Os clubes de futebol chineses atravessam uma crise financeira que resultou já na falência do atual campeão, o Jiangsu Suning, expondo a insustentabilidade dos gastos que nos últimos anos abalaram o mercado de transferências.
Poucas épocas depois de Alex Teixeira, Hulk, Carlos Tévez ou Ricardo Goular terem rumado à China, em contratações avaliadas em dezenas de milhões de euros e beneficiando de salários sem precedentes, vários clubes da liga chinesa estão agora falidos e com pagamentos em atraso.
Esta semana, o campeão chinês Jiangsu anunciou nas redes sociais que vai encerrar as operações, após o grupo Suning, especializado em retalho de eletrodomésticos, ter deixado de financiar o clube.
Segundo a imprensa local, o Jiangsu, que nos últimos anos contou com os brasileiros Alex Teixeira e Ramires e foi treinado pelo italiano Fabio Capello, está agora à venda por um yuan (cerca de 14 cêntimos), mas quem comprar o clube assume uma dívida superior a 60 milhões de euros, só na primeira temporada.
Os clubes chineses nunca foram sustentáveis, mas as grandes empresas do país, desde o ramo imobiliário à gestão portuária, suportaram durante muitos anos o orçamento das equipas, coincidindo com o desejo do governo chinês de converter o país numa potência futebolística.
No entanto, os excessos dos últimos anos mereceram o reparo das autoridades, que impuseram um teto salarial de 3 milhões de euros e passaram a taxar a 100% as contratações de futebolistas estrangeiros acima de 5,5 milhões de euros.
"Isto é, claramente, uma mensagem política. (...) Era uma sangria que tinham que fazer: acabar com contratos desmesurados", afirmou à Lusa Pedro Neto, empresário português que desde 2011 negoceia a transferência de jogadores para o país asiático, incluindo o ponta-de-lança Tiquinho Soares, do FC Porto para o Tianjin Teda, e o do avançado Cédric Bakambu, do Villarreal para o Beijing Guoan.
O empresário está confiante, no entanto, que os clubes chineses vão voltar à carga no futuro e manterem-se como referência no mercado de transferências, mas sem repetir as "excentricidades" das últimas épocas.
"Vão voltar a ser um mercado importante, entre os mercados periféricos, ao nível da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos ou Qatar", diz Neto, estimando que os clubes chineses voltem a pagar salários entre três e cinco milhões de euros por ano, mas longe dos excessos das últimas épocas.
Em 2016, por exemplo, o argentino Carlos Tévez tornou-se o futebolista mais bem pago do mundo, ao assinar um contrato de dois anos e 80 milhões de euros pelos chineses do Shanghai Shenhua.
No ano passado, também o Tianjin Quanjian, por onde passaram os brasileiros Pato e Luís Fabiano e o belga Axel Witsel, desapareceu depois de cortar relações com o seu patrocinador.
Este ano, muitas equipas sobreviveram graças a investimentos estatais e na segunda e terceira divisões, mais de uma dezena de equipas foram desclassificadas por não cumprirem com as exigências financeiras.
"As contratações avultadas foram uma forma de a China entrar no mapa. Hoje, estamos a falar do futebol na China, porque desde 2014 houve investimento e um esforço, não só dos clubes, como da federação", explicou Pedro Neto.
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