21 jogos, 18 derrotas e 13 empates e nenhuma vitóroia em Inglaterra. Dificilmente o FC Porto iria quebrar a malapata em terras de Sua Majestade com o rico e poderoso Manchester City. Andou lá perto, é certo, mas nisto do futebol, a balança continua a pender sempre para o mais poderoso, em quase todas as situações. Se em campo os 'dragões' equilibraram as coisas, o desequilíbrio apareceu na qualidade individual dos citizens e nas decisões da arbitragem liderada pelo lituano Andris Treimanis, perdido em campo e com uma dualidade de critérios difícil de perceber, e ainda da ajuda que não teve do VAR, onde esteve o letão Aleksandrs Golubevs. A primeira parte foi do FC Porto, a segunda do City e, no final, a eficácia fez a diferença. Terceiro jogo consecutivo sem vencer do FC Porto e entrada com o pé esquerdo na Liga dos Campeões. Mas houve sinais animadores.
Tão iguais e tão diferentes: um 3-5-2 que é novidade em Conceição
Poucas equipas conseguem explorar o jogo pelo corredor central como o Manchester City. As contantes mexidas dos jogadores dessa zona, com os extremos a jogarem por dentro, com o recuo dos avançados que se juntam aos médios e a profundidade a ser explorada pelos laterais, a equipa de Guardiola usa da paciência e dessas nuances táticas para quebrar as defensivas contrárias. É verdade que é uma equipa menos efetiva em relação ao passado mas continua a ser uma equipa à Pep Guardiola, com jogadores que desequilibram quando o coletivo não está tão bem.
O 3-5-2 que Sérgio Conceição experimentou pela primeira vez tinha essa missão: povoar a zona intermédia, roubar espaço e não deixar o City entrar por aí. Na pressão defensiva a equipa desdobrava-se em 5-4-1, apenas com Marega entre os três defesas do City. Com isto, permitia roubar a bola e sair em contra-ataque, com as subidas rápidas dos alas Zaidu e Corona, ajudados por Uribe, o médio que se soltava mais na hora de subir e Luis Diaz, sempre pelo lado esquerdo.
Dessa pressão nasceu o golaço de Luis Diaz: perda de bola de Rúben Dias e cavalgada de 40 metros para um golaço do colombiano. Ninguém teve pernas para o acompanhar. Onze anos e 630 minutos depois, o FC Porto voltava a festejar um golo em Inglaterra. O último golo tinha sido apontado por Mariano Diaz, no empate 2-2 nesta mesma cidade com o rival do City, o United, na primeira-mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. No Dragão, Ronaldo resolveu à bomba.
Dessa pressão constante poderia ter resultado o segundo golo mas Uribe precipitou-se e rematou de primeira, quando tinha boas opções. Frente a equipas deste calibre, ou se mete todas as bolas lá dentro quando elas aparecem ou...o preço sairá caro. E saiu.
A forma como o FC Porto tinha manietado o City saltava à vista. No primeiro tempo, os vice-campeões ingleses fizeram apenas três remates (contra cinco do adversário) e só um deles enquadrado com a baliza: o tal penalti contestado pelo FC Porto que Aguero converteu.
Depois chegaram dois golos de rajada (Gundogan, de livre, e Ferran Torres, em jogada individual) a equipa passou de 3-5-2 para 4-3-3 e depois para 4-4-2 mas já não era a mesma. Havia falta de frescura física e psicológica, deixou de haver tanto espaço para explorar em contra-ataque. Espaço esse que surgiu do lado da defensiva azul-e-branca, com o City a criar mais duas situações claras de golo.
Na retina ficam os bons 60 minutos do FC Porto, principalmente os primeiros 45, muitos bons a nível de organização defensiva. E ainda a estreia de seis seis jogadores do FC Porto na Liga dos Campeões: Zaidu e Fábio Vieira e quatro dos cinco lançados por Conceição no segundo tempo: Taremi, Nanu, Evanilson e Nakajima.
Um dado que deve preocupar Sérgio Conceição: o FC Porto sofreu nove golos nos cinco jogos oficiais disputados esta época. Só não sofreu no Bessa frente ao Boavista. O comportamento defensivo da equipa tem de ser revisto.
Ao 21.º encontro em Inglaterra, o FC Porto continua sem vencer. São 18 derrotas, três empates, 11 golos marcados e 54 golos sofridos.
Momento-chave: duplo erro do VAR e árbitro e... empate
O City estava 'preso' na 'teia' montada pelo FC Porto e não conseguia espaço para penetrar na defensiva portuguesa. Até que conseguiu, aos 17 minutos, num lance de ressaltos. Gundogan disputou a bola com Marchesin e pisou o guardião argentino, a bola continuou e Pepe, sem necessidade, também pisou Sterling, derrubando o inglês. Dos dois pisões, o árbitro só viu o de Pepe. Ainda esteve à conversa com o VAR mas este foi incapaz de alertar o juiz Andris Treimanis da falta do alemão sobre o guardião portista. Aguero não tremeu e empatou, de grande penalidade. Um golo que chegou cinco minutos depois de o City estar em desvantagem.
Os melhores: um 'muro' chamado Mbemba
Mbemba terá feito dos melhores jogos ao serviço do FC Porto. Muito seguro, a ganhar a bola muitas vezes em antecipação, ainda teve 'atrevimento' para sair a jogar nalgumas situações. Intransponível. Zaidu, que já tinha 'secado Mahrez num jogo entre as seleções da Nigéria e Argélia, voltou a fazer o mesmo. E ainda teve tempo para se aventurar no ataque. Marchesin, com boas intervenções, evitou a goleada.
Os Piores: Arbitragem sem pergaminhos para a Champions
O lituano Andris Treimanis foi o pior em campo. O árbitro do encontro falhou no penalti que deu o empate ao City (e aí teve a cumplicidade do VAR que não o ajudou). Teve uma dualidade de critérios difícil de entender. Na falta que resulta no 2-1 do City, Fábio Vieira parece jogar primeiro a bola; há um empurrão de Cancelo nas costas de Pepe dentro da área inglesa que deixou passar. E poupou Rodri a um segundo amarelo num lance onde o espanhol agarrou Fábio Vieira quando este ia para o contra-ataque.
Reações: Dragões queixam-se da arbitragem
Bernardo Silva e a vitória sobre o FC Porto: "Esta soube tão bem"
Conceição: "Depois do que vi hoje, peço desculpa a todos os árbitros e VAR de Portugal"
Pepe: "O City tem jogadores muitos bons, não precisava tanto destas ajudas"
City: Rúben Dias lamenta erros no golo portista, Cancelo queixa-se da arbitragem
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