Considerado por muitos um dos maiores guarda-redes de sempre, Gordon Banks morreu esta terça-feira, aos 81 anos, mas há muito que já tinha conquistado a eternidade. Não pelo título mundial de 1966, mas por uma defesa que fez numa partida, em que a sua equipa até perdeu. "Não vão lembrar-se de mim por ter sido campeão do mundo, mas sim pela defesa que fiz ao remate de Pelé", chegou a dizer o antigo internacional inglês, numa entrevista ao 'The Guardian'.
Recorde a "defesa do século"
Enquanto jovem, além de jogar, Gordon Banks trabalhava nas minas de Sheffield, tentando ajudar a família, que sofria com a austera Inglaterra do pós-guerra. Atingida a idade, cumpriu o serviço militar na Alemanha, onde continuou a jogar futebol e conheceu a sua esposa Ursula.
Acabou por regressar a Inglaterra, onde iniciou a carreira no Chesterfield, mas foi com a camisola do Leicester que chegou em 1963 à seleção de Inglaterra - teve a sua primeira internacionalização nesse mesmo ano, frente à Escócia. Por altura do Mundial de 1966, disputado em casa, já era titular indiscutível na equipa dos 'Três Leões', tendo alinhado em todos os jogos da competição, nomeadamente na meia-final em que a Inglaterra eliminou Portugal (2-1, golos de Bobby Charlton e Eusébio).
Antes do jogo com os 'Magriços', Gordon Banks fez com que o selecionador inglês voltasse para trás para comprar pastilhas elásticas, que depois colava nas luvas de forma a melhorar a aderência. E a verdade é que até ao golo de Eusébio, de grande penalidade, o guarda-redes tinha estado 721 minutos sem sofrer golos pela seleção inglesa, um registo que permanece até aos dias de hoje. Nunca esqueceu o momento em que foi batido pelo 'Pantera Negra'.
"Na altura fiquei extremamente desapontado porque estava orgulhoso de ainda não ter sofrido qualquer golo até ali. O Eusébio deve ter percebido isso, porque nem sequer festejou. No final do jogo apertou a minha mão e desejou-nos boa sorte para a final", recordou o antigo internacional inglês, aquando da morte do mítico goleador.
Quatro dias depois, com Banks a ser batido por duas vezes, a Inglaterra era finalmente campeã do mundo, batendo na final a Alemanha por 4-2, em Wembley. Mas a subida ao Olimpo desportivo só chegou quatro anos depois.
A célebre defesa
Depois do título de 1966, a Inglaterra chegava ao Mundial seguinte como uma das grandes favoritas. A seu lado na fase de grupos estava, no entanto, um super Brasil. Logo aos dez minutos, Jairzinho cruzou a bola para a cabeça de Pelé, que a enviou com selo de golo. O próprio avançado brasileiro chegou a gritar "golo!", mas eis que Banks esticou-se, num movimento digno de um contorcionista de circo, e depois de bater no chão, afastou a bola com a mão direita, perante a incredibilidade de todos.
"Quando me levantei, o Pelé veio ter comigo e deu-me uma palmada nas costas. ‘Pensava que era golo’, disse. ‘Tu e eu’, respondi. As imagens do jogo mostram-me a rir quando vou para o meu lugar, antes deles [o Brasil] baterem o pontapé de canto. Estava a rir-me do que o Bobby Moore tinha-me acabado de dizer: ‘Estás a ficar velho Banksy, costumavas agarrá-las", recordou Banks, numa das incontáveis entrevistas que concedeu sobre aquela que ainda hoje é apontada como "a defesa do século".
A Inglaterra acabaria por perder 1-0 (golo de Jairzinho), mas para a história ficou o momento em que um dos melhores guarda-redes de sempre travou, de forma inacreditável, o melhor goleador de sempre. Devido ao nome - Banks significa literalmente "bancos" em inglês - era considerado seguro como os bancos de Inglaterra, ficando para sempre célebre a frase "safe as the banks of England".
Gordon Banks somou 73 internacionalizações pela seleção inglesa, tendo sofrido 57 golos, e alinhou grande parte da sua carreira pelo Stoke City. Foi considerado por seis vezes o melhor guarda-redes do ano pela FIFA, entre 1966 e 1971, bem como o segundo melhor guarda-redes do século XX pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, ficando apenas atrás do russo Lev Yashin.
Em 15 anos de carreira, Banks partiu quatro vezes os dedos das mãos e fraturou o pulso da mão direita, mas foi um acidente de carro em 1972, quando representava o Stoke City, a ditar o fim do percurso ao mais alto nível, depois de perder parte da visão. Na altura, tinha 34 anos. Em 1977 ainda regressou ao futebol, para disputar duas temporadas ao serviço dos Fort Lauderdale Strikes, dos Estados Unidos, e dos irlandeses do St. Patricks.
Já depois de deixar os relvados, Gordon Banks tentou a carreira de treinador no Telford United, no início da década de 1980, mas acabou por desistir logo após o seu despedimento.
Futebol inglês homenageia o 'seu' herói
O Stoke City e o Leicester fizeram questão de prestar homenagens ao seu antigo guarda-redes, assim como a Federação Inglesa e a FIFA. Mas não foram os únicos.
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