Numa sociedade em que o futebol e a política andam cada vez mais de mãos dadas, os jogadores da Palestina e de Israel têm aproveitado o palco desportivo para fazer com que as suas mensagens sejam ouvidas por todo o mundo.
Embora os jogos da seleção israelita e palestiniana tenham terminado em empates, diante da Suíça e do Líbano, respetivamente, o que se retirou das partidas vai para além do futebol.
Eli Dasa, capitão da seleção de Israel, aproveitou a conferência de imprensa de antevisão do jogo, de quarta-feira, frente à seleção helvética para mostrar uma chuteira que pertencia a uma criança que foi sequestrada no Kibutz de Be’eri, em outubro, pelo Hamas.
"Isto foi tudo o que sobrou da casa dele", revelou o lateral-direito.
A partida frente à Suíça foi realizada na Hungria devido à guerra, mas a presença e, principalmente, a mensagem dos adeptos israelitas fez-se ouvir. Durante o sétimo minuto do jogo, a fazer referência ao ataque do Hamas a 7 de outubro que levou ao reinício da guerra frente a Israel, foram levantados cartazes com os rostos das vítimas e reféns israelitas.
Já a seleção palestiniana voltou aos relvados, esta quinta-feira, pela primeira vez desde o início do conflito, frente ao Líbano, a contar para a fase de qualificação asiática do Mundial’2026.
FOTOS: As melhores imagens do Líbano-Palestina
Antes do encontro, também os 22 jogadores da seleção da Palestina exibiram fotos das vítimas, na sua maioria crianças, dos confrontos na Faixa de Gaza contra Israel. A equipa palestiniana entrou em campo a usar keffiyeh, lenço que se tornou símbolo da solidariedade internacional com o seu povo.
Contudo, as manifestações sobre o conflito não se cingem às duas seleções envolvidas e já chegaram também à América do Sul.
No jogo de domingo, do Boca Juniors frente ao Newell’s Old Boys para o campeonato argentino, o narrador judeu, Hernán Feler, iniciou a transmissão do encontro relembrando que o Hamas tem 239 reféns israelitas, 22 dos quais argentinos e que entre eles está a sua tia Ofelia.
Também no Chile, a partida entre o Palestino, um dos clubes com maior comunidade palestiniana fora dos países árabes, contra o Ñublense ficou marcado pelo protesto de ambas as equipas que se ajoelharam durante o apito inicial da partida.
Há semelhança do que aconteceu na guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Na altura, a Europa também se manifestou. Ainda em outubro, o governo britânico criticou a Federação de Inglaterra por não ter iluminado o estádio de Wembley com as cores israelitas, como tinha acontecido, em 2022, com as cores da bandeira ucraniana.
A federação inglesa preferiu não se manifestar, chegando até a proibir bandeiras de outros países no encontro amigável frente à Austrália, a 13 de outubro. Têm sido várias as marchas organizadas em Londres por manifestantes pró-Palestina, contando com centenas de milhares de pessoas nas ruas da capital britânica.
Já a UEFA foi perentória. O organismo europeu decretou, a 17 de outubro, um minuto de silêncio apenas pelas vítimas israelitas. "A UEFA confirmou que será cumprido um minuto de silêncio em todos os jogos de qualificação do UEFA Euro’2024 esta noite, em memória de todos os membros da família do futebol europeu que perderam a vida nos últimos dias na Europa e em Israel", pode se ler no comunicado publicado no seu site.
Esta decisão gerou muita controvérsia. Kevin Garside, correspondente desportivo do 'iSport', foi uma das vozes da revolta. "Silêncio por Israel, mas não por Gaza? Talvez devêssemos ficar pelo futebol", escreveu o jornalista no site.
Na Europa, os jogadores que têm expressado a sua solidariedade para com os palestinianos em Gaza têm sido fortemente criticados. Anwar El Ghazi, neerlandês de origem marroquina, foi despedido do Mainz, depois de se colocar ao lado da Palestina.
O jogador escreveu "Do rio ao mar, a Palestina será livre" nas suas redes sociais, entendido por alguns como apelo à destruição de Israel e por outros como apelo à igualdade de direitos entre palestinianos e israelitas.
El Ghazi, que estava sem clube, fora contratado em 22 de setembro pelo Mainz e jogou 51 minutos, em três jogos da Bundesliga.
O marroquino Youcef Atal foi afastado pelo Nice e, depois, castigado pela Liga Francesa de futebol com sete jogos de suspensão, após ter feito uma publicação pró-Palestina a seguir aos ataques do Hamas em Israel que fizeram milhares de mortos.
Mazraoui, do Bayern Munique, foi colocado treinar à margem do plantel, depois de mostrar solidariedade para com o povo da Palestina nas redes sociais. Viria mais tarde, após reunir-se com a direção do clube, a pedir desculpas pela sua publicação e a ser reintegrado nos trabalhos.
Karim Benzema, outro jogador muçulmano que se colocou ao lado da Palestina, foi acusado pelo Ministro do Interior de França de pertencer a Irmandade Muçulmana, uma organização considerada como sendo terrorista por alguns países ocidentais.
A guerra que reiniciou há mais de um mês não parece ter um fim à vista, mas também as manifestações no mundo do futebol não parecem terminar tão cedo, afinal, já dizia Arrigo Sachi, "o futebol é a coisa mais importante, das menos importantes".
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