Vida difícil para José Mourinho na Liga dos Campeões. O Tottenham perdeu em casa com o RB Leipzig por 1-0, na primeira-mão dos oitavos-de-final da Liga Milionária. Uma grande penalidade de Timo Werner foi o suficiente para o emblema alemão ganhar vantagem na eliminatória.

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À procura de fazer numa 'gracinha' na Liga Milionária, José Mourinho tenta passar dos oitavos de final da prova pela primeira vez desde 2014, quando o seu Chelsea foi eliminado nas meias-finais pelo Atlético Madrid (0-0 fora e 1-3 em casa). De lá para, só por uma vez o técnico voltou a entrar na fase a eliminar da prova, precisamente em 2018, quando o seu Manchester United foi eliminado nos oitavos de final da prova pelo Sevilha (0-0 fora e 1-2 em casa).

Foi um Tottenham pobre de 'fogo' ofensivo aquele que subiu ao relvado do Tottenham Hotspur Stadium, já que José Mourinho não pode contar com Harry Kane e Son Heung-Min, ambos lesionados e durante muito tempo, assim como o médio Sissoko. Por isso, Mourinho montou a equipa num 4-2-3-1, com Lucas Moura na frente, apoiado pelo português Gedson Fernandes, Dele Alli e Steven Bergwij.

O Leipzig, que ficou em primeiro no grupo do Benfica (vitória na Luz por 2-1 e empate 2-2 na Alemanha) tinha no avançado Timo Werner a sua principal arma, mas mais descaído na esquerda. O jovem técnico Julian Nagelsmann estendeu a equipa num 3-4-3, com Christopher Nkunku aberto na direita e Patrik Schick como homem mais adiantado. De recordar que esta é a primeira vez que o Leipzig está na fase a eliminar da prova milionária da UEFA. Apesar disso, Nagelsmann tinha de mexer na equipa já que não podia contar com Upamecano (castigado), Orban, Konaté e Kampl.

José Mourinho, de 57 anos, e Julian Nagelsmann, de 32
José Mourinho, de 57 anos, e Julian Nagelsmann, de 32 José Mourinho, de 57 anos, e Julian Nagelsmann, de 32 créditos: AFP

Duelo de gerações no banco

Vinte e cinco anos e uma montanha de títulos separam José Mourinho, de 57 anos, e Julian Nagelsmann, de 32. Mas há um pouco de Mourinho em Nagelsmann, que apesar de muito jovem vai somando proezas ao leme do RB Leipzig. No comando da turma alemã, o promissor técnico alemão segue os passos de Mourinho, também ele considerado, em tempos, uma jovem promessa como treinador, conquistando a sua primeira Liga dos Campeões em 2004, ao leme do FC Porto, quando tinha apenas 41 anos, depois de dar cartas num modesto União de Leiria.

Nagelsmann também começou por dar que falar ao leme de uma formação modesta, ao comandar por três temporadas (2016-2019) o Hoffenheim, que, habituado a lutar pela permanência na Bundesliga, se viu de repente envolvido na luta pelos lugares de acesso à Liga dos Campeões. E também ele foi uma 'pedra no charco' no futebol alemão e numa Bundesliga habituada à 'aristocracia' do gigante Bayern de Munique.

Mas as semelhanças ficavam por aqui num 'choque geracional' entre dois técnicos com ideias de jogo distintas.

O Leipzig de Nagelsmann é uma equipa que privilegia o ataque, que não se importa de sofrer se marcar mais, e a sua audácia é o espelho perfeito de uma equipa jovem e cheia de fulgor. Esta temporada o Leipzig já marcou 76 golos em apenas 31 jogos no conjunto de todas as competições e, na Bundesliga, apresenta uma média de 2,54 golos por jogo.

Já o Tottenham de Mourinho - que à medida que viu a carreira progredir foi dando mais e mais preponderância ao rigor tático e segurança defensiva, com um futebol mais conservador - leva uma média de apenas 1,78 golos por jogo desde que o técnico português assumiu o leme da equipa. Uma das razões pelas quais Nagelsmann sempre foi contra a alcunha de 'Baby Mourinho' que lhe chegou a ser dada quando comandava ainda as camadas jovens do Hoffenheim, em virtude da atenção que dava aos detalhes.

'Tanques' alemães a todo o vapor

Com uma entrada forte, o Leipzig empurrou o Tottenham para junto da sua baliza e criou várias oportunidades de golo nos primeiros minutos. A dinâmica e intensidade dos comandados de Nagelsmann deixavam Mourinho preocupado. Logo no primeiro minuto, Aurier evitou que Schick finalizasse.

Aos dois, Angeliño entrou na área e disparou, Lloris defendeu para o poste. No mesmo minuto o guardião francês voltou a brilhar, agora a remate de Werner: centro de Mukiele, Alderweireld a falhar e o alemão a disparar para grande defesa de Lloris.

Tottenham-Leipzig
Tottenham-Leipzig Hugo Lloris nega golo aos alemães créditos: Adrian DENNIS / AFP)

Aos poucos o Tottenham foi-se libertando do sufoco, começou a ganhar confiança e a subir no terreno. Mas só aos oito minutos deu o primeiro sinal ofensivo: Lo Celso descobriu Bergwijn, que tirou um adversário da frente e disparou, para boa defesa de Gulácsi. A bola sobrou para Dele Alli mas o inglês estava em posição irregular.

O domínio alemão era visível pela forma com se estendia no relvado. Os três centrais jogavam no meio-campo inglês, ficando apenas Gulácsi no meio-campo do Leipzig. A pressão constante permitia recuperar a bola em zonas subidas. É verdade que Mourinho prepara bem as suas equipas para aguentar essas pressões e não se importa de não ter muito a bola mas a verdade é que o Tottenham falhava, já que só não havia golo por falta de pontaria do Leipzig.

Foi o que aconteceu aos 36 minutos, quando o capitão Lloris voltou a ser chamado a intervir para negar o golo a Timo Werber pela segunda vez na noite: combinação entre Schik e Laimer, com o primeiro a deixar em Werner que disparou para defesa do francês.

Mourinho muda, Leipzig marca

José Mourinho mudou ligeiramente a disposição tática da equipa no segundo tempo, juntando Bergwijn e Lucas Moura na frente, com Gedson Fernandes e Dele Alli nas alas. A verdade é que os vice-campeões europeus entraram melhor na segunda parte. Aos 49 minutos, Gulacsi, com uma grande defesa com a luva direita, evitou o golo de Lucas Moura, após centro de Aurier.

A resposta alemã foi cria e calculista e chegou na forma de golo, aos 58 minutos. Ben Davies Davies derrubou Laimer na área, o árbitro turco Cuneyt Cakir apontou para a grande penalidade. Lloris adivinhou o lado mas foi incapaz de travar o remate de Werner.

Mourinho reagiu de pronto, trocando, Gedson Fernandes e Dele Alli por N´Dombelé e Eric Lamela, aos 65 minutos. Alli não gostou nada da substituição e fez questão de o mostrar quando chegou ao banco de suplentes. Antes dessa mudança, os dois guarda-redes tinham brilhado, aos 62 minutos: Gulacsi evitou o golo de Lo Celso com uma grande defesa; Lloris fez o mesmo na outra área a remate de Schick, numa das melhores jogadas do encontro. O lance nasce de um excelente contra-ataque, com Angeliño a centrar, Werner a simular para a bola chegar ao seu colega que foi incapaz de bater o guarda-redes francês.

O Tottenham cresceu no jogo, foi à procura de outro resultado e só não marcou aos 73 minutos por Gulacsi é um grande guarda-redes. Não é a toa que Bruno Lage pediu a sua contratação ao Benfica mas o húngaro optou por ficar na Alemanha. Na marcação de um livre, Lo Celso rematou colocado, o guarda-redes negou-lhe o golo com ajuda do poste. Excelente momento no Tottenham Hotspur Stadium.

Vendo a forma como o Leipzig já não conseguia ligar jogo e sair, Nagelsmann trocou Schick, Laimer e Nkunku por Haidara, Forsberg e Poulsen, tentando dar mais frescura a sua equipa, para voltar a ter o controlo do jogo e travar o crescimento dos londrinos no jogo.

Apesar da forte pressão e de ter mais bola, o Tottenham falhava no último terço e não conseguia colocar os homens da frente em posição de finalizar. Perigo mesmo só em lances de bola parada, como mostrou Lamela aos 86 minutos, num disparo colocado, de livre, com Gulacsi a brilhar novamente com uma defesa vistosa.

Até ao final, os londrinos não conseguiram criar perigo para sequer empatar a partida.

A derrota deixa o Tottenham numa posição frágil, já que está obrigado a vencer na Alemanha. Mas uma vitória por apenas um golo de diferença pode chegar, desde que os 'spurs' marquem mais que um golo.

Nos últimos três jogos a eliminar na Liga dos Campeões, Mourinho perdeu em casa: 2014 nas meias-finais para o Atlético Madrid quando comandava o Chelsea e em 2018 para o Sevilha, nos oitavos, quando era treinador do Manchester United.