Se marcar quatro golos num jogo de Champions e não ganhar já é de si frustrante, fazer quatro ao Barcelona e ainda perder deve doer ainda mais. Os benfiquistas devem estar a perguntar como perderam diante dos catalãs, num jogo que estavam a ganhar por 4-2 aos 77 minutos.
A vontade de ganhar traiu o Benfica, que agora terá de buscar o apuramento para o play-off de acesso aos 'oitavos' diante da Juventus em Turim, na próxima semana, no último jogo da fase regular.
FOTOS: O Benfica-Barcelona em imagens
O Jogo: aguenta, coração!
Entre o 'mais vale um pássaro na mão que dois a voar' e o 'quem não arrisca, não petisca', o Benfica escolheu o segundo ditado, foi à procura da felicidade no meio da loucura e acabou traído pela própria ambição.
Raphinha foi o último louco dos loucos, com aquela corrida desenfreada pela direita, o cortar para dentro sobre Carreras, o único com pernas para o acompanhar aos 90+6. A classe do brasileiro definiu o desfecho de um dos melhores jogos do ano, com nove golos, três penáltis, um autogolo e dois golos muito bizarros.
As trovoadas que ecoaram nos céus de Lisboa no segundo tempo era o anúncio do que ainda estava para vir. Eram os deus do futebol a prepararem uma partida aos adeptos do desporto-rei.
A loucura começou com a primeira explosão de alegria no Estádio da Luz, com mais de 60 benfiquistas a fazerem a festa nas bancadas, quando Pavlidis mostrou-lhes que afinal tem faro de golo e abriu o atrivo, aos dois minutos.
O golo foi o reflexo da forma como Bruno Lage preparou o jogo. Sabendo que o Barcelona ia jogar com a defesa muito subida, para tentar a armadilha do fora de jogo, era importante explorar o corredor contrário ao da bola, esperar pelo timing certo para o passe mas também para a desmarcação. O resto seria solucionado pela capacidade técnica dos atletas.
Sem bola, a equipa recuava porque é impossível pressionar o Barcelona em campo inteiro. A linha defensiva média ajudava a juntar muitos homens na zona central, para tentar retirar espaço aos culés e assim impedir o seu jogo entrelinhas pelos médios Pedri, Gavi e ainda Raphinha a pisar esses terrenos em várias ocasiões, tal como Lewandowski, que recuava para ligar jogo.
Com bola, era preciso tirar partido da velocidade de Schjelderup e de Akturkoglu, e também da chegada de um dos médios. Houve oportunidades para marcar mais, por Aursnes (duas vezes) e Di Maria.
Perante um Barcelona que está muito permeável na defesa, era também importante aproveitar alguma desorganização como fez Pavlidis nos 2-1 e no 3-1, a tirar partido de dois erros defensivos do guardião Szczęsny, e Schjelderup no autogolo de Ronald Araújo.
Pelo meio Lewandowski tinha descontado numa grande penalidade e Raphinha tinha marcado um dos golos mais caricatos da carreira, sem saber como, num Barcelona que também tinha desperdiçado algumas oportunidades.
O 4-2 que perdurou até aos 78 minutos e a forma como o Benfica estava a conseguir impedir o Barcelona de criar oportunidades deixavam antever mais uma noite mágica na Luz. A equipa não tinha bola, é certo (acabou apenas com 25% de posse de bola), mas estava a tapar todos os caminhos para a sua baliza. O Barcelona, que refrescou o meio-campo e apostou mais unidades ofensivas, foi empurrando os encarnados para cada vez mais perto da sua área na procura da felicidade à chuva.
O penálti muito discutível sobre Yamal, novamente convertido por Lewandowski aos 78 minutos(4-3), ajudou a equipa a acreditar. O 4-4 de Eric Garcia aos 86 já era de si um resultado bom para o Barça, até Raphinha conseguir algo que já nem Flick acreditava: vitória e apuramento direto (18 pontos) para os oitavos de final, a uma jornada do fim.
Balde de água fria na terça-feira chuvosa da Luz numa noite muito frustrante para a nação benfiquista. Marcar quatro golos ao Barcelona e perder... dói muito. Foi a primeira vez na história da Champions que uma equipa marcou quatro golos em casa e perdeu.
Agora é preciso ir buscar o apuramento para o play-off de acesso aos 'oitavos' diante da Juventus em Turim na próxima semana. Os encarnados são 18.º, com 10 pontos. Os oito primeiros apuram-se diretamente para os 'oitavos', os emblemas que terminem entre o 9.º e o 24.º posto disputam um play-off entre si para se encontrar os restantes oito apurados.
Polémica: árbitro Danny Makkelie perdido em campo
Arbitragem sofrível de Danny Makkelie e os seus pares que viajaram dos Países Baixos. Os benfiquistas protestaram e muito o último golo catalão, reclamando grande penalidade sobre Leandro Barreiro na área encarnada. O luxemburguês parece ter sido empurrado quando ia rematar. Nem Makkelie nem o VAR Rob Dieperink viram falta.
Mas se não marca o empurrão sobre Leandro Barreiro, então não podia marcar o penálti de Carreras sobre Lamine Yamal, num lance onde não há contacto suficiente para derrubar o prodígio culé.
O penálti sobre Akturkoglu também deixa muitas dúvidas: há um ligeiro contacto na perna esquerda do turco mas parece que é mais o jogador do Benfica quem procura o contacto com a perna do guardião polaco Szczęsny.
Momento-chave: Di Maria virou a cara à felicidade
Num jogo de nove golos, três penáltis, um autoglo, dois golos caricatos e outras incidências, fica difícil escolher o Momento-chave. Mas o lance de Di Maria que podia ter dado o 5-4 para o Benfica aos 90 minutos, deixará marcas. Isolado e com tanto tempo, o argentino rematou contra as pernas de Szczęsny.
Os Melhores: Afinal Pavlidis tem golo
Vangelis Pavlidis vinha a ser contestado no Benfica, pelos seus números em termos de golos marcados (7 em 29 jogos). O grego aproveitou para calar os críticos com um hat-trick histórico, num jogo onde soube estar no sítio certo. Fez três golos em 30 minutos, marcando assim o terceiro hat-trick mais rápido da história (o mais rápido são os três golos de Lewandowski em 23 minutos pelo Bayern Munique).
Lewandowski evidenciou-se no lado culé pela frieza na concretização das duas grandes penalidades e pelo grande passe para o 5-4. Raphinha voltou a Portugal para mostrar muito do que aprendeu por cá. O primeiro tempo não lhe saiu bem, mas no segundo tempo abriu o livro, com dois golos e pormenores que explicam o porquê de estar a fazer a melhor época da carreira. Foi eleito MVP do jogo.
Álvaro Carreras terá feito uma das melhores exibições desde que chegou ao Benfica. A tarefa de travar Lamine Yamal era enorme, mas o lateral esquerdo do Benfica, formado no Real Madrid, aproveitou para dar-se a conhecer na Europa, com uma fantástica exibição a defender e a atacar. 'Secou' o prodígio 'culé' e quem mais que apareceu pelo seu lado e ainda foi lá a frente desequilibrar.
Em noite 'não': Era suposto guardarem as redes, Trubin e Szczęsny!
Incrível a atuação dos dois guarda-redes na Luz, em especial Szczęsny. No penálti sobre Akturkoglu fica a ideia que pouco nada podia fazer para evitar o contacto, embora tenha tido oportunidade para sair mais cedo da baliza. No 2-1 do Benfica, sai da área, falha a bola e dá um pontapé no colega de equipa, deixando Pavlidis com a baliza aberta para marcar. Teve ainda outros lances de tremedeira, difíceis de aceitar para alguém com tanta experiência.
Trubin não teve muito trabalho (negou um golo 'cantado' a Gavi), mas ficará ligado ao jogo pela forma como 'ofereceu' o terceiro golo ao Barcelona. Ao tentar meter o esférico em jogo com um pontapé longo, teve a pontaria de acertar na cabeça de Raphinha, fora da área, de tal forma que a bola regressou para a sua baliza. Um dos lances mais caricatos do ano. Nos outros quatro golos, pouco ou nada podia fazer.
Reações
Lage: "Erro tremendo do árbitro, todos os especialistas nacionais dão penálti"
Raphinha: "Feliz por regressar, Portugal foi a minha segunda casa"
As reações dos jogadores do Benfica após a derrota dececionante frente ao Barcelona
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