A alteração de sistema tático e a aquisição de futebolistas experientes significaram “momentos decisivos” no inédito título de campeão equatoriano do Independiente del Valle, guiado pelo treinador português Renato Paiva.

“O primeiro momento foi após a segunda derrota, quando alterei de ‘4-3-3’ para ‘3-5-2’ e, depois, para ‘3-4-3’. Se não faço isso, já estaria em Portugal. O ‘4-3-3’ não iria funcionar com estes jogadores, daí os dois desaires e os cinco golos sofridos em desequilíbrios e contra-ataques. Depois, no mercado de verão, em julho, trazer cinco atletas experientes para uma equipa com muito jovens”, enquadrou à agência Lusa o técnico, de 51 anos.

Fundados em 1963, os ‘negriazul’ venceram a Liga do Equador a 12 de dezembro, ao empatar 1-1 na visita ao estádio do Emelec, segundo clube mais titulado, com 14 cetros, menos dois face ao Barcelona, na segunda mão da final, após o triunfo caseiro por 3-1.

“Disse aos diretores que, para chegar às decisões, tínhamos de ter jogadores habituados a jogar finais e jogos grandes. Por isso, precisávamos de contratar, porque só os miúdos não chegavam. Trouxemos cinco jogadores, incluindo o Jonathan Bauman, que já era o melhor marcador da prova [terminou com 26 golos]. Gente habituada a ser campeã no Equador e a jogar no estrangeiro, que deu mais qualidade e equilíbrio ao plantel”, notou.

O Independiente del Valle alcançou pela segunda vez a final do campeonato, graças ao primeiro lugar na segunda fase, com 34 pontos, em 15 jornadas, para defrontar o seu ‘carrasco’ na decisão de 2013, que tinha dominado a fase inicial com idêntico registo.

“Na penúltima jornada, recebemos o Emelec e vencemos 3-2. Podia ter sido por cinco ou seis, não fosse a falta de eficácia. A partir daí, começámos a sentir alguma superioridade no nosso jogo em relação ao rival. Agora, claro que é um grande clube e nada tem a ver com o Independiente, que é um bocado o Sporting de Braga do Equador e está muito atrás de LDU Quito, Barcelona e Emelec em história, orçamento e adeptos”, lembrou.

Os pupilos de Renato Paiva chegaram à final numa “super forma individual e coletiva” e adiantaram-se no duelo de Sangolquí, com dois golos de Junior Sornoza, aos 22 e 53 minutos, de penálti, e um do argentino Jonatan Bauman, aos 74, enquanto o uruguaio Sebastián Rodríguez marcou, também de grande penalidade, para o Emelec, aos 90+9.

Uma semana depois, em Guaiaquil, o argentino Richard Schunke marcou logo aos oito minutos, ampliando a vantagem dos ‘negriazul’ no agregado das duas mãos, que jamais seria beliscada pelo golo do empate dos ‘eléctricos’, autoria de Dixon Arroyo, aos 45+8.

“O 3-1 deixou a final em aberto e levou-nos para um estádio do género do Bessa, com 50.000 pessoas em cima. Um ambiente brutal e absolutamente extraordinário. Não se calaram um minuto, mesmo quando marcámos primeiro. Preparámos muito os jogadores para esse ambiente, que os tais experientes que contratámos já conheciam”, descreveu.

O jogo no Estádio George Capwell foi disputado “debaixo de um dilúvio e dentro de uma piscina”, levando Renato Piava a acreditar na sua interrupção ao intervalo, em contraste com as intenções da organização, que viu a segunda parte começar após longo atraso.

“Ao ver aquelas condições, disse aos jogadores: ‘meus amigos, esqueçam tudo o que trabalhámos. O adversário também vai esquecer tudo o que trabalhou e só nos poderá fazer mal de uma maneira, que é despejar bolas para a área. Por isso, controlo individual dos adversários na área e da profundidade e cuidado com as bolas paradas’”, partilhou.

Os dois golos surgiram através de pontapés de cantos e o Emelec ainda viu Sebastián Rodríguez atirar da marca de penálti para defesa de Moisés Ramirez, aos 35 minutos, mesmo que o iminente êxito do Independiente del Valle fosse uma “questão de tempo”.

“Ao longo destes dias, a palavra que mais ouvi, e que as pessoas fazem questão de dizer em português, foi obrigado. Os adeptos falam muitas vezes com lágrimas na cara e aí percebes a dimensão daquilo que conseguiste. Quando alguém na vida te agradece, é porque fizeste algo bem. Não há dúvida de que hoje vou com mais dificuldade ao centro comercial ou ao restaurante, porque andava aqui tranquilamente no início”, reconheceu.

Grato pela “confiança e coragem” dos dirigentes num técnico “com pouca experiência a nível profissional”, Renato Paiva, que saiu em dezembro de 2020 do Benfica B, festejou com as bandeiras de Portugal e Equador e uma camisola com a fotografia do falecido Jaime Graça, antiga ‘glória’ e coordenador técnico das ‘águias’, a quem dedicou o título.

“O ser humano deve ter é memória e agradecimento. Foi a pessoa que me lançou como treinador em 2006, nos sub-14, após ter sido dois anos adjunto do Bruno Lage. Abriu-me as portas de um sonho. Foi um caminho de 16 anos em todos os escalões e com orgulho digo que não o defraudei. Devo-lhe o que sou hoje e tudo o que fizer no futebol é por e para ele”, concluiu o albicastrense, na base do quarto cetro da história do Independiente del Valle, após a Taça Sul-Americana (2019), a II Divisão (2009) e a III Divisão (2007).

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