Mais golo, menos golo, ninguém coloca em causa a superioridade do Bayern Munique diante do Benfica, na 4.ª jornada do Grupo E da Liga dos Campeões. Os bávaros fizeram cinco golos mas podiam ter marcado mais diante de um Benfica a atravessar um mau período.
Nos últimos sete jogos, os Encarnados só venceram dois, sendo que um deles com golo aos 98 minutos (Vizela) e outro apenas no prolongamento (Trofense, para a Taça de Portugal). Duas derrotas com o Bayern Munique e outro com o Portimonense em casa e ainda os empates com Estoril e Vitória de Guimarães completam o mau momento da equipa de Jorge Jesus.
Positivo o facto de ter feito dois golos ao Bayern na Alemanha pela primeira vez e de ser o primeiro a marcar aos bávaros esta época na prova milionária. Jogo com o Barcelona no dia 23 de novembro em Camp Nou será decisivo para as aspirações do Benfica na prova.
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O jogo: eles vinham de todos os lados
Os 4-0 da Luz, feitos pelo Bayern nos últimos 20 minutos, dissipou as dúvidas sobre o desfecho do jogo em Munique. Se é verdade que no futebol tudo pode acontecer, a verdade é que muitos benfiquistas apenas pediam que não acontecesse nova goleada. A diferença de qualidade entre as duas equipas é bem notória, o ritmo e a intensidade acabam por separar ainda mais bávaros e Encarnados. Assumindo que a derrota seria algo certo, faltava acertar nos números. Para se ter uma ideia, o Bayern Munique já leva 70 golos marcados em 17 jogos esta época, a uma média impressionante de 4,11 golos por partida.
E não se trata de nenhum exercício para menosprezar o Benfica. O próprio Jorge Jesus assumiu a diferença entre as duas equipas nas duas conferências de antevisão dos jogos. E voltou a assumir o mesmo na escolha do onze, poupando Otamendi, Rafa e Weigl (e ainda Darwin), jogadores que podiam falhar o jogo com o Barcelona se vissem amarelos diante dos alemães.
Ganhar ao Bayern Munique atual é uma tarefa hercúlea. O Borussia Monchengladbach mostrou que é possível e com goleada (5-0 na Taça da Alemanha), mas fora da Alemanha, só o PGS bateu o campeão alemão, nos quartos da Champions na época 2020/21. Em 2019/2020, nenhuma equipa venceu os bávaros na Europa e em 2018/2019, apenas o Liverpool alcançou tal feito. De resto, o normal é ser-se goleado pelo Bayern Munique, principalmente no Allianz Arena.
Aqui e ali, o Bayern vai perdendo algum jogo da Bundesliga, mas sempre com adversários que consigam igualar a sua intensidade. Depois, o resto decide-se em detalhes e na desinspiração das estrelas bávaras. Analisando toda a equipa, percebe-se que o sector defensivo não dá tantas garantias, apesar de haver Neuer na baliza.
O Benfica tinha explorado isso na Luz, com vários saídas perigosas que não deram golo por pouco. E, esta terça-feira, voltou a mostrar algumas fragilidades da equipa alemã em lances de bola parada defensiva e também na proteção das costas da defesa. Foi assim que Morato fez o primeiro do Benfica, nas alturas; foi assim que Lucas Veríssimo fez o que podia ser o 1-0, mal anulado pelo VAR (até prova em contrário, Pizzi está em jogo). Se Yaremchuk tivesse levantado a cabeça aos 36 minutos como fez João Mário no golo de Darwin aos 74 , teria isolado Pizzi. O Benfica voltou a ter as suas oportunidades e desta vez até foi mais eficaz.
A estratégia de Jesus de pressionar alto foi demasiado arriscada e o Bayern tratou de mostrar isso mesmo. Com a intensidade e velocidade colocados no jogo, os bávaros encontraram sempre espaços entre os sectores, havia sempre formas de colocar a bola entrelinhas. O resto seria feito pela qualidade individual dos jogadores.
O Bayern encontrou 'ouro' no lado esquerdo do Benfica, explorando as debilidades de Grimaldo a defender e a pouca ajuda de Everton. Coman, Gnabry e Sané desciam por ali, Lewandowski fazia movimentos para essa zona. Dali nasceu o 1-0, de Lewandowski, o 2-0, de Gnabry, de calcanhar, e um punhado de oportunidades no primeiro tempo. Grimaldo merecia outro apoio.
Pela esquerda, pela direita, curto, longo, eles vinham de todos os lados. E os golos aconteciam, sem o Benfica saber como para-los. Porque eles não sabem parar. É 'pancada' atrás de 'pancada'. Sané no 3-1, numa bela jogada aos 49, Lewadowski intratável no 4-1, de pura classe aos 61, o mesmo Lewa no 5-1 assistido, imagine-se, pelo guardião Neuer, aos 84.
A goleada não apresenta outros números porque Lewandowski foi displicente na marcação de uma grande penalidade no primeiro tempo e Odysseas Vlachodimos voltou a ter uma bela noite europeia, com muitas defesas decisivas. Defendeu sete dos 12 remates enquadrados pelo Bayern.
O Benfica terá no dia 23 de novembro a sua 'final' nesta Champions em Camp Nou: vencendo o Barça, fica com um pé e meio nos oitavos de final (Barça tem seis pontos, Benfica tem quatro); empatando, fica a rezar pela derrota dos culés na visita ao Bayern e a ter de vencer o Dinamo Kiev; perdendo, diz a adeus a Champions.
Momento-chave: E se o Benfica tem marcado primeiro?
Difícil escolher qual terá sido o momento-chave no jogo. É que o Bayern nunca deu sinais de fraqueza durante todo encontro, tal a superioridade exibida em campo. Mas o golo mal anulado a Lucas Veríssimo logo nos primeiros minutos e que colocaria o Benfica em vantagem, poderia mexer mentalmente com os alemães e deixar o Benfica mais confortável no jogo.
Os Melhores: A classe de Lewandowski diante do resistente Odysseas
Fez três golos, deu uma assistência e foi o Homem do Jogo, mesmo tendo falhado uma grande penalidade. Robert Lewandowski transpira classe por todos os lados e raramente vacila à frente da baliza. A forma como fez o 4-1 e o 5-2 é exemplo da quantidade e qualidade dos recursos ao seu dispor.
Se o Benfica só sofreu cinco golos, muito se deve a inspiração de Odysseas Vlachodimos. O grego defendeu a grande penalidade de Lewandowski e negou ainda outros tentos, numa noite onde merecia mais proteção por parte dos colegas.
Em 'noite não': A estratégia de Jorge Jesus
Jorge Jesus manteve a equipa num 3-4-3, embora estivesse mais parecida com um 3-5-2, com Pizzi a fechar mais no meio em várias ocasiões. O técnico quis pressionar os bávaros longe da sua área, tal como fez na Luz mas a equipa acabou por abrir e deixar muito espaço entre os sectores.
Pedia-se um Benfica mais compacto, à espera do adversário mais atrás, com linhas mais juntas e, se calhar, uma defesa mais baixa para não permitir ao Bayern Munique as bolas nas costas da defesa como tanto gosta. Os bávaros encontraram sempre espaço entrelinhas, e as diagonais tanto para fora como para dentro dos avançados baralhou as marcações e abriu muitas clareiras na defensiva Encarnada. Grimaldo sofreu muito na esquerda com a falta de cobertura.
Um exemplo da desorganização defensiva do Benfica é o 5.º golo do Bayern, que nasce de um pontapé longo de Neuer. Os jogadores do Benfica não subiram em bloco e isso foi suficiente para deixar Lewandowski em jogo.
Reações:
Julian Nagelsmann: "Hoje foi divertido. Fizemos um grande jogo"
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