organização e valentia de Rúben Amorim que preparou uma equipa para ganhar. Os jogadores acreditaram no plano, foram corajosos e foram recompensados por um apuramento que, a partida, quase todos os críticos davam como impossível.

O sucesso do Sporting no Emirates explica-se pela forma como a equipa retirou bola ao Arsenal nos primeiros minutos, e depois como se organizou a partir do 1-0, de Xhaka. O 3-4-3 do Sporting era, na maior parte das vezes, um 5-2-3, que retirara espaço ao Arsenal para as acelerações de Martinelli. E sem espaço e com os principais desequilibradores no banco, esta equipa do Arsenal já não é assim tão temível.

Arteta viu os seus planos sofrerem alterações quando teve de fazer duas mexidas antes dos 22 minutos por lesão, ficando assim limitado no segundo tempo. O Arsenal cresceu com as entradas de Saka e Partey, mas foi sobretudo Odegaard quem realmente empurrou o Arsenal para a frente, já no prolongamento. Aí o Sporting passou um mau bocado para sair.

No Sporting, só o ataque não acompanhou a monumental exibição dos médios, defesas e guarda-redes. Trincão esteve um bocado apagado, Paulinho apareceu a espaços e Edwards não desequilibrou como se esperava e falhou um golo cantado.

Mas na defesa, tirando Esgaio que falhou no golo do Arsenal, todos brilharam. Diomande, que começou por ser caro aos olhos dos sportinguistas, candidata-se a ser uma pechincha. Rubricou uma das melhores exibições individuais do Sporting esta época e mostrou o porquê de tantos elogios de Rúben Amorim.

Os ingleses passaram também a conhecer Manuel Ugarte, próximo jogador do Sporting a mudar-se para a Premier League. Varreu tudo e mais alguma coisa no meio-campo, com a disponibilidade e entrega que lhe caraterizam.

Mas, o Homem do Jogo foi, sem dúvida, Adán. Exibição fantástica do guarda-redes espanhol, a manter o Sporting na eliminatória em momentos decisivos.

Nos penáltis, já se sabe, cai quase sempre para o  Sporting: 8.ª vitória consecutiva dos leões nas grandes penalidades, em todas as competições. A última derrota nos penáltis, de acordo com dados do Playmakerstats, foi em 2008/09, na final da Taça da Liga, frente ao Benfica.

Momento-chave 1: Pote de magia para o Mundo ver e rever

Ao contrário do habitual, escolhemos dois momentos-chave do jogo porque é impossível deixar de fora o golo de Pedro Gonçalves, que deu o empate e empurrou o Sporting para uma grande exibição no segundo tempo. É um candidato a Puskas de Melhor Golo de 2023, embora só estejamos em março (Nuno Santos tem outro candidato, marcado no último fim de semana). É um daqueles momentos que define a carreira de um jogador.

Aos 62 minutos o Sporting recuperou uma bola no seu meio-campo. O esférico chegou até Pedro 'Pote' Gonçalves que, ainda do grande círculo, fez um chapéu fantástico a Ramsdale. Foi tão fantástico que os próprios adeptos do Arsenal ficaram de boca aberta.

Momento-chave 2: Diomandé salva em cima da linha

Corria o minuto 118 do jogo, ou seja, a dois minutos do final do prolongamento, quando o Arsenal criou as duas melhores situações nos 30 minutos de tempo extra, ambos pelo central Gabriel Magalhães. No primeiro, Adán salvou o Sporting e defendeu para canto com uma fantástica defesa. Na sequência do canto, Diomande cortou em cima da linha o cabeceamento do central brasileiro que daria o 2-1 ao Arsenal.

Os Melhores: difícil destacar alguém no Sporting

Coletivamente, foi das melhores exibições do Sporting, embora o ataque não tenha acompanhado o trabalho da defesa e da zona intermédia. Mas é preciso destacar Ugarte por mais uma grande exibição, a jogar muitas vezes como quarto central. Matou muitas vezes as saídas do Arsenal, recuperou inúmeras bolas e, quase a terminar, sacrificou-se para a equipa, ao ver o segundo cartão amarelo e consequente vermelho, travando um contra-ataque perigoso após asneira de Arthur.

Diomande apresentou-se à Premier League com uma exibição de encher o olho. Quem o viu não diria que há três poucos meses jogava na Segunda Liga no Mafra. E que tem apenas 19 anos. Salvou o 2-1 do Arsenal em cima da linha aos 118 minutos, esteve fantástico no passe e na leitura das jogadas.

Adán foi, para mim, o melhor em campo. Não só pela defesa no penálti de Martinelli, mas também pela forma como defendeu a bola de Trossard aos 97, a de Gabriel Magalhães aos 117 e a de Gabriel Jesus aos 30. A sua segurança contagiou os restantes colegas da defesa para uma grande exibição.

Em noite 'não': terá Arteta substimado o Sporting?

Quem viu os onzes, diria que Arteta estava a poupar a equipa para a Premier League, pensando que, a jogar em casa, as suas escolhas seriam mais que suficientes para eliminar o Sporting. Mas com o passar dos minutos, percebeu que teria de recorrer a artilharia pesada. Do banco saíram Partey, Ben White, Odegaard, Saka e Trossard, jogadores habitualmente titulares. Desses, só Odegaard mexeu verdadeiramente com o jogo.

Claro que a equipa cresceu com tantos craques em campo mas, nesta altura o Sporting já estava confortável e confiante.

Reações:

Rúben Amorim: "O Arsenal respeitou-nos sempre muito"

Arteta: "Nos primeiros 75 minutos não estivemos ao nosso nível"

Nuno Santos: "Pedi ao Adán para ir para aquela baliza, estava confiante no quinto penálti"

Adán: "O Arsenal é possivelmente a melhor equipa que havia nesta competição"

Pedro Gonçalves: "Golo? Não sei, levantei a cabeça e vi que o guarda-redes estava um bocado adiantado. Saiu tudo perfeito"