A história é simples: rapaz de 18 anos, com um talento e uma confiança típicos "de quem transporta um aroma intenso a futebol de rua" (pode ler-se na descrição da FPF sobre o jogador), vê-se de repente a jogar na equipa principal do Benfica, ainda no segundo ano de júnior. Em poucos meses sagra-se campeão nacional, é chamado a um Europeu pela seleção do seu país e assina contrato com um dos maiores colossos europeus, a troco de 35 milhões de euros.
A fortíssima competitividade inerente a um clube como o Bayern Munique, aliada às dificuldades de adaptação à nova realidade encostaram Renato a um canto: apenas nove jogos a titular num total de 25. Acabou por ser cedido na época seguinte ao Swansea, de Inglaterra, onde também não jogou tanto quanto esperava. Regressou à Baviera no último verão, onde recebeu novo voto de confiança dos dirigentes do clube germânico, mas também do seu novo timoneiro, Niko Kovac. E Niko Kovac, depois do suspense na véspera, 'devolveu' Renato Sanches à casa de partida. Ele que já não jogava por um clube desde 27 de janeiro.
E aos 54 minutos, quando recuperou a bola na grande área do Bayern, conduziu-a numa corrida desenfreada, deixando alguns dos seus ex-companheiros para trás, e entregou-a a Franck Ribéry, antes de ele próprio aparecer no interior da área para finalizar, servido por James, o duro golpe nas aspirações de uma eventual reviravolta 'encarnada' rapidamente deu lugar a um momento de comunhão com cerca de 60 mil adeptos: o miúdo não festejou, mesmo depois de um jejum de 32 meses (em jogos oficiais de clubes), pediu desculpa ao público e foi aplaudido de pé. E assim, Renato renascia no palco onde, dois anos antes, se deu a conhecer (como não amar o futebol?).
O golo de Renato Sanches teve tanto de romântico, como de irónico, como de improvável, num jogo em que só houve mais do mesmo. Um Bayern altamente pressionante desde o início, a construir rapidamente desde zonas mais recuadas (tudo começava na dupla de centrais Hummels-Boateng), sempre à caça do erro do adversário. O Benfica, por sua vez, tentava colocar-se ao mesmo nível do hexacampeão alemão, mas mal este encontrava espaço e colocava o pé no acelerador, já não havia como disfarçar a discrepância de qualidade entre as duas equipas. Foi assim que Ribéry (10') irrompeu pelo corredor esquerdo, deixou para Alaba e viu o austríaco cruzar para a finalização superior de Lewandowski.
André Almeida e Grimaldo desesperavam sempre que a bola ia parar aos pés de Ribéry e Robben - os dois obrigaram Vlachodimos a aplicar-se mais do que uma vez - e, no lado contrário, raramente o Benfica conseguia assustar Neuer, face à pressão agressiva dos bávaros para recuperar o esférico rapidamente. Só quando o Bayern tirou ritmo ao jogo, a equipa de Rui Vitória reorganizou-se e cresceu. O primeiro remate na partida dos 'encarnados' chegou os 22′, com Salvio a rematar por cima, antes de, aos 28′, servido por Pizzi, atirar no interior da área para grande defesa de Neuer.
A magra vantagem do Bayern ao intervalo dava às 'águias' margem para acreditar - o segundo tempo até começou com a equipa da casa mais subida no terreno -, mas a esperança esfumou-se com o golo de Renato Sanches (54'). Um golo que condenava o Benfica à oitava derrota consecutiva na Champions (fora as pré-eliminatórias), mas cujo impacto acabou por ser suavizado pela reacção do miúdo da Musgueira, a enternecer um estádio inteiro.
Depois do 2-0, Rui Vitória tirou de campo Pizzi e Salvio, duas das peças mais preponderantes na época até ao momento, para lançar Gabriel e Rafa. O reforço brasileiro ainda tentou incomodar Neuer mais do que uma vez, mas sem sucesso. Por esta altura, era o Benfica quem tinha mais bola, consequência de o Bayern ter reduzido o ritmo do jogo. Ainda assim, houve tempo para Vlachodimos levar a melhor sobre Robben, uma vez mais. O Benfica sai derrotado da estreia na Champions sem a sensação de asfixia que muitos esperavam, e até com o mesmo número de remates do seu adversário (14), mas com a certeza da inferioridade qualitativa do seu plantel.
Os melhores
Renato Sanches: No jogo de estreia pelo Bayern esta época, mostrou uma energia inesgotável diante da antiga equipa, a fazer lembrar outros tempos. A forma como iniciou e concluiu a jogada do 2-0 mostra isso mesmo.
Vlachodimos: Garantiu, com um punhado de defesas, que a equipa se mantivesse na discussão do resultado durante a primeira parte. Sem culpa nos dois golos sofridos.
Os piores
André Almeida: Não conseguiu impor-se a Ribéry - basta recordar o lance do primeiro golo - e mostrou pouca assertividade nos momentos ofensivos. E o jogo em Munique ainda está para vir...
Reações
Rui Vitória: "Perdemos o jogo mas não perdemos a nossa identidade"
Niko Kovac: "Renato é um jogador excelente"
Gabriel e a estreia na Champions: "Vou guardar esta partida para sempre"
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