O Mundo está em constante evolução e o futebol não passa ao lado desse crescimento. A própria forma de prospeção (ou 'scouting') já não passa só por observar os jogadores, mas também pela análise extensiva de dados que ajudam a compreender a verdadeira essência do atleta e o que ele pode acrescentar às equipas que o contratam.
Nesse sentido, Ricardo Oliveira inscreveu-se no Football Analytics Hackathon, que é uma competição internacional de 'scouting', na qual arrecadou o primeiro lugar entre 425 participantes, na prova realizada na Hungria. O trabalho consistia em detetar duas necessidades de reforço para um clube da Premier League, que neste caso foi o Wolverhampton, e sugerir dois reforços com um orçamento máximo de 60 milhões de euros, que depois teria de ser justificado.
"Criámos um algoritmo que analisa a 'big data', que são alguns dos principais indicadores relativos às ações do jogador em campo, e conseguimos identificar quais são as melhores opções para determinados clubes. O que pode ser o ideal para o clube A, pode não servir para o clube B", começou por explicar o responsável pela área de 'scouting' da Lapa Football Management (LFM).
Esta é a empresa onde Ricardo Oliveira trabalha, que é uma agência portuguesa de representação e gestão de carreiras, focada também na alta performance, análise de jogo e rendimento, criada pelo antigo 'performance coach' João Lapa. O trabalho desenvolvido na LFM serviu como base para as escolhas do vencedor do concurso que, com apenas 15 milhões, teve a melhor proposta indicando Hayden Hackney, médio do Middlesbrough, e Kévin Denkey, avançado do Cercle Brugge.
"O que explicámos no relatório final é que o Wolves precisava de um médio que desse à equipa capacidade de ter posse de bola, algo que perderam desde a saída do Rúben Neves, uma vez que os médios existentes são mais de transporte. Além disso percebemos que os avançados disponíveis (Matheus Cunha e Hwang) eram muito idênticos, sendo jogadores muito móveis, e por isso precisávamos de algo diferente que se ajustasse à equipa. Nesse sentido escolhemos o Denkey, que além de ter essa capacidade ainda consegue ser uma referência na área e trazer algo mais ao jogo da equipa", revelou.
No entanto, o futebol é muito mais do que números e estatística e não é uma ciência exata. Ricardo Oliveira alertou para a importância do contexto para onde o jogador vai, que é tão ou mais importante do que a análise anterior, que se baseia num algoritmo personalizado às necessidades de cada clube. "Identificar o jogador certo é o principal desafio, mas há inúmera variáveis que depois determinam se tem sucesso ou não e aí já está fora das nossas mãos", completa, deixando ainda uma adenda. "Por muito boa que seja a análise, nada substitui o passo seguinte que está relacionado com ver o jogador ao vivo. Isto e perceber o perfil psicológico, a forma como reage ao golo sofrido e até como fala com o árbitro é essencial para analisar a possível contratação".
Uma das principais preocupações deste tipo de trabalho é a forma como se entrega a mensagem. Sendo um trabalho muito analítico e como no futebol os intervenientes não têm muito tempo, é preciso que a comunicação seja clara e passe todas as informações que os clubes precisam. "Se o presidente de determinado clube me der um minuto para explicar a minha proposta, o objetivo é que nesse minuto lhe passe informação de qualidade para ele me querer ouvir mais tempo".
A conquista deste prémio também é uma grande forma de valorização do trabalho realizado na Lapa Football Management, uma vez que atesta "um carimbo de qualidade" que na profissão de agente de futebol, muitas vezes pode ser posta em causa. Com esta proposta de trabalho, a empresa pretende trazer algo "diferenciador" e acredita que este tipo de análise de dados é "o presente e o futuro".
Se os números não dizem tudo, são uma grande base de análise. E, neste tipo de profissão onde reina a incerteza, é importante tomar decisões o mais informadas possíveis para evitar erros que podem custar muitos milhões de euros.
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