O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse hoje que o Governo “perde alguma autoridade” para defender medidas face à pandemia de covid-19, depois da aglomeração de adeptos ingleses no Porto durante a final da Liga dos Campeões.
“Eu acho que o Governo aqui perde alguma autoridade para continuar a defender algumas medidas, porque uma parte grande da população pode, depois, já não levar a sério aquilo que o Governo diz”, disse Miguel Guimarães aos jornalistas, à margem do Congresso da OM, que começou hoje em Coimbra.
O bastonário recusou, no entanto, que o Governo tenha perdido legitimidade, afirmando que “não perdeu legitimidade nenhuma, o Governo é eleito pelos portugueses e tem toda a legitimidade para o exercício” de funções.
Miguel Guimarães enfatizou que o sucedido no Porto – em que adeptos ingleses, estiveram aglomerados no centro da cidade, a maioria sem cumprir as regras sanitárias ditadas pela pandemia de covid-19, como o uso de máscara e o distanciamento físico – gera um “sentimento de injustiça” nos portugueses.
“Os clubes portugueses jogaram durante o campeonato todo sem ter pessoas nos estádios. Este jogo [a final da Liga dos Campeões, entre Manchester City e Chelsea] vem a Portugal e já há pessoas nos estádios”, notou.
“Nós continuamos no mesmo país chamado Portugal. Continuamos a fazer o nosso trabalho. Os portugueses cumprem mais, de uma forma geral, em termos daquilo que é a ação individual e coletiva, nomeadamente o uso de máscara, o distanciamento e a higiene que as pessoas no Reino Unido, sabemos que é assim”, disse Miguel Guimarães.
O bastonário dos Médicos adiantou que quem tem “responsabilidades diretas para autorizar o que aconteceu” deve “refletir a sério” sobre a situação, apelando para que os partidos políticos com assento na Assembleia da República – que definiu como aqueles que “têm capacidade e poder para influenciar decisões” – também façam essa reflexão “para, em conjunto, evitarem que uma próxima situação, uma próxima final da Liga dos Campeões, nesta fase, volte a acontecer”.
A reflexão, defendeu Miguel Guimarães, deve incidir sobre que mais-valia traz a final da Liga dos Campeões, nesta fase pandémica, ao país e que vantagens trouxe aos portugueses. "Nenhumas”, sublinhou.
“Em termos práticos, queremos este tipo de turismo já para Portugal? Numa altura crítica, numa altura em que nós estamos perto de atingir a imunidade de grupo? Em que é preciso todos nós fazermos um esforço adicional para conseguirmos que as coisas corram bem até ao fim? Vale a pena trazer alguns turistas ingleses, turistas que estão desassossegados, que arranjam sempre distúrbios, isto é conhecido a nível internacional, distúrbios até mais graves que estes, vale a pena arriscarmos?”, questionou o bastonário da Ordem dos Médicos.
Miguel Guimarães disse ainda que a comunicação “nesta fase, é absolutamente critica” e que não podem, neste momento, ser cometidos erros de comunicação.
“É o apelo que eu deixo, um bocado na senda daquilo que o senhor Presidente da República disse. Não vale a pena estarmos a martirizar a situação, o que é preciso é que não se volte a repetir e quem pode influenciar este tipo de decisões tem de estar mais atento, tem de ser mais ativo, tem de fazer aquilo que a OMS [Organização Mundial da Saúde] diz, desde sempre: antecipar o que pode acontecer e decidir”, argumentou.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.543.125 mortos no mundo, resultantes de mais de 170,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 17.025 pessoas dos 849.093 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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