O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública considera que as imagens de adeptos ingleses no Porto causam mais problemas comunicacionais do que epidemiológicos, uma vez que se torna difícil pedir às pessoas para cumprirem regras.
“Não sei como agora se consegue pedir às pessoas para cumprir regras porque a pandemia não está resolvida”, disse Ricardo Mexia em declarações à agência Lusa.
A final da Liga dos Campeões, entre Manchester City e Chelsea, decorreu no Porto, no sábado, num jogo com a presença de adeptos ingleses, que durante os dias anteriores estiveram aglomerados no centro da cidade, a maioria sem cumprir as regras ditadas pela pandemia de covid-19, como o uso de máscara e o distanciamento físico.
Ricardo Mexia defende que quer com os festejos do Sporting quer com a festa da Liga dos Campeões o impacto é mais comunicacional do que epidemiológico.
“Sabemos que haverá cadeias de transmissão, mas espero que não seja de grande dimensão, na medida em que estamos a falar de pessoas que foram testadas, que acabaram por interagir entre eles e não tanto com a população e porque aconteceu principalmente ao ar livre, o que reduz o problema”, explicou.
O problema, defendeu, é que se vê um país com duas realidades, uma vez que alguns puderam reunir num estádio com 15 mil pessoas e aos clubes nacionais e a outras modalidades isso não foi permitido.
“É difícil perceber porque é que há essa diferença, porque não lhes é explicado, não é claro porque há regras para uns e não para outros”, frisou, considerando que a coerência das medidas fica colocada em causa devido a estas situações.
O especialista em saúde pública considera que do ponto de vista epidemiológico não haverá “um enorme impacto”, apesar de serem previsível algumas cadeias de transmissão que podem ser da variante indiana por haver um aumento dessa variante a circular no Reino Unido.
“Também não estamos a defender que se volte a encerrar toda a gente em casa, mas tem de haver algum cumprimento de algumas medidas para minimizar os riscos de disseminação da doença”, sustentou.
Milhares de adeptos ingleses rumaram entre quinta-feira e sábado ao Porto para assistir à final da mais importante competição de clubes de futebol, no Estádio do Dragão, numa afluência que causou uma forte presença em locais como a Ribeira, onde se registaram desacatos.
No sábado, após o final do jogo que o Chelsea venceu por 1-0 ao Manchester City, dois adeptos ingleses foram detidos pela PSP após terem agredido agentes policiais, o que fez com que um dos polícias tivesse de ser suturado na face no Hospital Santo António.
No domingo a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte aconselhou vigilância e redução de contactos nos próximos 14 dias a quem frequentou no sábado, no Porto, locais relacionados com a final da Liga dos Campeões, em futebol.
Em comunicado, a ARS Norte informou que a delegada de saúde regional do Norte “recomenda, para os próximos 14 dias, a quem frequentou algum dos locais definidos para este evento ou espaços similares, com alta probabilidade de contacto, “atenção aos sintomas da covid-19”, bem como “reduzir os contactos”, a par das demais medidas de prevenção aconselhadas desde o início da pandemia.
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