"Mil milhões de trovões de Brest". Para os fãs de Timtim será, certamente, esta icónica frase do Capitão Haddock a primeira coisa de que se lembram quando ouvem falar de Brest. Cidade portuária da região da Bretenha, em França, Brest sempre foi, famosa, sobretudo, pelo seu porto marítimo e pelas tempestades que costumam assolar a região.

Mas, agora, há algo mais a colocar Brest no mapa: o futebol. É que, depois de muitos anos a viver na sombra de outros vizinhos mais poderosos, como o Nantes ou o Rennes, o Stade Brestois 29 conseguiu algo notável na época passada: a qualificação para a Liga dos Campeões.

E, ao fim de quatro jogos na mais importante prova europeia de clubes, segue invicto e ocupa mesmo o quarto lugar da tabela, com três vitórias e um empate, com os mesmos 10 pontos que Sporting, segundo classificado, Mónaco, terceiro, e Inter, quinto da tabela. Melhor só o Liverpool, com 12 pontos.

Esta terça-feira tem novo embate de sonho: visita o poderoso Barcelona.

Quase três quartos de século de altos e baixos...até à Champions

O Stade Brestois 29, nome completo do Brest, tem mais de 74 anos de história e surgiu da fusão de cinco equipas, crescendo rapidamente de formação regional amadora até chegar à elite do futebol francês. Contudo, em 1991 deparou-se com a falência.

Aos poucos foi-se reconstruindo, mas só em 2010/11 voltou ao convívio dos grandes. Desceu novamente em 2013 e regressou em 2018 ao escalão principal do futebol gaulês, para não mais sair até hoje. Nunca conquistou, contudo, qualquer título de relevo (conta apenas com um título da segunda divisão no seu palmarés) e na temporada 2022/23 o Brest viu-se novamente em crise e à beira da descida de divisão.

A história de recuperação começou com o técnico Éric Roy, que até terminou a carreira de jogador no rival Nice. Quando assumiu o comando técnico do Brest, em janeiro de 2023, Éric Roy estava há 11 anos sem treinar qualquer clube, tendo desempenhado outras funções ligadas ao futebol. A equipa estava em zona de descida e somava três vitórias e dez derrotas em 17 jornadas.

Mas Roy salvou o Brest da despromoção e, na temporada seguinte, surpreendeu tudo e todos ao fazer história, e de que maneira, pelo clube. Terminou a Ligue 1 na terceira posição, atrás apenas do Monaco e do campeão Paris Saint-Germain, alcançando de longe a melhor classificação de sempre do Brest (nunca tinha ficado acima do 8.º lugar) e colocando-o em algo que muitos consideravam impensável: na Liga dos Campeões (nunca tinha estado nas competições europeias).

A surpreender a Europa

E o arranque na Liga dos Campeões tem sido notável. Mesmo com o Brest a jogar longe da sua casa. O estádio do Brest, o Stade Francis-Le Blé, tem capacidade para apenas pouco mais de 15 mil espectadores e costuma estar sempre lotado, com uma taxa de ocupação a rondar os 96 por cento. Mas, construído em 1922 e alvo de uma única remodelação, há 44 anos, não cumpre os requisitos da UEFA para albergar jogos da Champions.

A solução foi pedir o estádio emprestado ao 'vizinho' Guingamp, com o Brest a disputar as suas partidas europeias no Stade du Roudourou, a 120km de distância. Nada que, para já, tenha afetado a equipa.

Nas duas jornadas iniciais da Fase de Liga, o Brest somou outras tanas vitórias. A jogar 'em casa' derrotou o Sturm Graz por 2-1 e, depois, foi à Áustria golear o RB Salzburgo por 4-0. O terceiro jogo foi contra o campeão alemão em título, Bayer Leverkusen. E pensou-se que seria um obstáculo demasiado grande. Mas, nada disso: o Brest não ganhou, mas também não perdeu. Novamente na qualidade de anfitrião, viu-se a perder, mas chegou ao empate ainda na primeira parte e manteve a igualdade até ao fim, segurando a sua invencibilidade europeia.

Uma invencibilidade que estendeu, depois, para quatro jogos, ao vencer por 2-1 em Praga o Sparta na quarta jornada. Um resultado que lhe permite ocupar um mais do que surpreendente quarto lugar na classificação da fase de liga da Liga dos Campeões, tantos como Sporting e Mónaco, no segundo e terceiro lugares, respetivamente. Só o 100 por cento vitorioso Liverpool fez melhor...

Agora, esta terça-feira, o invicto Brest vai enfrentar o seu mais desafio europeu até à data: desloca-se ao terreno do colosso Barcelona a partir das 20h00. Mas, para uma equipa que tanto tem surpreendido desde que Éric Roy assumiu o comando técnico, parece não haver impossíveis e os adeptos acreditarão certamente que a sua equipa pode voltar a surpreender. Afinal de contas, a verdade é que o Brest nunca perdeu um jogo nas provas europeias.