14 de junho de 2013. A Líbia batia o Togo por 2-0 no Estádio 11 de Junho, em Tripoli. Os 40 mil adeptos líbios que assistiram ao vivo ao encontro não o sabiam na altura, mas aquela seria seria a última vez que a sua seleção jogaria no país. Até esta quinta-feira.
Aquando desse jogo, a Líbia já estava em guerra. Uma guerra que começou em 2011, quando Muammar Khadafi foi deposto e assassinado ao fim de 40 anos de poder, em plena 'Primavera Árabe', com os grupos que se tinham unido para derrubar o ditador a começarem a combater entre si. O conflito armado escalou, com diferentes países a apoiarem cada uma das fações, perante os interesses despertados pelas reservas de petróleo existentes na Líbia, e com o Estado Islâmico a entrar também em cena em 2015.
A FIFA não teve outra alternativa. Logo em 2011 proibiu a Líbia de acolher jogos internacionais no seu território, obrigando a seleção local a atuar em países vizinhos, como o Egito, a Tunísia, Mali ou Marrocos. Um breve período de paz, em 2013, levou ao levantamento dessa restrição e permitiu a realização do referido encontro com o Togo. Um jogo que até estava previsto para ser realizado em Benghazi. Porém, uns dias antes a cidade foi palco de violentos conflitos armados que causaram a morte de 30 pessoas e o encontro foi transferido para Tripoli, tendo alguns jogadores do Togo, como Alaixys Romao e Jonathan Ayité, recusado viajar até à Líbia.
Com o agravar da situação, a FIFA voltou a proibir a realização de jogos no país, que deveria até acolher a Taça de África das Nações em 2013 e o Campeonato de África das Nações de 2014. As duas competições acabariam por ser realizadas na África do Sul e, curiosamente, a Líbia até venceu a segunda. A Primeira Liga Líbia foi, entretanto, interrompida várias vezes ao longo da década e só três edições chegaram ao fim. A Líbia viu o seu futebol estagnar, ao mesmo tempo que os países vizinhos iam garantindo apuramentos para as fases finais de Campeonatos do Mundo.
Um raio de luz de esperança
Mas agora, em 2021, quando a Líbia comemora dez anos da revolução que provocou a queda de Khadafi, surge um raio de luz de esperança. A 23 de outubro do ano passado, foi assinado um acordo de cessar-fogo permanente em todas as áreas da Líbia, encerrando oficialmente a guerra e em março deste ano foi formado um governo de transição que deve permanecer no poder até às eleições gerais, marcadas para dezembro. A Primeira Liga da Líbia, que não era disputada desde abril de 2019, voltou em janeiro de 2021 e, no final de fevereiro, a notícia que os amantes do futebol na Líbia esperavam: O presidente da federação, Abdulhakim Al-Shalmani, publicou um vídeo no qual, com um sorriso no rosto, comunicava que todas as restrições tinham sido levantadas.
E, assim, quase sete anos depois, a seleção da Líbia vai poder voltar a jogar em casa, ainda que sem o apoio dos seus adeptos, face às contingências ditadas pela pandemia da COVID-19. E logo num jogo crucial para as suas aspirações de ainda chegar à fase final da próxima Taça de África das Nações. Em Benghazi, os líbios, com apenas três pontos e no último lugar do seu grupo, recebem a Tunísia, que já leva dez pontos.
Al Musrati entre os convocados de...Filipović
E serão pelo menos duas as ligações ao futebol português. É que o atual selecionador líbio é Zoran Filipović, antigo jogador de Benfica e Boavista e antigo treinador do Salgueiros, entre outros, e em campo vai estar Mutassim Al Musrati, que tão boa conta de si tem dado esta temporada no Sporting de Braga.
O jogo é decisivo mas, mesmo que a Líbia acabe por não se qualificar para a CAN, os líbios já têm motivos para estar satisfeitos.
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