O Cristo Redentor, monumento mais conhecido do Brasil, apagou as luzes nesta segunda-feira em solidariedade com o futebolista Vinícius Júnior, vítima de racismo no último domingo durante um jogo contra o Valência pela Liga da Espanha.
Num comunicado, o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor informou que “repudia os ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro Vinícius Júnior nesse domingo, 21 de maio, durante jogo entre Real Madrid e Valência.”
“Por isso, nesta segunda-feira, das 18:00 às 19:00 [horário de Brasília], o monumento ao Cristo Redentor está com a iluminação desligada como símbolo da luta coletiva contra o racismo e em solidariedade ao jogador e a todos os que sofrem preconceito no mundo inteiro”, acrescentou.
“Preto e imponente. O Cristo Redentor ficou assim há pouco. Uma ação de solidariedade que me emociona. Mas quero, sobretudo, inspirar e trazer mais luz à nossa luta. Agradeço demais toda a corrente de carinho e apoio que recebi nos últimos meses”, escreveu Vinícius Júnior na rede social Twitter.
“Tanto no Brasil quanto mundo afora. Sei exatamente quem é quem. Contem comigo porque os bons são maioria e não vou desistir. Tenho um propósito na vida e, se eu tiver que sofrer mais e mais para que futuras gerações não passem por situações parecidas, estou pronto e preparado”, acrescentou.
Depois da repercussão negativa do caso que ganhou holofotes no mundo todo, o Governo espanhol assegurou que não haverá "qualquer cobertura" para casos de racismo como aquele de que Vinícius Júnior foi alvo.
"Estes incidentes são intoleráveis e absolutamente condenáveis, não apenas no espaço desportivo como num país como Espanha, terra de acolhimento e que faz da diversidade a sua bandeira. A xenofobia demonstrada por alguns energúmenos envergonha-nos como sociedade", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, numa conferência de imprensa em Bruxelas.
As declarações de Albares surgiram depois de o Governo do Brasil ter divulgado um comunicado sobre o caso de Vinícius Júnior em que "lamenta profundamente que, até ao momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo”.
No mesmo comunicado, dos ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade Racial, da Justiça e Segurança Pública, do Desporto e dos Direitos Humanos, o governo brasileiro “insta as autoridades governamentais e desportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos" e "apela, igualmente, à FIFA, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”.
O novo ataque racista cometido contra Vinícius Júnior por adeptos dentro de estádios da Espanha já havia sido condenado pelo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em declarações a jornalistas à margem da cúpula do G7, na cidade japonesa de Hiroxima, no domingo.
“Não é justo que um jovem pobre que venceu na vida e está se tornando um dos melhores jogadores de futebol sofra esse tipo de ataque”, declarou Lula da Silva, que destacou que “não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta do futebol estádios".
Depois da repercussão do caso, que inicialmente foi tratado como incidente isolado embora imagens mostrem dezenas de torcedores chamando o futebolista brasileiro, que é negro, de macaco antes mesmo do jogo começar em Valência tenham sido divulgadas por alguns ‘media’, a justiça espanhola anunciou a abertura de uma investigação sobre o caso.
Nos últimos meses, o futebolista Vinícius Júnior, de 22 anos, tem sido alvo de vários insultos racistas e, no final de janeiro, o jogador foi o protagonista de um episódio que levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a enviar uma carta às entidades que regem o futebol (FIFA, UEFA e Conmebol) a solicitar medidas concretas para punir os comportamentos racistas e aumentar a consciencialização sobre o tema.
No Estádio Mestalla, em Valência, Vinícius, que acabou expulso depois de agredir um adversário, no final do encontro (90+7), que os ‘merengues’ perderam por 1-0, criticou a Liga espanhola e os adeptos com uma mensagem publicada nas redes sociais.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira. O racismo é normal na LaLiga. A competição acha que é normal, a federação acha que é normal e os adversários encorajam-no. Lamento-o. O campeonato que já pertenceu a Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje pertence aos racistas", escreveu o futebolista no Twitter.
O Real Madrid também já informou ter apresentado uma queixa na Procuradoria-Geral “por delitos de ódio e discriminação” para com o internacional 'canarinho'.
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